São Paulo, sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

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XICO SÁ

Vivos x mortos


Nenhum técnico do Psiu! poderia medir se havia mais silêncio no cemitério ou entre corintianos


AMIGO TORCEDOR, amigo secador, atravessava ali a Consolação, um pouco mais de meia noite, quando me deparei com um bando de loucos em um silêncio tão cerimonioso que cheguei a eriçar os raros pêlos que restam na fronte do artista.
Estávamos colados ao cemitério. Nenhum técnico da Lei do Psiu! seria capaz de medir onde havia menos barulho: se na rua tomada pelo cortejo dos vivos ou se do outro lado da muralha, na paz de quem não sofre mais com essas pequenas obsessões terrenas.
Envolvido com os pecados de Augustas, Angélicas e Consolações, perdi o jogo. Depois de velho, amigo, troco, sem culpa, meio sorriso de uma moça que não me dá bola por todas as peladas completas das nossas floridas várzeas.
Não vi a peleja tampouco sabia o placar. Gosto de adivinhar o resultado pelo comportamento dos torcedores nas ruas. De cara, chutei 1 a 0 para o Corinthians, enquanto protegia a linda e elegante afilhada de Balzac dos olhares da massa faminta.
A ninguém perguntei o escore, nem mesmo aos garçons do Sujinho, onde triunfei sobre uma bistecossaura e cassileiros de tantos diablos engarrafados.
Sim, 1 a 0, contra um tal de Tolima, era o que minimamente tabulava no cocoruto. O bando de loucos queria mais, a garantia em casa para viajar à Colômbia como quem vai a uma excursão domingo em Aparecida.
Qual o quê, compadre, deu-se um 0 a 0 digno do silêncio da rua contra a paz dos mortos. Até a luazinha de néon da fachada da Tia Olga, ali nos mesmos arredores, minguou de vez naquela noite.
Já fui melhor na leitura de rostos na massa. Lembro que ficava no Riviera, a clássica esquina da Paulista com a Consolação, apostando cerveja depois que os fanáticos deixavam o Pacaembu.
Yes, my brother Charles, existem várias maneiras de ver o futiba. O jogo é nada diante do reflexo dele mesmo nas ruas, botequins e lares. O jogo é apenas uma abstração que carece de súmulas oficiais e malditos pontos de vistas dos cavaleiros das mesas redondas. Mas vai recitar essa teoria babaca para um corintiano de verdade, inviável cronista! Vai nessa e depois me conta o que rola no telecatch do lado de fora do cemitério.
O 0 a 0 entre os vivos e os mortos ficará apenas como exemplo. É óbvio que o time do Fenômeno não sofre duas humilhações seguidas. Te cuida, Tolima. E faça-se luz de novo na luazinha crescente da Tia Olga!

xico.folha@uol.com.br

@xicosa


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