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FUTEBOL
O fracasso ensina
TOSTÃO
COLUNISTA DA FOLHA
Nas derrotas, desde a época em que jogava, detesto as
críticas simplificadas e geralmente injustas de que faltou raça e
que o time jogou de "salto alto". O
que mais faltou contra o Paraguai foi técnica e tática. Mas foi
evidente a apatia dos atletas num
momento tão importante. Ou seria cansaço por causa dos jogos
seguidos e da falta de férias após a
longa temporada de 2003?
Desconfio que o Brasil começou
a perder o jogo na excessiva comemoração após a vitória sobre o
Chile e no comportamento no dia
seguinte. Mais que um desabafo
por ganhar com um a menos, os
jogadores acharam que o time já
estava classificado.
Os atletas desprezaram o Paraguai, uma seleção sem um único
jogador famoso, que tinha perdido para o Brasil por 3 a 0 na primeira fase e que não atuava em
casa. Há ainda um preconceito
dos brasileiros que não acreditam
na qualidade das coisas que são
feitas no Paraguai. Esse sentimento pode se transferir para o
esporte. A imprensa e a torcida
brasileira, me incluindo, também
achavam que seria fácil.
Criticar agora os jovens pelas
brincadeiras fora de campo durante o Pré-Olímpico é bobagem.
Querem castrar o bom humor dos
garotos. Eles fizeram tudo o que
os outros atletas fazem, em todas
as épocas. Ao condenar as brincadeiras, acho que o Zagallo se referia à falta de concentração e à
apatia do último jogo.
Mas tive a impressão ou intuição antes do Pré-Olímpico de que
Robinho e Diego se comportavam
fora de campo, diante das câmeras da televisão e nas entrevistas,
como craques consagrados e experientes, que iriam reforçar um
time de garotos.
Por causa desse fracasso, não se
pode dizer que a maioria desses
garotos não é excelente e que não
terá ótimo futuro. Alguns vão brilhar na seleção principal. Todos
os atletas e qualquer profissional
já tiveram péssimos momentos
em suas carreiras. Na Copa de 66,
o Brasil teve uma atuação péssima e apática e foi eliminado na
primeira fase. Desejei nunca mais
ser atleta. Ainda bem que mudei
de opinião.
Todos esses jovens terão de melhorar. Diego corre demais com a
bola, cava faltas, cai e faz muito
teatro. Craque joga em pé. Já falei
isso várias vezes.
Prometo também que essa é a
última vez que falo do posicionamento do Robinho. Como Robinho não tem características de armador e a posição de ponta-esquerda não existe na prancheta
dos técnicos, decidiram que ele é
atacante. Ele não deveria atuar
em nenhuma dessas posições,
mas nas três. Para aproveitar sua
leveza e velocidade, Robinho deveria iniciar as jogadas mais de
trás, aparecer na frente, principalmente pela ponta esquerda,
onde pode driblar para os dois lados, passar ou finalizar.
Em qualquer equipe, são os jogadores, e não o técnico, os principais responsáveis pelas vitórias e
derrotas. Há exceções. Algumas
vezes, o técnico é o craque do jogo.
Outras, ele é importante na derrota. Todos os jogadores e Ricardo Gomes são igualmente responsáveis pelo fracasso no Chile.
Desde a primeira partida, Ricardo Gomes foi muito confuso.
Do meio-campo para a frente, experimentou todos os desenhos táticos e não acertou. Contra o Paraguai, retirou o centroavante e
colocou um zagueiro improvisado na lateral direita, sem habilidade e conhecimento da posição.
Era óbvio que o Paraguai iria
recuar após o gol, que a seleção
brasileira pressionaria, que muitas bolas cruzariam a área e que
seria importante boas jogadas pelas laterais e a presença de um
centroavante. Foi assim que a Argentina virou contra o Paraguai.
Ricardo Gomes é um técnico sério e estudioso, que parece entender bastante de esquemas táticos,
mas não soube usá-los no momento certo. Ele me lembra um
grande professor de medicina que
sabia todos os detalhes de todas
as doenças, mas era confuso diante do doente. Ele entendia muito
de doença, e não de doente.
Ricardo Gomes passou a impressão de que sabe muito de futebol, mas pouco do jogo. Talvez
tenha sido só um momento ruim,
como ocorre com todos os atletas
e com qualquer profissional.
Espero que o jovem técnico e os
jovens jogadores aprendam muito com essa derrota e se tornem
excepcionais profissionais. Já citei
essa frase outras vezes, mas como
ela é sábia e bela, não resisti em
repeti-la. Prometo que será a última vez. "Perder é uma forma de
aprender. E ganhar, uma forma
de esquecer o que se aprendeu"
(Carlos Drummond de Andrade).
E-mail
tostao.folha@uol.com.br
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