São Paulo, domingo, 27 de dezembro de 2009

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PAULO VINICIUS COELHO

A Copa sem drible


Votos da maioria dos técnicos das principais seleções mostram que eles preferem a praticidade à fantasia

DUNGA NÃO votou em Messi e, na escolha do melhor do mundo da Fifa, foi além: não citou o craque do Barcelona nem em primeiro, nem em segundo, nem em terceiro lugar. O melhor jogador da atualidade é, para ele, Fernando Torres, do Liverpool, com Lampard, em segundo, Drogba, em terceiro.
À parte cada treinador ser proibido de votar em atletas de sua própria seleção -Dunga não poderia escolher Kaká ou Ronaldinho Gaúcho-, o prêmio da Fifa escancara a alma futebolística de cada eleitor.
Você quer saber como Dunga deseja ver a seleção na Copa da África? Pois ele deseja um time objetivo como Fernando Torres, prático como Lampard, decisivo como Drogba.
O drible não vestirá amarelo no Mundial, em parte porque Robinho e Ronaldinho não são hoje o que foram no passado recente, em parte porque Dunga prefere o estilo de Fernando Torres ao de Messi.
O dia mais divertido dos últimos anos tem sido o da divulgação do melhor do mundo para a Fifa.
Não pela festa chata, mas porque minutos depois da divulgação do craque da temporada, a Fifa publica em seu site a relação dos técnicos e capitães que compuseram o colégio eleitoral, com seus respectivos votos. A lista permite uma radiografia não apenas do cérebro de Dunga, mas de alguns dos mais importantes personagens do futebol mundial.
Em 2004, Felipão era técnico de Portugal e, portanto, tinha permissão para votar em jogadores brasileiros. Apesar disso, não ajudou a eleger Ronaldinho Gaúcho. Sua justificativa, na época, para apontar John Terry: "Ronaldinho já estava eleito". Três anos mais tarde, todo mundo sabia que Kaká ganharia o prêmio, Felipão também, e mesmo assim cravou o nome do brasileiro como o melhor do mundo.
A festa de 2009 mostrou que Kaká perdeu prestígio entre os treinadores mais conceituados. Quem o colocou no topo foi Carlos Alberto Parreira, da África do Sul, e uma legião inexpressiva: Filipinas, Líbano, Irã, Equador, Egito, Antígua e Botsuana são algumas das seleções cujos treinadores preferem Kaká a Messi.
Ano passado, Dunga votou em Cristiano Ronaldo, com Fernando Torres em segundo e o russo Arshavin em terceiro. Em 2007, sem poder votar em Kaká, escolheu o italiano Pirlo, com Drogba em segundo, Cristiano Ronaldo em terceiro. Este ano, não se encantou com Messi.
Mas sua forma de pensar não é particular. Ao contrário, a maior parte dos técnicos das principais seleções do planeta se alinham com Dunga. Seus votos indicam que preferem a praticidade à fantasia.
Fabio Capello, da Inglaterra, elegeu Messi, mas omitiu Cristiano Ronaldo -escolheu Fernando Torres e Buffon. O francês Domenech deixou de lado Messi e Cristiano Ronaldo -sua lista teve Drogba, Buffon e Rooney. O alemão Joachim Löw escolheu Xavi, Messi e Kaká. Cristiano Ronaldo ficou de fora.
Resta Diego Maradona o último símbolo do futebol-fantasia, certo?
Claro que não. Sem autorização para escolher Messi, Diego poderia eleger Cristiano Ronaldo. Não fez isso.
Seu melhor do mundo é Drogba, o segundo é Wayne Rooney, o terceiro Ibrahimovic. Na Copa de 2010, para os técnicos, o gol fará mais sucesso do que o drible.

pvc@uol.com.br


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