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São Paulo, segunda-feira, 28 de abril de 2003

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FUTEBOL

Ônibus da delegação não consegue entrar em estádio, time se espreme em vestiário, e torcida invade concentração

Palmeiras entala em estréia na 2ª divisão

RODRIGO BERTOLOTTO
ENVIADO ESPECIAL A BRASÍLIA

O Palmeiras desembarcou na segunda divisão quando o ônibus que levava o time entalou na porta do Serejão, estádio encravado entre as cidades-satélites de Taguatinga, Samambaia e Ceilândia, na parte real do Distrito Federal.
No meio dos torcedores rivais, das provocações pela má fase, dos palavrões e de um cordão policial improvisado, os palmeirenses começaram a entender o que vão passar na Série B do Brasileiro.
"Estava meio aéreo, mas chegando ao estádio caiu a ficha", descreveu o veterano capitão Zinho, que, ao contrário da maioria de seus colegas de time, nunca tinha enfrentado a Segundona.
O problema de Zinho foi que, entrando no gramado, ele voltou a ficar aéreo, errou muito, e o Palmeiras só empatou quando ele foi substituído pelo júnior Vágner, autor do único gol do time, aos 42min do segundo tempo.
Outro obstáculo no caminho foi o estreitíssimo túnel que levava ao vestiário. Magrão parou para dar uma entrevista, e todo o time freou atrás dele porque não havia como passar. Na saída do estádio foi a mesma história. Enquanto Magrão discorria ("Só no segundo tempo entramos no espírito da segunda divisão") para uma equipe de TV, o volante Marcinho, que fez boa estréia, esperava, espremido contra a parede.
Inaugurado em 1978 pelo general Ernesto Geisel, o estádio recebeu o nome de um governador biônico do DF, Elmo Serejo Faria. Algumas de suas dependências lembram as habitações provisórias da época de construção de Brasília. São assim as cabines de rádio ou a sala de administração.
O estádio agora está a serviço de um novo figurão local. Senador cassado, o empresário Luiz Estevão chegou em seu jipe Cherokee e saiu acenando como se ainda tivesse o cargo no Congresso.
Estevão arrendou o estádio do extinto Taguatinga e fundou o Brasiliense em 2000 como mais um palanque para suas pretensões. Ele paga em dia os salários de Túlio (ex-Botafogo), Iranildo (ex-Flamengo, autor do gol candango de anteontem) e Batata (ex-Corinthians), entre outros jogadores rodados. Por outro lado, o clube já teve luz e água cortadas por falta de pagamento.
Na sua chegada, Estevão deu entrevista para a rádio OK, de sua propriedade. E, depois, ciceroneou o presidente palmeirense, Mustafá Contursi, que recebeu a mesma recepção calorosa que tem no Parque Antarctica.
"Oh, Mustafá, vai se f.../ O meu Palmeiras não precisa de você" ecoa nas arquibancadas. São cerca de mil torcedores atrás das faixas "Mancha Verde-DF" e "Mancha Verde, Sub-Sede Palmas".
Sob vaiais, o dirigente de formas arredondadas sofreu para escalar os degraus da tribuna. "Essas manifestações são programadas. É um ódio que está sendo cultivado há muito tempo", reclamou.
Mustafá ficou feliz com a estréia na Segundona. Com um sorriso irônico, disse: "Empatamos, então vou dar entrevista". Por uma hora, ele passeou pelas cabines de rádio. E explicou por que dispensou, de uma vez, Índio, Gustavo, Neném, Everaldo e Carlos Castro. E prometeu contratar o zagueiro Daniel, do São Caetano, e o atacante Somália, jogando atualmente no Oriente Médio -dois velhos conhecidos de Jair Picerni.
Enquanto os jogadores mostravam uma alegria quase infantil pelo resultado em Brasília, Picerni parecia mais reticente. "Não foi uma reabilitação total, mas era importante não perder."
Ele sabe que na quarta o time terá de enfrentar sua muito provável desclassificação definitiva da Copa do Brasil -foi goleado pelo Vitória por um 7 a 2 em casa.
Na verdade, o Palmeiras mostrou as mesmas falhas, mas tinha um rival de menor estatura.
"Foi um jogo equilibrado, nivelado", analisou Picerni. Nivelado por baixo, afinal, o próprio Palmeiras se rebaixou. Um sintoma disso foi a falta de um segurança do clube seguindo a delegação.
Alguns torcedores bateram na porta dos quartos, atrapalhando a sesta no dia do jogo e acordaram atletas atrás de autógrafos ou uma foto. Não havia nenhum segurança para barrá-los.
Na saudosa era Parmalat (1992-2000), um par de leões-de-chácaras acompanhava os palmeirenses em suas viagens.
É um sinal dos tempos, como a falta de televisionamento da partida. Inicialmente disputada pela Sportv e pela Record, a Série B teve sua primeira rodada preterida.
O Palmeiras já vai se acostumando com isso. Na volta para São Paulo, o time cruzou no aeroporto de Congonhas com o Joinville, adversário na 11ª rodada. Na ida para Brasília, quase cruzou com o Gama, rival que terá pela frente 21ª data da Segundona.
No próximo sábado, será a vez de encarar o América-RN, do meia Marcelo Passos (ex-Santos), e enfrentar o Parque Antarctica.


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