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FUTEBOL
Ônibus da delegação não consegue entrar em estádio, time se espreme em vestiário, e torcida invade concentração
Palmeiras entala em estréia na 2ª divisão
RODRIGO BERTOLOTTO
ENVIADO ESPECIAL A BRASÍLIA
O Palmeiras desembarcou na
segunda divisão quando o ônibus
que levava o time entalou na porta
do Serejão, estádio encravado entre as cidades-satélites de Taguatinga, Samambaia e Ceilândia, na
parte real do Distrito Federal.
No meio dos torcedores rivais,
das provocações pela má fase, dos
palavrões e de um cordão policial
improvisado, os palmeirenses começaram a entender o que vão
passar na Série B do Brasileiro.
"Estava meio aéreo, mas chegando ao estádio caiu a ficha",
descreveu o veterano capitão Zinho, que, ao contrário da maioria
de seus colegas de time, nunca tinha enfrentado a Segundona.
O problema de Zinho foi que,
entrando no gramado, ele voltou
a ficar aéreo, errou muito, e o Palmeiras só empatou quando ele foi
substituído pelo júnior Vágner,
autor do único gol do time, aos
42min do segundo tempo.
Outro obstáculo no caminho foi
o estreitíssimo túnel que levava ao
vestiário. Magrão parou para dar
uma entrevista, e todo o time
freou atrás dele porque não havia
como passar. Na saída do estádio
foi a mesma história. Enquanto
Magrão discorria ("Só no segundo tempo entramos no espírito da
segunda divisão") para uma equipe de TV, o volante Marcinho,
que fez boa estréia, esperava, espremido contra a parede.
Inaugurado em 1978 pelo general Ernesto Geisel, o estádio recebeu o nome de um governador
biônico do DF, Elmo Serejo Faria.
Algumas de suas dependências
lembram as habitações provisórias da época de construção de
Brasília. São assim as cabines de
rádio ou a sala de administração.
O estádio agora está a serviço de
um novo figurão local. Senador
cassado, o empresário Luiz Estevão chegou em seu jipe Cherokee
e saiu acenando como se ainda tivesse o cargo no Congresso.
Estevão arrendou o estádio do
extinto Taguatinga e fundou o
Brasiliense em 2000 como mais
um palanque para suas pretensões. Ele paga em dia os salários
de Túlio (ex-Botafogo), Iranildo
(ex-Flamengo, autor do gol candango de anteontem) e Batata
(ex-Corinthians), entre outros jogadores rodados. Por outro lado,
o clube já teve luz e água cortadas
por falta de pagamento.
Na sua chegada, Estevão deu
entrevista para a rádio OK, de sua
propriedade. E, depois, ciceroneou o presidente palmeirense,
Mustafá Contursi, que recebeu a
mesma recepção calorosa que
tem no Parque Antarctica.
"Oh, Mustafá, vai se f.../ O meu
Palmeiras não precisa de você"
ecoa nas arquibancadas. São cerca de mil torcedores atrás das faixas "Mancha Verde-DF" e "Mancha Verde, Sub-Sede Palmas".
Sob vaiais, o dirigente de formas
arredondadas sofreu para escalar
os degraus da tribuna. "Essas manifestações são programadas. É
um ódio que está sendo cultivado
há muito tempo", reclamou.
Mustafá ficou feliz com a estréia
na Segundona. Com um sorriso
irônico, disse: "Empatamos, então vou dar entrevista". Por uma
hora, ele passeou pelas cabines de
rádio. E explicou por que dispensou, de uma vez, Índio, Gustavo,
Neném, Everaldo e Carlos Castro.
E prometeu contratar o zagueiro
Daniel, do São Caetano, e o atacante Somália, jogando atualmente no Oriente Médio -dois
velhos conhecidos de Jair Picerni.
Enquanto os jogadores mostravam uma alegria quase infantil
pelo resultado em Brasília, Picerni
parecia mais reticente. "Não foi
uma reabilitação total, mas era
importante não perder."
Ele sabe que na quarta o time terá de enfrentar sua muito provável desclassificação definitiva da
Copa do Brasil -foi goleado pelo
Vitória por um 7 a 2 em casa.
Na verdade, o Palmeiras mostrou as mesmas falhas, mas tinha
um rival de menor estatura.
"Foi um jogo equilibrado, nivelado", analisou Picerni. Nivelado
por baixo, afinal, o próprio Palmeiras se rebaixou. Um sintoma
disso foi a falta de um segurança
do clube seguindo a delegação.
Alguns torcedores bateram na
porta dos quartos, atrapalhando a
sesta no dia do jogo e acordaram
atletas atrás de autógrafos ou uma
foto. Não havia nenhum segurança para barrá-los.
Na saudosa era Parmalat (1992-2000), um par de leões-de-chácaras acompanhava os palmeirenses em suas viagens.
É um sinal dos tempos, como a
falta de televisionamento da partida. Inicialmente disputada pela
Sportv e pela Record, a Série B teve sua primeira rodada preterida.
O Palmeiras já vai se acostumando com isso. Na volta para
São Paulo, o time cruzou no aeroporto de Congonhas com o Joinville, adversário na 11ª rodada. Na
ida para Brasília, quase cruzou
com o Gama, rival que terá pela
frente 21ª data da Segundona.
No próximo sábado, será a vez
de encarar o América-RN, do
meia Marcelo Passos (ex-Santos),
e enfrentar o Parque Antarctica.
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