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na infância
FPF quer prender até crianças a clubes
Entidade cria torneios de garotos de 8 a 13 anos para estabelecer vínculo com times, que poderão lucrar com eles
Clubes pregam que deve haver uma proteção contra assédio de outros times e empresários a revelações,
o que começa ainda cedo
RODRIGO MATTOS
DA REPORTAGEM LOCAL
Pelo Estatuto da Criança e do
Adolescente, norma para proteger menores no Brasil, são
considerados crianças aqueles
que têm até 12 anos incompletos. Segundo esse critério, pela
primeira vez neste ano, a Federação Paulista de Futebol e alguns clubes do Estado criaram
um mecanismo cujo objetivo é
lucrar sobre crianças.
São os campeonatos paulistas sub-11 e sub-13, instituídos
pela entidade em janeiro e que
devem começar em maio. Seu
objetivo é estabelecer um vínculo entre clubes e crianças a
partir de oito anos.
Com isso, os times poderiam
ter remunerações como clubes
formadores caso os garotos decidissem deixá-los. Por enquanto, não há sustentação na
legislação brasileira, nem nas
leis da Fifa, para obtenção de
ganhos pela formação de menores de 12 anos. Mas a FPF
criou o campeonato pensando
em mudar essa realidade.
"[O campeonato] é umas das
provas para caracterizar o vínculo com os atletas. Não tínhamos isso", explicou o presidente da entidade, Marco Polo del
Nero. "Hoje, [a lei] é insuficiente. Estamos trabalhando para
resolver a situação."
Pela Lei Pelé, o clube só pode
ganhar remuneração como formador por atletas acima de 14
anos. Segundo a Fifa, há a possibilidade de o time receber recompensa por jogadores a partir dos 12 anos -são calculados
os custos de investimento.
A idéia de fazer os dois campeonatos foi elaborada em conversas entre a FPF e clubes, segundo Del Nero. Cartolas de times manifestaram preocupação com o assédio a seus atletas.
Até agora, há 11 equipes interessadas nos torneios. Mas ainda não foram confirmados os
times, que devem jogar por dois
ou três meses. Os garotos passariam a ter registro na FPF.
A sub-11 permite atletas nascidos até 1999, isto é, oito anos.
"Quando está nessa idade
[dez anos], o garoto já pensa na
carreira. Tem influência paterna. A mentalidade é de jogador", afirmou o diretor de futebol do Palmeiras Savério Orlandi, que quer proteção contra
o assédio. Seu clube vai criar
agora a categoria sub-11 -já tinha a sub-13. Mas a diretoria
ainda vai decidir se o Palmeiras
entrará nos novos torneios.
O São Paulo mostra-se mais
reticente em relação à participação-ainda vai discuti-la. O
time treina garotos nessa idade, sem caráter competitivo.
"Os jogadores são trabalhados de uma forma lúdica, não
do ponto de vista de performance. Não há campeonatos. O
estresse de uma competição
pode causar um dano irreparável em função disso", disse o diretor das divisões de base do
São Paulo, Marcos Thadeu, que
também defende vínculo com
os atletas para evitar assédio.
Já o Corinthians dá como
certa sua inclusão nas disputas.
Ressalva que psicólogos devem
acompanhar os garotos. E repete o discurso contra o assédio.
"Trabalhamos o garotos desde os dez, escola, condicionamento físico. O clube faz, e outro pega", declarou o diretor da
base corintiana, Miguel Marques e Silva. "Não é mercadoria, mas estamos investindo."
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