São Paulo, quarta-feira, 28 de junho de 2000


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FUTEBOL
Antiga (nova) opção tática

TOSTÃO
COLUNISTA DA FOLHA

A pós o desaparecimento dos pontas, o espaço foi ocupado pelos laterais. Alguns times ainda preferem o modelo antigo.
No lugar de um armador ofensivo de cada lado, colocam dois pontas que também marcam os laterais adversários. Em vez de dois atacantes, são três: dois pontas e um centroavante.
A seleção holandesa e sua filial, o Barcelona, jogam assim. A França fez o mesmo contra a Espanha, pondo Dugarry e Djorkaeff nas pontas. Sávio atua nessa posição no Real Madrid.
O técnico Leão, no Atlético-MG e no Santos, e Felipão, no Palmeiras, também utilizaram esse antigo (novo) esquema.
Ao escalar Sávio, Luxemburgo adere ao ponta, mas só de um lado. O time vai ficar torto. Sávio e Roberto Carlos fazem uma excelente dupla no Real Madrid.
O treinador da seleção queria repetir a mesma formação do lado direito. Ronaldinho e França já foram experimentados em alguns amistosos, mas nenhum dos dois tem características para exercer essa função.
Se houvesse um ponta-direita, França no meio, Sávio na esquerda e Rivaldo vindo de trás, o ataque ficaria melhor distribuído, como a Holanda com Overmars e Zenden pelas pontas, Kluivert na frente e Bergkamp mais recuado.
Se o Rivaldo jogasse na seleção como faz no Barcelona, avançado pela esquerda (assim ele se tornou o melhor do mundo), poderia jogar ele e o Alex. Rivaldo na função do Sávio, e Alex na do Rivaldo. Seria outra boa opção. Como Luxemburgo e Rivaldo não querem, fica quase inviável a dupla Rivaldo-Alex.
Para fazer essa antiga (nova) função de ponta que ataca e defende, é necessário ter, principalmente, habilidade, velocidade e um bom cruzamento. Estas são as características do Sávio.
No lado direito do ataque, repete-se a mesma deficiência da lateral, onde só existe Cafu.
Marcelinho é o único jogador que possui essas características. Suas melhores atuações, no Corinthians, são nessa posição. Como ele tem outros defeitos, não sei se daria certo. Falta um Figo no futebol brasileiro.
Vejo com otimismo a nova escalação do ataque da seleção. Mais pela qualidade dos jogadores escalados que pelo desenho tático.
Muito mais importante que o esquema tático é a postura do time. A seleção brasileira, aqui ou em qualquer lugar do mundo, tem de arriscar, pressionar e tomar a bola na intermediária do time adversário. Daí fica mais perto e fácil atingir o gol.
Uma equipe é mais ofensiva por essa atitude corajosa, não pelo número de atacantes.
A seleção brasileira não tem a obrigação de dar show hoje, já que existe um adversário de tradição. Ela tem, sim, o compromisso de ter uma nova postura em campo.

A Eurocopa continua com muitos gols, excelentes jogadores e uma tendência ofensiva.
Holanda x Itália e Portugal x França fazem as semifinais. Nenhuma surpresa.
Quando a Alemanha brilhava e ganhava títulos, se valorizava muito a disciplina, garra e aplicação tática alemã.
Esqueciam que o país sempre teve excepcionais jogadores. Eram tantos que nem vou citá-los. Hoje, a Alemanha não tem craques e não vence.
Há alguns anos, o mesmo aconteceu com o Grêmio.
A equipe tinha excelentes jogadores em quase todas as posições e ganhou vários títulos estaduais e nacionais. Exaltavam muito a garra, marcação gaúcha e o técnico Felipão. Pouco se falava da qualidade dos jogadores.
Volto à Eurocopa. Portugal e Holanda jogam um futebol mais leve, envolvente, ofensivo e gostoso. A Itália, ao contrário, venceu todas as partidas, mas não agradou com seu futebol defensivo e pragmático. A França é uma mistura das duas filosofias. Apesar de o ataque francês ser melhor que o da Copa de 98, falta um excepcional jogador na frente, perto do Zidane, como Figo, Kluivert, Bergkamp etc.
Zidane pode não ser o melhor jogador da Eurocopa e do mundo, mas é o que mais me fascina, pela sua elegância, técnica perfeita no passe, na organização das jogadas, na condução e no domínio da bola.
Um espetáculo!
Se ele finalizasse como o Rivaldo, seria um craque quase perfeito como Platini e Zico.
Prefiro uma final entre Holanda e Portugal. Seria ótimo para o futuro do futebol. Além disso, Portugal necessita de um grande título.
Se eu não tivesse sido um atleta, me bastaria o futebol espetáculo, a beleza e o prazer, sem compromisso com a vitória. O esporte não é assim.
Não basta encantar, é preciso também vencer.
Não basta vencer, é preciso também encantar.
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