São Paulo, domingo, 28 de março de 2004

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Invenções fazem atleta ler e responder e-mail

DA REPORTAGEM LOCAL

Não foi só para se orientar nas pistas de atletismo que Marla Runyan tramou invenções.
Coisas simples do cotidiano, como ler uma revista ou responder a um e-mail, também exigiram esforços, criatividade e, principalmente, amparo da tecnologia.
Os recursos que usou para atender à reportagem da Folha, por exemplo, são emblemáticos.
Runyan solicitou que as perguntas fossem enviadas por e-mail. Para lê-las na tela de seu micro, ela utilizou um dispositivo que amplia em até 16 vezes o tamanho da cada palavra.
Outro programa eletrônico auxiliou no momento de digitar as respostas. Ao batucar cada letra, o computador emitiu o som da sílaba escolhida. Assim, ela pôde evitar erros por não conseguir enxergar com perfeição o teclado.
"Sempre busquei formas de não irritar outras pessoas para fazer minhas atividades. Sou considerada legalmente cega há 20 anos, mas nunca dependi de ninguém", explica a atleta, casada com Matt Lonergan desde agosto de 2002.
Fanática por esporte desde a infância, ela praticou ginástica e futebol antes de optar pelas pistas.
"Jogava bem em todas as posições e tinha muito fôlego, mas chegou uma época em que eu não conseguia mais enxergar a bola. Aí precisei parar", conta ela.
Em casa, não desliga da carreira nem nos momentos de lazer. Um de seus passatempos favoritos é buscar resultados de atletismo em revistas. Para entender os tempos, Runyan usa outra inovação.
Uma pequena câmera registra o que está na página e reproduz em um monitor de 19 polegadas. A imagem, porém, tem tamanho quase 20 vezes superior ao texto original que estava na publicação.
"Para ler, eu também preciso de óculos, desses comuns. É que, além do mal de Stargardt, também tenho miopia", conta.
A atleta cursou ciências em uma turma especial para deficientes visuais na Universidade de San Diego. Fora do esporte, porém, sua única incursão profissional aconteceu no campo da literatura.
Em 2001, ela concluiu uma autobiografia, projeto que tocava há pelo menos cinco anos. "No Finish Line: My Life As I See It" ("Sem linha de chegada: Minha vida, como eu a vejo", na tradução literal do inglês) foi escrita em parceria com um jornalista.
A obra traz minúcias sobre momentos marcantes em sua vida, como a seletiva olímpica dos EUA antes da Olimpíada de Sydney.
Na época, Runyan havia sofrido uma contusão no joelho e mesmo assim decidiu correr. Chegou em terceiro e conseguiu a última vaga na seleção nos 1.500 m.
Em 2004, contudo, um agravante pode atrapalhar seus planos de brilhar na Olimpíada. Sua visão está pior do que há quatro anos.
O exame que realizou em 2000 indicou uma capacidade de visão de 20/300 em cada olho -o número padrão é 20/20.
Nesta temporada, o mesmo teste apontou 20/400 (quanto maior o segundo número menor é a qualidade da visão). (GR)


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