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Gana pára por um dia, e derrota provoca decepção, revolta e orgulho
SAMUEL YIRENKYI
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, EM ACRA
Foi um dia em que os 20 milhões de ganenses acordaram
com grandes expectativas
quanto à sua seleção nacional.
Após as vitórias na primeira fase, os votos de boa sorte do presidente e a reza especial organizada pelo clero, a população estava certa de que o Brasil terminaria a partida derrotado.
As escolas, que normalmente
funcionam até as 14h, fecharam
ao meio-dia. Os alunos, eufóricos, foram dispensados para
que pudessem voltar para casa
e assistir ao jogo, às 15h.
E a euforia não tomava conta
só das crianças: os professores,
as empresas, o funcionalismo
público, o comércio, todos só
pensavam na partida, que muitos ganenses viam como a mais
importante de todos os tempos.
Até aqueles que não acompanhavam mais futebol devido a
um acidente em um estádio local que matou 126 pessoas
acompanharam os Black Stars,
as Estrelas Negras, os astros
nacionais na Alemanha.
Antes do pontapé inicial, torcedores se espalharam pela cidade. Bares, recepções de hotéis e espaços especiais com telões estavam completamente
lotados -até no Parlamento
havia ganenses dançando, batucando, empurrando a equipe.
A boa participação de Gana
na Copa também empurrou o
comércio de Acra. Muitos desempregados aproveitaram a
Copa para vender nas ruas produtos com símbolos do país e
dos Black Stars. Alguns camelôs e lojistas faturaram só ontem, antes do jogo, até 6 milhões de cedis (R$ 1.500).
Houve até revenda de mercadoria: muitas das pessoas com
quem conversei em Acra revelaram que os comerciantes
compravam camisetas, por entre 80 mil e 100 mil cedis, e as
revendiam nas ruas por entre
120 mil e 180 mil cedis.
Quando o jogo começou, o
apoio expressado pelos ganenses aos primeiros ataques dos
Black Stars foi impressionante.
Mesmo após o primeiro gol,
muitos acreditavam que o time
poderia se recuperar. Então
veio o segundo gol, e começaram as críticas ao juiz. "Tenho a
impressão de que esse árbitro
recebeu propina", acusou
Tony, vendedor de calçados.
Com o terceiro gol, as críticas
aumentaram: "O árbitro está
contra nós! Quer favorecer o
Brasil", disse à agência France
Presse a jovem Mensah, ao lado
do vendedor de calçados.
As reações pós-jogo eram de
decepção mas também de orgulho. "Estou triste. Não sei o que
fazer. Eles foram bem, mas esperávamos mais. Jogamos melhor que o Brasil, mas fomos
roubados", lamentou, à Reuters, o arquiteto Abdul Aziz.
Os Black Stars podem ter
perdido o jogo, mas muitos
acreditam que foram derrotados bravamente, e houve quem
dissesse que perder para o Brasil por 3 a 0 não é desonroso.
Tradução de PAULO MIGLIACCI
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