São Paulo, terça-feira, 28 de maio de 2002

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SEGURANÇA

Após prisões e conselhos a taxistas, mídia passa a olhar brasileiros como arruaceiros

Máfia brasileira causa prejuízo de US$ 3 milhões aos japoneses

JOÃO CARLOS ASSUMPÇÃO
ENVIADO ESPECIAL A YOKOHAMA

Quando se está no bairro paulistano da Liberdade, dominado pelos orientais, comenta-se muito sobre a ação da máfia japonesa (a Yakuza) e da chinesa, que estariam envolvidas em uma série de roubos e assassinatos.
No Japão, nas últimas semanas, também tem sido discutida a ação de uma máfia: a brasileira.
É a ela que foram atribuídos centenas de crimes praticados em diversas províncias japonesas, entre elas Aichi, Gifu, Mie, Shigo, Fukui, Kyoto e Nagano.
A polícia japonesa anunciou a prisão de oito pessoas, que seriam ligadas a uma quadrilha comandada por brasileiros e teriam cometido cerca de 600 assaltos, incluindo roubos a bancos.
De acordo com o jornal japonês ""Chunichi", a polícia suspeita que, na verdade, o total de crimes cometidos pela tal ""máfia brasileira" pode chegar a mil.
Pelo menos três dos líderes do grupo, que teria em sua estrutura 12 comandantes, estariam detidos, depois que um deles foi capturado numa tentativa fracassada de assalto feita em novembro do ano passado.
A ação do grupo teria provocado prejuízos de US$ 3 milhões, dizem as autoridades japonesas, que mantêm o nome dos suspeitos em sigilo.
Irritados com o que chamam de distorção da imagem dos estrangeiros no Japão, líderes da comunidade brasileira têm contestado afirmações na mídia que insinuam que ela poderia estar ligada ao processo de piora dos índices de criminalidade no país.
Envolvidos nos crimes ou não, porém, os brasileiros começam a ser colocados pela mídia japonesa como possíveis arruaceiros durante o Mundial-2002.
Desde que se passou a falar em uma possível ""máfia brasileira", taxistas têm sido orientados a, pelo menos durante o período da Copa, tomar cuidado com torcedores estrangeiros, principalmente se oriundos do Reino Unido, da Argentina e do Brasil.
Em Tóquio, numa central em que são concedidas licenças para taxistas, eles têm recebido instruções sobre como evitar possíveis problemas durante o Mundial, que começa na sexta-feira.

Dicas
Entre as recomendações, está justamente a de evitarem colocar no carro grupos de torcedores com camisa do Brasil, da Inglaterra e da Argentina.
Principalmente se se tratar de uma taxista -e não um taxista.
Apesar de ainda serem muito poucas no Japão -menos de 2% dos táxis são conduzidos por mulheres-, elas têm sido instruídas para evitar os torcedores desses países, especialmente quando estão em grupo. Com os ingleses, o risco seria sofrerem agressão física. Com os brasileiros, serem furtadas. Com os argentinos, sofrerem assédio sexual.
Shukan Taisho, responsável por uma pesquisa com as taxistas no Japão, disse que, nos últimos dias, elas estão recebendo um spray paralisante e instalando um alarme ao lado do banco do motorista. Em caso de problema, podem acioná-lo, alertando a central, que teria como localizar o veículo.
Mesmo com spray e alarme, foram aconselhadas a evitar se dirigir para lugares ermos e menos iluminados, onde poderiam ser atacadas pelo passageiro.
No início do ano, quando receberam sugestões parecidas para o período da Copa-2002, só eram citados os torcedores ingleses e argentinos, cujas seleções estão no mesmo grupo. Os brasileiros passaram a ser lembrados só a partir das últimas semanas.
Atraídos por empregos em fábricas nos anos 80, muitos brasileiros estão agora desempregados no Japão. Uma parcela deles caiu na criminalidade.
A seleção brasileira, que jogará a primeira fase na Coréia do Sul, irá disputar as oitavas-de-final no Japão, em Kobe ou Miyagi, caso se classifique no Grupo C.



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