São Paulo, sexta-feira, 28 de maio de 2004

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OLIMPÍADA

Nuzman se disse surpreendido por procedimento em vigor há 4 anos

COB lançou Rio-2012 sem saber critério de escolha

ROBERTO DIAS
EDITOR-ASSISTENTE DE ESPORTE

JOÃO CARLOS ASSUMPÇÃO
DA REPORTAGEM LOCAL

O Comitê Olímpico Brasileiro apontou como causa para a eliminação do Rio de Janeiro da disputa por 2012 o fato de ter sido surpreendido por um novo critério de seleção utilizado pelo Comitê Olímpico Internacional.
Só que o item que pegou de supetão os brasileiros, a capacidade de viabilizar os projetos apresentados, não é novidade. Já foi usado em 2000, quando o COI escolheu a chinesa Pequim como sede da Olimpíada de 2008.
Mesmo assim, Carlos Arthur Nuzman, presidente do COB, na entrevista para explicar a derrota dos cariocas, afirmou: ""Não sabíamos que o COI basearia sua avaliação em algo novo, chamado poder de viabilidade. Todo o projeto do Rio foi aprovado com notas altas. A interferência foi o entendimento da viabilidade, que ficou em 0,6 [probabilidade moderada] na média, enquanto o projeto teve, em média, nota 8".
Em setembro de 2000, quando foi eleito membro do COI e indicado como um dos 16 delegados para analisar as candidaturas das cinco cidades que disputavam o direito de sediar os Jogos de 2008, Nuzman declarara: "É bom estar na comissão que vai fazer a avaliação até para entender todo o procedimento, ver todo o trabalho que tem de ser feito para receber uma Olimpíada".
Em 18 de agosto de 2000, ao apresentar o relatório do grupo de trabalho que avaliou as concorrentes por 2008, o COI explicou que havia utilizado o chamado critério de viabilidade.
Ele representa a probabilidade de o projeto apresentado ser realizado no prazo e na forma propostos, de acordo com a situação financeira e política da cidade, país ou região, localização, capacidade de crescimento e legado das obras após a Olimpíada.
Para 2012, o COI teve o mesmo procedimento. Para calcular a viabilidade dos projetos apresentados, inclusive o do Rio, usou a avaliação que uma agência de risco, a Moody's, faz das finanças dos países envolvidos.
Assim como já havia ocorrido para 2008, ao analisar os quesitos do questionário de cada cidade aspirante usou uma ferramenta que é chamada de "lógica fuzzy" (difusa). O que ela faz é considerar matematicamente o grau de incerteza de uma informação.
O item da viabilidade, de fato, prejudicou o projeto carioca. Rio e Madri, por exemplo, apresentaram previsões parecidas para o volume de recursos que iriam arrecadar com patrocínios e vendas de ingressos e produtos.
O Rio falava em US$ 835 milhões, e Madri, em US$ 842 milhões. Mas devido ao relatório da Moody's e às realidades diferentes de Brasil e Espanha, o COI achou a previsão brasileira "otimista" e a espanhola "viável".
Na avaliação do projeto do Rio, que previra consumir cerca de R$ 16,5 milhões de recursos públicos entre julho de 2003 até ser cortado pelo COI, foram considerados pontos fracos transporte, segurança e acomodação.
A infra-estrutura urbana e o sistema de transportes do Rio foram mais mal avaliados pelo grupo de trabalho do COI do que a segurança da cidade.
Das nove aspirantes, o Rio ficou em sétimo lugar, com nota máxima de 5,1. Levou vantagem apenas sobre Havana e Istambul -a nota de corte era seis.
O informe técnico do grupo de trabalho do COI foi apresentado a dez membros do Comitê Executivo, que o aprovaram por consenso, definindo as cinco cidades que seguem na disputa: Nova York, Londres, Madri, Moscou e Paris.
A definição sobre a vencedora acontecerá em 6 de julho de 2005, mas antes disso qualquer uma das candidatas poderá ser cortada se apresentar problemas.
Para 2016, quando os brasileiros pensam em novamente concorrer, o COI também deve usar o critério de viabilidade. Ele não foi utilizado para 2004, quando ganhou Atenas, e o projeto dos gregos passa por sérios apuros para ser concluído até 13 de agosto.
O Athoc, comitê organizador grego, já foi advertido pelo menos três vezes pelo COI, que ainda se diz preocupado com o atraso nas obras na capital grega.


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