|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
LUIZ CARLOS BARRETO
No 'futebol japonês', o Brasil é favorito
Pela primeira vez, a seleção
brasileira chega a uma
Copa do Mundo sem estar
previamente cotada nas bolsas de
apostas, como uma das favoritas
ao título de campeã. Isto não
ocorre desde 1958, ao longo portanto, de 11 Copas, ou seja, há 44
anos.
Não se pode negar, diante deste
fato, que o futebol brasileiro dá
sinais de um processo de decadência em vários níveis -técnico, tático, moral e espiritual. No
plano técnico-individual nossos
jogadores empobreceram em matéria de habilidade e destreza no
trato da bola e na criatividade
das jogadas, sejam individuais
ou coletivas.
Relembrando as seleções brasileiras das Copas de 50, 54 e 58, cada uma delas contava sempre
com cinco, seis craques ou até
mesmo supercraques.
Senão vejamos: em 1950 um
grande goleiro, o elegante Barbosa, quatro extraordinários armadores e construtores de jogadas
-Bauer, Danilo, Zizinho e Jair
da Rosa Pinto- e, na frente, um
homem-gol estupendo, Ademir
Menezes.
Em 1954, na Copa da Suíça,
contávamos com um elenco no
qual se destacavam craques como Djalma Santos, Nilton Santos, Bauer, Brandãozinho, Julinho, Didi, Rodrigues, Baltazar,
Rubens e Pinga.
Este time brasileiro repleto de
estrelas não passou das quartas
de final por uma manobra do
destino que nos colocou em confronto com a máquina húngara
pilotada por Kocsis, Puskas, Hideguti e o coronel Bozick, uma espécie de final antecipada daquela
Copa que terminou nas mãos do
medíocre time alemão de um
único jogador admirável, Fraz
Walter.
Em 1958 e 1962, nas Copas da
Suécia e Chile, estreamos o new
look "canarinho" levando uma
penca de jogadores extra-classe
-Gilmar, Djalma e Nilton Santos, Zito, Didi, Pelé e Garrincha.
Para não esticar demais essa
nostálgica lembrança dos craques que povoaram nossas seleções e nosso imaginário, vou relacionar de uma só vez os grandes
craques das demais Copas e de
gerações mais recentes, ou seja,
das décadas de 70 e 80: Carlos Alberto Torres, Clodoaldo, Gérson,
Rivelino, Jairzinho, Tostão, Pelé,
Paulo Cezar, Leandro, Júnior,
Toninho Cerezo, Sócrates, Zico,
Falcão, Éder, Careca...
Dos anos 90 em diante os craques começaram a rarear nas seleções brasileiras. Mesmo em
1994 na Copa realizada nos Estados Unidos quando nos sagramos
tetra-campeões, nosso time só
contava com três craques -Aldair, Bebeto e Romário- e em 98
apenas dois -Ronaldinho e o esporádico Rivaldo.
Agora em 2002, nesta primeira
Copa do Mundo do terceiro milênio, com quantos paus (craques)
contamos para construir nossa
vitoriosa canoa?
Sem forçar a barra podemos até
afirmar que, em matérias de craques, estamos melhores do que
em 98 quando chegamos a final e
demos aquele vexame diante da
seleção francesa.
Falei de tudo isso para chegar a
conclusão que apesar dos sintomas de decadência do futebol
brasileiro temos condições de fazer um bonito papel lá no Japão,
onde todos os times vão apresentar um "futebol japonês", isto é,
todo mundo igual um ao outro.
Só os craques, os extra-classe, farão a diferença e decidirão as
partidas. E em matéria de craque
nenhum time é melhor que o brasileiro.
Na minha bolsa de apostas o
Brasil está entre os quatro favoritos. Apesar dos pesares, ou melhor, apesar do Scolari.
Luiz Carlos Barreto, é produtor de cinema, fotógrafo e
jornalista
Texto Anterior: Japão detém dois possíveis hooligans e deve deportá-los Próximo Texto: FOLHA ESPORTE Guga estréia bem em Paris Índice
|