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FUTEBOL
Durante a 1ª metade do século passado, Estadual foi monopolizado por times do eixo Santos-Jundiaí, como neste ano
Paulista volta meio século nas semifinais
DA REPORTAGEM LOCAL
Com Palmeiras, Paulista, São
Caetano e Santos nas semifinais, o
Campeonato Paulista volta à primeira metade do século passado.
Durante aqueles 50 anos, a competição esteve praticamente restrita aos municípios cortados pela
São Paulo Railway, graças a dificuldades no transporte e regulamentos herméticos, que impediam o acesso de novos clubes.
Entre 1902 e 1948, disputaram o
Estadual somente quatro times
que não estavam nas cidades cortadas pelos trilhos da companhia
idealizada pelos ingleses e pelo
barão de Mauá. Ainda assim, em
poucas oportunidades.
Campinas, a poucos quilômetros de Jundiaí, emplacou duas
equipes. O Guarani participou do
torneio cinco vezes nesse período.
Três a mais do que a Ponte Preta,
que leva o nome por ter sido fundada em um bairro por onde passava uma ponte ferroviária.
O Comercial de Ribeirão Preto
foi outro que furou o bloqueio do
eixo Santos-Jundiaí -esteve presente nas edições de 1927 e 1928.
Passagem mais efêmera ainda
teve o Taubaté, que abandonou o
torneio de 1927 antes do final.
Enquanto o interior penava para entrar no Estadual, quem estava perto dos trilhos reinava.
Bem antes do Paulista,
Jundiaí tentou romper o
domínio da capital/litoral.
Com o Hydecroft, entrou
no torneio de 1914. Mas o
clube também não teve
forças para chegar ao fim.
No ABC, o Corinthians,
que depois ficaria famoso
por ter sofrido o primeiro
gol marcado por Pelé, também participava do Campeonato
Paulista com certa freqüência.
A capital criava e fechava times
em um ritmo alucinante -mais
de 30 disputaram a primeira divisão até a década de 30.
O fim do monopólio da Santos-Jundiaí no Estadual coincidiu
com o fim do controle da ferrovia
pela companhia inglesa.
Em 1949, o torneio pela primeira vez recebeu times promovidos
da sua segunda divisão, repleta de
equipes de cidades mais distantes
do interior do Estado.
Três anos antes, e quase 80 depois da sua inauguração, a ferrovia mais importante do país havia
sido estatizada.
Gradualmente, na década de 50,
o Campeonato Paulista curvou-se
a clubes de regiões contempladas
por outras ferrovias, mais novas,
construídas para ligar as fazendas
de café ao porto de Santos.
No livro "Quando o Futebol
Andava de Trem", o escritor e publicitário Ernani Buchmann, ex-presidente do Paraná Clube, lista
nomes mais famosos, como Noroeste, Nacional e Ferroviária, e
outros nem tanto. É o caso, por
exemplo, do Cantareira Tramway, que disputou uma espécie de
segunda divisão paulista no final
da década de 30.
Escreve Buchmann que o clube
teve como origem uma empresa
que operava um serviço sobre trilhos na zona norte da capital.
Na verdade, essa empresa e seu
serviço foram imortalizados em
uma das mais famosas músicas
paulistanas -"Trem das Onze",
de Adoniran Barbosa.
O clube ferroviário com a maior
glória no Estado é o Ituano, clube
com origem na Sorocabana.
Aproveitando-se da ausência dos
grandes, o clube de Itu conquistou o Paulista em 2002.
Eixo rodoviário
A decadência das ferrovias mudou de forma radical o mapa do
futebol paulista.
Hoje, especialmente na elite da
bola, o futebol do Estado está concentrado no principal eixo rodoviário do interior, que liga a capital a Ribeirão Preto passando por
Campinas.
Na edição 2004, dos 21 times na
disputa 15 são de cidades cortadas
ou vizinhas das rodovias Anhangüera e Bandeirantes.
Para o historiador João Francisco Tidei Lima, do Centro de Memória da Unesp e especialista na
história ferroviária do Brasil, a
malha do Estado perdeu importância não só pelo advento do asfalto. "As linhas têm traçados anacrônicos. Foram traçadas para
passar pelas fazendas e não se
modernizaram."
(PAULO COBOS)
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