São Paulo, domingo, 28 de março de 2004

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FUTEBOL

Durante a 1ª metade do século passado, Estadual foi monopolizado por times do eixo Santos-Jundiaí, como neste ano

Paulista volta meio século nas semifinais

DA REPORTAGEM LOCAL

Com Palmeiras, Paulista, São Caetano e Santos nas semifinais, o Campeonato Paulista volta à primeira metade do século passado.
Durante aqueles 50 anos, a competição esteve praticamente restrita aos municípios cortados pela São Paulo Railway, graças a dificuldades no transporte e regulamentos herméticos, que impediam o acesso de novos clubes.
Entre 1902 e 1948, disputaram o Estadual somente quatro times que não estavam nas cidades cortadas pelos trilhos da companhia idealizada pelos ingleses e pelo barão de Mauá. Ainda assim, em poucas oportunidades.
Campinas, a poucos quilômetros de Jundiaí, emplacou duas equipes. O Guarani participou do torneio cinco vezes nesse período. Três a mais do que a Ponte Preta, que leva o nome por ter sido fundada em um bairro por onde passava uma ponte ferroviária.
O Comercial de Ribeirão Preto foi outro que furou o bloqueio do eixo Santos-Jundiaí -esteve presente nas edições de 1927 e 1928.
Passagem mais efêmera ainda teve o Taubaté, que abandonou o torneio de 1927 antes do final.
Enquanto o interior penava para entrar no Estadual, quem estava perto dos trilhos reinava.
Bem antes do Paulista, Jundiaí tentou romper o domínio da capital/litoral. Com o Hydecroft, entrou no torneio de 1914. Mas o clube também não teve forças para chegar ao fim.
No ABC, o Corinthians, que depois ficaria famoso por ter sofrido o primeiro gol marcado por Pelé, também participava do Campeonato Paulista com certa freqüência.
A capital criava e fechava times em um ritmo alucinante -mais de 30 disputaram a primeira divisão até a década de 30.
O fim do monopólio da Santos-Jundiaí no Estadual coincidiu com o fim do controle da ferrovia pela companhia inglesa.
Em 1949, o torneio pela primeira vez recebeu times promovidos da sua segunda divisão, repleta de equipes de cidades mais distantes do interior do Estado.
Três anos antes, e quase 80 depois da sua inauguração, a ferrovia mais importante do país havia sido estatizada.
Gradualmente, na década de 50, o Campeonato Paulista curvou-se a clubes de regiões contempladas por outras ferrovias, mais novas, construídas para ligar as fazendas de café ao porto de Santos.
No livro "Quando o Futebol Andava de Trem", o escritor e publicitário Ernani Buchmann, ex-presidente do Paraná Clube, lista nomes mais famosos, como Noroeste, Nacional e Ferroviária, e outros nem tanto. É o caso, por exemplo, do Cantareira Tramway, que disputou uma espécie de segunda divisão paulista no final da década de 30.
Escreve Buchmann que o clube teve como origem uma empresa que operava um serviço sobre trilhos na zona norte da capital.
Na verdade, essa empresa e seu serviço foram imortalizados em uma das mais famosas músicas paulistanas -"Trem das Onze", de Adoniran Barbosa.
O clube ferroviário com a maior glória no Estado é o Ituano, clube com origem na Sorocabana. Aproveitando-se da ausência dos grandes, o clube de Itu conquistou o Paulista em 2002.

Eixo rodoviário
A decadência das ferrovias mudou de forma radical o mapa do futebol paulista.
Hoje, especialmente na elite da bola, o futebol do Estado está concentrado no principal eixo rodoviário do interior, que liga a capital a Ribeirão Preto passando por Campinas.
Na edição 2004, dos 21 times na disputa 15 são de cidades cortadas ou vizinhas das rodovias Anhangüera e Bandeirantes.
Para o historiador João Francisco Tidei Lima, do Centro de Memória da Unesp e especialista na história ferroviária do Brasil, a malha do Estado perdeu importância não só pelo advento do asfalto. "As linhas têm traçados anacrônicos. Foram traçadas para passar pelas fazendas e não se modernizaram." (PAULO COBOS)


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