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FUTEBOL
Jogador do Porto, que conseguiu passaporte português e foi convocado, declara que teria vaga no time de Parreira
Luso, Deco afirma que merecia o Brasil
Armando Franca/Associated Press
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O meia Deco, que se naturalizou português e foi convocado por Scolari para o jogo contra o Brasil |
RODRIGO BUENO
DA REPORTAGEM LOCAL
Ele trocou São Bernardo do
Campo pelo Porto, o Corinthians
pelo Porto, e amanhã, de fato, o
Brasil por Portugal. Anderson
Luís de Souza, o Deco, não conquistou os brasileiros a ponto de
servir a "seleção canarinho". Chegou à seleção portuguesa, mas
ainda não conquistou alguns portugueses. Em entrevista à Folha,
ele fala do Brasil e das críticas que
despertou por defender Portugal.
Folha - Como se sente agora que é
português e jogador de Portugal?
Deco - Eu estou contente. Falou-se muito nisso, e agora aconteceu.
Folha - Tranquilo para enfrentar
o país em que nasceu?
Deco - Uma coisa não mudará
nunca: o Brasil é o país que amo.
Não deixo de ser brasileiro. Não
sei o que passará na minha cabeça. O coração estará dividido, mas
em campo serei todo Portugal.
Folha - O que Portugal representou na sua vida, na sua carreira?
Deco - Consegui muita coisa
aqui, fiz minha carreira. Em termos profissionais, foi muito bom.
Portugal me diz muito como país.
Folha - Alguns brasileiros atuaram em outras seleções por não ver
chance de defender o Brasil. É o seu
caso? A chance de jogar a Eurocopa
e o Mundial pesaram na decisão?
Deco - Não decidi jogar por Portugal porque achei que não teria
chances na seleção brasileira. Tenho só 25 anos e poderia jogar pelo Brasil. Mas tive que decidir agora. Não pesou na decisão o fato de
Portugal ser sede da Eurocopa ou
de eu poder ir ao Mundial. Foi
porque Portugal me diz respeito.
Folha - Você já conhecia o Felipão? Como é seu contato com ele?
Deco - O conhecia pelo que ele
fez no Brasil. Ele me convocou, sinal de confiança. Não nos falamos
antes da convocação. Pelo currículo dele, não preciso dizer nada.
Folha - Sua convocação gerou algumas críticas em Portugal. Como
recebeu isso? Teme uma pressão?
Deco - É normal por tudo o que
está envolvido. Mas acho que não
haverá problemas. É questão de
patriotismo. Natural que haja críticas. Mas é algo que só diz respeito a mim. Em Portugal, cresci e
evoluí. Falam que o Figo e o Rui
Costa não estariam contentes,
mas acho que não terá problema
nenhum. Posso jogar com eles.
Precisamos ver como o técnico irá
me aproveitar. Mas isso é assunto
para o Felipão, não para mim.
Folha - Você conhece todos da seleção? São seus amigos?
Deco - Tenho contato mesmo
com os que não jogam no Porto.
Menos, é claro, mas tenho contato. Conheço todo mundo.
Folha - Como foi o processo até a
conquista do passaporte europeu?
Deco - Cheguei em 1998 a Portugal e precisaria viver seis anos
aqui para pegar o passaporte por
estadia. O processo foi facilitado,
e consegui [o documento] antes
do prazo por causa da ajuda da federação portuguesa. Foi um fator
determinante. Neste mês, ganhei
o passaporte e já fui convocado.
Folha - Esperava estrear na equipe justamente contra o Brasil?
Deco - Achei que só poderia
atuar após o Brasil, mas aconteceu. São coisas engraçadas. Será
uma sensação diferente.
Folha - Você nunca teve chance
na seleção brasileira. Espera provar que merecia uma chance?
Deco - Não tenho sentimento de
vingança nem quero provar nada.
Não se prova nada em um jogo.
Folha - Por que o Corinthians não
te aproveitou? E por que você saiu
tão cedo do futebol brasileiro?
Deco - No Brasil, joguei só no
Corinthians. Era júnior, mas recebia como profissional. Meu passe
não era do clube, era de empresário. Pediram muito dinheiro e, aí,
surgiu a chance de ir a Portugal.
Folha - Você é virtual campeão
português e pode ganhar a Copa da
Uefa com o Porto. Acredita que este é seu melhor momento?
Deco - Pelo que está acontecendo, o momento é muito bom. Mas
acho que já vivi fases melhores.
Folha - Acha que Portugal pode
ter sucesso com você e Felipão?
Deco - É um time de qualidade e,
com um técnico com o currículo do Felipão, tem tudo para vencer.
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