São Paulo, terça-feira, 28 de maio de 2002

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LUIZ CARLOS BARRETO

No 'futebol japonês', o Brasil é favorito

Pela primeira vez, a seleção brasileira chega a uma Copa do Mundo sem estar previamente cotada nas bolsas de apostas, como uma das favoritas ao título de campeã. Isto não ocorre desde 1958, ao longo portanto, de 11 Copas, ou seja, há 44 anos.
Não se pode negar, diante deste fato, que o futebol brasileiro dá sinais de um processo de decadência em vários níveis -técnico, tático, moral e espiritual. No plano técnico-individual nossos jogadores empobreceram em matéria de habilidade e destreza no trato da bola e na criatividade das jogadas, sejam individuais ou coletivas.
Relembrando as seleções brasileiras das Copas de 50, 54 e 58, cada uma delas contava sempre com cinco, seis craques ou até mesmo supercraques.
Senão vejamos: em 1950 um grande goleiro, o elegante Barbosa, quatro extraordinários armadores e construtores de jogadas -Bauer, Danilo, Zizinho e Jair da Rosa Pinto- e, na frente, um homem-gol estupendo, Ademir Menezes.
Em 1954, na Copa da Suíça, contávamos com um elenco no qual se destacavam craques como Djalma Santos, Nilton Santos, Bauer, Brandãozinho, Julinho, Didi, Rodrigues, Baltazar, Rubens e Pinga.
Este time brasileiro repleto de estrelas não passou das quartas de final por uma manobra do destino que nos colocou em confronto com a máquina húngara pilotada por Kocsis, Puskas, Hideguti e o coronel Bozick, uma espécie de final antecipada daquela Copa que terminou nas mãos do medíocre time alemão de um único jogador admirável, Fraz Walter.
Em 1958 e 1962, nas Copas da Suécia e Chile, estreamos o new look "canarinho" levando uma penca de jogadores extra-classe -Gilmar, Djalma e Nilton Santos, Zito, Didi, Pelé e Garrincha.
Para não esticar demais essa nostálgica lembrança dos craques que povoaram nossas seleções e nosso imaginário, vou relacionar de uma só vez os grandes craques das demais Copas e de gerações mais recentes, ou seja, das décadas de 70 e 80: Carlos Alberto Torres, Clodoaldo, Gérson, Rivelino, Jairzinho, Tostão, Pelé, Paulo Cezar, Leandro, Júnior, Toninho Cerezo, Sócrates, Zico, Falcão, Éder, Careca...
Dos anos 90 em diante os craques começaram a rarear nas seleções brasileiras. Mesmo em 1994 na Copa realizada nos Estados Unidos quando nos sagramos tetra-campeões, nosso time só contava com três craques -Aldair, Bebeto e Romário- e em 98 apenas dois -Ronaldinho e o esporádico Rivaldo.
Agora em 2002, nesta primeira Copa do Mundo do terceiro milênio, com quantos paus (craques) contamos para construir nossa vitoriosa canoa?
Sem forçar a barra podemos até afirmar que, em matérias de craques, estamos melhores do que em 98 quando chegamos a final e demos aquele vexame diante da seleção francesa.
Falei de tudo isso para chegar a conclusão que apesar dos sintomas de decadência do futebol brasileiro temos condições de fazer um bonito papel lá no Japão, onde todos os times vão apresentar um "futebol japonês", isto é, todo mundo igual um ao outro. Só os craques, os extra-classe, farão a diferença e decidirão as partidas. E em matéria de craque nenhum time é melhor que o brasileiro.
Na minha bolsa de apostas o Brasil está entre os quatro favoritos. Apesar dos pesares, ou melhor, apesar do Scolari.


Luiz Carlos Barreto, é produtor de cinema, fotógrafo e jornalista



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