São Paulo, quarta-feira, 28 de junho de 2006

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Gana pára por um dia, e derrota provoca decepção, revolta e orgulho

SAMUEL YIRENKYI
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, EM ACRA

Foi um dia em que os 20 milhões de ganenses acordaram com grandes expectativas quanto à sua seleção nacional. Após as vitórias na primeira fase, os votos de boa sorte do presidente e a reza especial organizada pelo clero, a população estava certa de que o Brasil terminaria a partida derrotado. As escolas, que normalmente funcionam até as 14h, fecharam ao meio-dia. Os alunos, eufóricos, foram dispensados para que pudessem voltar para casa e assistir ao jogo, às 15h. E a euforia não tomava conta só das crianças: os professores, as empresas, o funcionalismo público, o comércio, todos só pensavam na partida, que muitos ganenses viam como a mais importante de todos os tempos. Até aqueles que não acompanhavam mais futebol devido a um acidente em um estádio local que matou 126 pessoas acompanharam os Black Stars, as Estrelas Negras, os astros nacionais na Alemanha. Antes do pontapé inicial, torcedores se espalharam pela cidade. Bares, recepções de hotéis e espaços especiais com telões estavam completamente lotados -até no Parlamento havia ganenses dançando, batucando, empurrando a equipe. A boa participação de Gana na Copa também empurrou o comércio de Acra. Muitos desempregados aproveitaram a Copa para vender nas ruas produtos com símbolos do país e dos Black Stars. Alguns camelôs e lojistas faturaram só ontem, antes do jogo, até 6 milhões de cedis (R$ 1.500). Houve até revenda de mercadoria: muitas das pessoas com quem conversei em Acra revelaram que os comerciantes compravam camisetas, por entre 80 mil e 100 mil cedis, e as revendiam nas ruas por entre 120 mil e 180 mil cedis. Quando o jogo começou, o apoio expressado pelos ganenses aos primeiros ataques dos Black Stars foi impressionante. Mesmo após o primeiro gol, muitos acreditavam que o time poderia se recuperar. Então veio o segundo gol, e começaram as críticas ao juiz. "Tenho a impressão de que esse árbitro recebeu propina", acusou Tony, vendedor de calçados. Com o terceiro gol, as críticas aumentaram: "O árbitro está contra nós! Quer favorecer o Brasil", disse à agência France Presse a jovem Mensah, ao lado do vendedor de calçados. As reações pós-jogo eram de decepção mas também de orgulho. "Estou triste. Não sei o que fazer. Eles foram bem, mas esperávamos mais. Jogamos melhor que o Brasil, mas fomos roubados", lamentou, à Reuters, o arquiteto Abdul Aziz. Os Black Stars podem ter perdido o jogo, mas muitos acreditam que foram derrotados bravamente, e houve quem dissesse que perder para o Brasil por 3 a 0 não é desonroso.


Tradução de PAULO MIGLIACCI


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