São Paulo, quinta-feira, 28 de fevereiro de 2008

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

na infância

FPF quer prender até crianças a clubes

Entidade cria torneios de garotos de 8 a 13 anos para estabelecer vínculo com times, que poderão lucrar com eles

Clubes pregam que deve haver uma proteção contra assédio de outros times e empresários a revelações, o que começa ainda cedo


RODRIGO MATTOS
DA REPORTAGEM LOCAL

Pelo Estatuto da Criança e do Adolescente, norma para proteger menores no Brasil, são considerados crianças aqueles que têm até 12 anos incompletos. Segundo esse critério, pela primeira vez neste ano, a Federação Paulista de Futebol e alguns clubes do Estado criaram um mecanismo cujo objetivo é lucrar sobre crianças.
São os campeonatos paulistas sub-11 e sub-13, instituídos pela entidade em janeiro e que devem começar em maio. Seu objetivo é estabelecer um vínculo entre clubes e crianças a partir de oito anos.
Com isso, os times poderiam ter remunerações como clubes formadores caso os garotos decidissem deixá-los. Por enquanto, não há sustentação na legislação brasileira, nem nas leis da Fifa, para obtenção de ganhos pela formação de menores de 12 anos. Mas a FPF criou o campeonato pensando em mudar essa realidade.
"[O campeonato] é umas das provas para caracterizar o vínculo com os atletas. Não tínhamos isso", explicou o presidente da entidade, Marco Polo del Nero. "Hoje, [a lei] é insuficiente. Estamos trabalhando para resolver a situação."
Pela Lei Pelé, o clube só pode ganhar remuneração como formador por atletas acima de 14 anos. Segundo a Fifa, há a possibilidade de o time receber recompensa por jogadores a partir dos 12 anos -são calculados os custos de investimento.
A idéia de fazer os dois campeonatos foi elaborada em conversas entre a FPF e clubes, segundo Del Nero. Cartolas de times manifestaram preocupação com o assédio a seus atletas.
Até agora, há 11 equipes interessadas nos torneios. Mas ainda não foram confirmados os times, que devem jogar por dois ou três meses. Os garotos passariam a ter registro na FPF.
A sub-11 permite atletas nascidos até 1999, isto é, oito anos.
"Quando está nessa idade [dez anos], o garoto já pensa na carreira. Tem influência paterna. A mentalidade é de jogador", afirmou o diretor de futebol do Palmeiras Savério Orlandi, que quer proteção contra o assédio. Seu clube vai criar agora a categoria sub-11 -já tinha a sub-13. Mas a diretoria ainda vai decidir se o Palmeiras entrará nos novos torneios.
O São Paulo mostra-se mais reticente em relação à participação-ainda vai discuti-la. O time treina garotos nessa idade, sem caráter competitivo.
"Os jogadores são trabalhados de uma forma lúdica, não do ponto de vista de performance. Não há campeonatos. O estresse de uma competição pode causar um dano irreparável em função disso", disse o diretor das divisões de base do São Paulo, Marcos Thadeu, que também defende vínculo com os atletas para evitar assédio.
Já o Corinthians dá como certa sua inclusão nas disputas. Ressalva que psicólogos devem acompanhar os garotos. E repete o discurso contra o assédio.
"Trabalhamos o garotos desde os dez, escola, condicionamento físico. O clube faz, e outro pega", declarou o diretor da base corintiana, Miguel Marques e Silva. "Não é mercadoria, mas estamos investindo."


Texto Anterior: Painel FC
Próximo Texto: Condenação: Sindicato desaprova idéia
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.