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FUTEBOL
Vox populi, vox dei
JOSÉ ROBERTO TORERO
COLUNISTA DA FOLHA
Esperta leitora, experto
leitor, eu vos pergunto: torcida ganha jogo?
Creio que os céticos diriam que
não.
E talvez argumentassem assim:
"Por mais que se deseje, uma torcida não atua de modo tão decisivo a ponto de mudar o resultado
de uma partida. Por mais que grite, ela não acerta o posicionamento do time; por mais que assopre, não empurra a bola para
dentro do gol; por mais que reclame, não faz substituições; e por
mais que xingue, não consegue
anular o gol do adversário".
Mas isso diriam os incréus.
Os fiéis, os crentes, os românticos, estes diriam algo mais ou menos assim: "Sim, a torcida pode
mudar o resultado de uma partida. Cantando ela consegue transmitir ânimo aos seus jogadores,
que dessa forma correm ainda
mais; reclamando ela consegue
que o técnico substitua jogadores
ruins; e, se ela grita contra as injustiças, o juiz vacila na hora de
marcar o pênalti suspeito".
Eu, confesso, fico com o segundo
grupo. E, na verdade, creio que as
torcidas podem fazer até mais do
que isso.
Por exemplo:
A torcida do Fluminense foi
quem manteve viva a força e a
tradição tricolor no momento de
martírio dos rebaixamentos para
a segunda e terceira divisões do
Campeonato Brasileiro. Lotando
estádios, além de empurrar o time às vitórias, ela foi uma pioneira na valorização do torneio da
Série B.
É fato que a história não terminou como deveria, mas não por
culpa da galera tricolor, e sim
porque os cartolas entraram na
história e escreveram seu último
capítulo de maneira decepcionante.
Como de hábito, aliás.
Outra boa novidade aconteceu
no caso da re-re-re-re-reeleição
de Mustafá Contursi. O cartola
palmeirense conseguiu outro
mandato, é verdade, mas foi uma
vitória de gosto amargo, obtida
sob vaias e protestos de uma parte
da torcida que preferia o candidato de oposição. Ficou o bom
exemplo de mobilização e a certeza de que, no futuro, a pressão será ainda maior.
Mas o exemplo mais recente, e
eficiente, foi o dado pelos adeptos
do Atlético-MG. Depois do golpe
da CBF e da Confederação Sul-Americana, que sorrateiramente
queriam excluir o Galo da competição, ela arregaçou as mangas
e mostrou que uma torcida pode
fazer muito mais do gritar e agitar bandeiras.
Numa ação rápida e digna das
melhores táticas de guerrilha, os
atleticanos cobraram posicionamento das autoridades e da imprensa, promovendo uma tempestade de mensagens eletrônicas
que congestionou os terminais
dessas confederações. O bombardeio foi tão intenso que os dirigentes tiveram de voltar atrás.
Seja inspirando a reação do time, seja lutando para serem ouvidos nas eleições, seja organizando um boicote contra uma decisão
injusta, os torcedores dos tempos
atuais estão descobrindo uma realidade: a torcida não existe só para encher as arquibancadas.
Torcida mundial
As torcidas são tão poderosas
que podem até parar uma guerra, como foi o caso da Guerra
do Vietnã. Aliás, os torcedores
pela paz já estão agitando suas
bandeiras de novo. E de várias
formas: realizando manifestações, escrevendo artigos, organizando protestos, compondo músicas, mandando e-mails e
até fazendo um boicote aos
produtos dos países que estão
fazendo esta guerra. Ou seja,
em vez dos filmes hollywoodianos, os europeus e latino-americanos; em vez de chá inglês, indiano; em vez de Marlboro,
Gitanes; em vez de Esso, Petrobras, em vez de Nike, Adidas;
em vez de Kodak, Fuji; em vez
de Ford, Renault; em vez de
Disney World, o circo Vostok;
em vez de Coca-Cola, Tubaína;
em vez de McDonald's, só por
ironia, Habib's.
E-mail torero@uol.com.br
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