São Paulo, quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros

Descanse em paz, profeta molusco

XICO SÁ
COLUNISTA DA FOLHA

Por mais que a patota da objetividade deseje, não existe futebol sem superstição, sem alguma força estranha no ar. Com a morte do polvo Paul, perdemos o mais divertido personagem místico desde o Sobrenatural de Almeida do cronista Nelson Rodrigues (1912-1980).
Um profeta animal que morre com 100% de acerto, único caso do gênero desde que os soldados chineses, 2.500 anos a.C., chutaram um crânio inimigo e inventaram o esporte das multidões -ou teriam sido os Maias? Há controvérsias históricas.
Representante do sagrado em uma Copa do Mundo repleta de musas profanas -louve-se a paraguaia Larissa Riquelme-, Paul desafiou até os rituais selvagens d'África e impôs seus palpites certeiros um atrás do outro. No sobe e desce no aquário de Oberhausen, na Alemanha, divertiu adultos e crianças.
O polvo Paul foi capaz de desconstruir, na Copa, o velho chavão do futebol como caixinha de surpresa. Com ele, o imprevisto foi para o espaço, deixando o meu estimado corvo Edgar, ave agourenta e secadora, morto de inveja.
O futebol carece desse tipo de fantasia, que o desloca do eixo de esquemas e estatísticas. Descanse em paz, profeta molusco.


Texto Anterior: Foco: Paul, o polvo adivinho, maior astro da Copa da África, morre na Alemanha
Próximo Texto: Copa- 2018: Inglaterra reclama da Rússia
Índice | Comunicar Erros



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.