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Análise
Blatter merece levar cartão vermelho
GEORGE VECSEY
DO "NEW YORK TIMES'
Seria agradável imaginar
que a partida maldosa entre
Portugal e Holanda foi uma
aberração, pela qual podemos atribuir a culpa ao juiz.
O árbitro russo está voltando a Moscou, mas os mestres do futebol continuam
em seus postos, incapazes de
corrigir as mensagens de violência e simulação que fazem
o esporte perder prestígio.
A Copa sofreu novo revés
quando outro árbitro errou
em sua interpretação. Fabio
Grosso, da Itália, deixou-se
tropeçar no corpo do australiano Lucas Neill, caído no
chão. O instinto humano determinaria que Grosso saltasse sobre Neill, mas ele
despencou. O juiz Luiz Cantalejo acreditou na encenação e deu pênalti. Totti fez a
cobrança e marcou o gol que
permitiu à Itália avançar.
A encenação foi tão escandalosa que qualquer pessoa
normal teria dito a Grosso,
"Ah, vá!", mas os juízes perderam a capacidade de raciocínio. Apesar das ordens de
punir os delitos com cartões,
os árbitros não conseguem
impedir que os jogadores
troquem chutes ou se joguem. A culpa por essas falhas cabe à Fifa e ao seu presidente, Joseph Blatter.
Questionado sobre o jogo
entre Portugal e Holanda,
Blatter respondeu: "Considero que, hoje, o juiz não esteve à altura dos demais participantes. Ele poderia ter recebido um cartão amarelo".
Foi uma declaração engraçadinha, mas quem dirige o
esporte? Blatter é um profissional de marketing que sabe
como impor o nome da Fifa
em cada estádio e como forçar torcedores a tirar os calções, fornecidos por marca
de cerveja que não está entre
os patrocinadores da Copa.
Mas Blatter não demonstrou capacidade de alterar o
cinismo do futebol. Chegou a
hora de patrocinadores e federações decidirem que
Blatter, 70, não deveria continuar. É hora de uma nova
liderança, com participação
maior dos jogadores.
Os portugueses tiveram
momentos de belo futebol,
mas os estragaram com suas
faltas maldosas e com a propensão a ceder a uma estranha gravidade pessoal que os
fazia cair. Os holandeses jogaram sujo e perderam meu
respeito ao manter a bola em
jogo enquanto um rival estava caído. Em termos amplos,
os dois times foram um lixo.
Blatter ordenou que os juízes aplicassem mais cartões,
e vejam o que isso causou: 16
cartões amarelos e o recorde
de quatro vermelhos.
Estou cobrindo minha sétima Copa e adoro o evento,
mas consigo compreender
que norte-americanos se sintam desgostosos ao assistir a
alguns minutos de um jogo e
perceber que os atletas seguem um código de falsidade
e fingem lesões sérias.
Não sou grande fã de futebol americano -as pausas
entre as jogadas me incomodam-, mas admito que o esporte não recompensa um
jogador que role no gramado
como alguém possuído por
espíritos malignos. Isso seria
visto como nada másculo.
Na América do Norte, o
hóquei sofreu problemas devido à violência. Então as penalidades se tornaram mais
severas. O basquete adota regras mais severas para coibir
golpes baixos e brigas. À sua
maneira, o futebol americano também tenta reduzir o
número de faltas.
É possível gerar mudança
rápida em um esporte. Replays instantâneos são um
exemplo. Os jogadores da
Copa, por mais admiráveis
que sejam, aprenderam a simular. No meio do meu
evento esportivo favorito, tenho de admitir: isso cansa.
Tradução de PAULO MIGLIACCI
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