São Paulo, quarta-feira, 28 de junho de 2006

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Clóvis Rossi

Fome zero

HARALD Schumacher, goleiro da Alemanha nas Copas de 82 e 86, comentou dias atrás ao jornal francês "Le Monde" que Ronaldo demonstrava não ter fome de futebol. E justificava: já ganhou tudo o que quis, em dinheiro, fama, títulos. Apesar dos 3 a 0 contra Gana, dá para estender o comentário ao conjunto de jogadores brasileiros. Jogam como se estivesse batendo o ponto na repartição, de acordo com o nem sempre justo estereótipo do funcionário público: uma ou outra ação, para o público ficar satisfeito, e depois o paletó na cadeira com o dono ausente. Tão ausente que o comentarista do site da Fifa, que deveria ser neutro, não resistiu e tascou no fim do primeiro tempo: "Pelo volume de jogo, você não saberia quem era o campeão do mundo em campo". A rigor, o Brasil ganhou menos por seus méritos e mais pelos defeitos do adversário. Primeiro, Gana fez ontem uma das mais perfeitas exibições de linha burra de zagueiros em muitos anos. Praticamente todas as chances do Brasil nasceram de bolas às costas dos zagueiros alinhados na sua própria intermediária. Exceto o toque de calcanhar de Ricardinho que Juan desperdiçou já no finzinho, quando havia mais exibição do que jogo. Segundo defeito de Gana: uma pontaria horrorosa. Chutaram a gol até mais vezes do que o Brasil (18 a 11), mas só 7 tiveram direção (contra 10 do Brasil). No mais, a repetição da escalação do primeiro jogo mostrou a repetição dos defeitos então apontados. Os principais: 1 - A defesa permite um excesso de presença perigosa do adversário pelo miolo da área, a ponto de Dida ter sido de novo figura relevante, quando goleiro do Brasil, contra time pequeno, não deveria nem suar a camisa. 2 - Não há uma só jogada organizada e coletiva de ataque. Há lampejos individuais (raros, aliás, na partida de ontem). 3 - Por muito que se fale mal de Ronaldo, o drible que ele deu no goleiro no gol de abertura e o drible errado que Adriano deu no mesmo goleiro pouco mais tarde só reafirmam o óbvio: gordo ou não, Ronaldo é muito melhor que Adriano, que mais parece centroavante russo que brasileiro. Dá para ser campeão assim mesmo. Nenhum dos oito sobreviventes brilhou. Mas só do Brasil se esperava brilho.

crossi@uol.com.br


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