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São Paulo, sexta-feira, 28 de março de 2003

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FUTEBOL

Jogador do Porto, que conseguiu passaporte português e foi convocado, declara que teria vaga no time de Parreira

Luso, Deco afirma que merecia o Brasil

Armando Franca/Associated Press
O meia Deco, que se naturalizou português e foi convocado por Scolari para o jogo contra o Brasil


RODRIGO BUENO
DA REPORTAGEM LOCAL

Ele trocou São Bernardo do Campo pelo Porto, o Corinthians pelo Porto, e amanhã, de fato, o Brasil por Portugal. Anderson Luís de Souza, o Deco, não conquistou os brasileiros a ponto de servir a "seleção canarinho". Chegou à seleção portuguesa, mas ainda não conquistou alguns portugueses. Em entrevista à Folha, ele fala do Brasil e das críticas que despertou por defender Portugal.
 

Folha - Como se sente agora que é português e jogador de Portugal?
Deco -
Eu estou contente. Falou-se muito nisso, e agora aconteceu.

Folha - Tranquilo para enfrentar o país em que nasceu?
Deco -
Uma coisa não mudará nunca: o Brasil é o país que amo. Não deixo de ser brasileiro. Não sei o que passará na minha cabeça. O coração estará dividido, mas em campo serei todo Portugal.

Folha - O que Portugal representou na sua vida, na sua carreira?
Deco -
Consegui muita coisa aqui, fiz minha carreira. Em termos profissionais, foi muito bom. Portugal me diz muito como país.

Folha - Alguns brasileiros atuaram em outras seleções por não ver chance de defender o Brasil. É o seu caso? A chance de jogar a Eurocopa e o Mundial pesaram na decisão?
Deco -
Não decidi jogar por Portugal porque achei que não teria chances na seleção brasileira. Tenho só 25 anos e poderia jogar pelo Brasil. Mas tive que decidir agora. Não pesou na decisão o fato de Portugal ser sede da Eurocopa ou de eu poder ir ao Mundial. Foi porque Portugal me diz respeito.

Folha - Você já conhecia o Felipão? Como é seu contato com ele?
Deco -
O conhecia pelo que ele fez no Brasil. Ele me convocou, sinal de confiança. Não nos falamos antes da convocação. Pelo currículo dele, não preciso dizer nada.

Folha - Sua convocação gerou algumas críticas em Portugal. Como recebeu isso? Teme uma pressão?
Deco -
É normal por tudo o que está envolvido. Mas acho que não haverá problemas. É questão de patriotismo. Natural que haja críticas. Mas é algo que só diz respeito a mim. Em Portugal, cresci e evoluí. Falam que o Figo e o Rui Costa não estariam contentes, mas acho que não terá problema nenhum. Posso jogar com eles. Precisamos ver como o técnico irá me aproveitar. Mas isso é assunto para o Felipão, não para mim.

Folha - Você conhece todos da seleção? São seus amigos?
Deco -
Tenho contato mesmo com os que não jogam no Porto. Menos, é claro, mas tenho contato. Conheço todo mundo.

Folha - Como foi o processo até a conquista do passaporte europeu?
Deco -
Cheguei em 1998 a Portugal e precisaria viver seis anos aqui para pegar o passaporte por estadia. O processo foi facilitado, e consegui [o documento] antes do prazo por causa da ajuda da federação portuguesa. Foi um fator determinante. Neste mês, ganhei o passaporte e já fui convocado.

Folha - Esperava estrear na equipe justamente contra o Brasil?
Deco -
Achei que só poderia atuar após o Brasil, mas aconteceu. São coisas engraçadas. Será uma sensação diferente.

Folha - Você nunca teve chance na seleção brasileira. Espera provar que merecia uma chance?
Deco -
Não tenho sentimento de vingança nem quero provar nada. Não se prova nada em um jogo.

Folha - Por que o Corinthians não te aproveitou? E por que você saiu tão cedo do futebol brasileiro?
Deco -
No Brasil, joguei só no Corinthians. Era júnior, mas recebia como profissional. Meu passe não era do clube, era de empresário. Pediram muito dinheiro e, aí, surgiu a chance de ir a Portugal.

Folha - Você é virtual campeão português e pode ganhar a Copa da Uefa com o Porto. Acredita que este é seu melhor momento?
Deco -
Pelo que está acontecendo, o momento é muito bom. Mas acho que já vivi fases melhores.

Folha - Acha que Portugal pode ter sucesso com você e Felipão?
Deco -
É um time de qualidade e, com um técnico com o currículo do Felipão, tem tudo para vencer.


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