São Paulo, terça-feira, 28 de junho de 2011

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ENTREVISTA MARTA

Nossa seleção não precisa provar mais nada a ninguém

MELHOR JOGADORA DO MUNDO, QUE AMANHÃ ESTREIA NO MUNDIAL, FALA SOBRE O LEGADO QUE O TÍTULO TRARIA PARA O PAÍS E O PAPEL DE DILMA

Alex Grimm/Getty Images/Fifa
Marta e companheiras da seleção em sessão de fotos para a Fifa

LUCAS REIS
DE SÃO PAULO

A melhor jogadora do mundo nasceu num país que ama o futebol, mas não liga para meninas jogando bola.
Ao entrar em campo amanhã para enfrentar a Austrália, Marta, 25, começará a disputar sua terceira Copa do Mundo. Para ela, é a chance de, enfim, conquistar um título de respeito para o Brasil e, como consequência, alavancar a modalidade no país.
A alagoana, estrela do Western New York Flash, dos EUA, e eleita cinco vezes a melhor do mundo pela Fifa, falou à Folha no fim da semana passada, véspera do embarque da seleção brasileira para a Alemanha.

 

Folha - O que o título mundial mudaria no Brasil?
Marta -
Pode ajudar muito. De certa forma, é algo que a gente pode reivindicar. É complicado, a gente poderia ter algo melhor para que o futebol feminino acontecesse com mais facilidade.

O título do Pan [no Rio, em 2007] foi muito celebrado, mas pouca coisa mudou.
Se tivéssemos um calendário constante por muito tempo, não só em épocas de competições, as coisas mudariam. É lógico que nós, meninas, temos a esperança de que o futebol feminino cresça com um título mundial.

Por que o futebol feminino ainda não vingou no Brasil?
É a mentalidade das pessoas e a forma com que elas enxergam o esporte. Talento e potencial a gente tem. Não temos é investimento, apoio, opção de trabalho, não há interesse. Mas não se pode parar nos obstáculos. Se a gente parar de vez, o futebol feminino no país será extinto.

A CBF deveria apoiar mais a modalidade?
Mas a CBF faz o papel dela. A gente está aqui, treinando. Não temos um calendário fixo, mas a seleção feminina vem treinando no Brasil constantemente. E não depende só da CBF. É um conjunto de ações, mudanças.

Seus títulos de melhor do mundo ajudaram?
Ajudou, ajudou. Não da maneira como eu gostaria que fosse, mas está andando. Espero que a caminhada não pare no meio do caminho, que a gente possa continuar.

Ter uma mulher na presidência pode ajudar?
Claro. É mais uma prova de que nós, mulheres, queremos e vamos até o final, independentemente de ser na política, no esporte, no trabalho. Eu, como embaixadora da ONU e defensora dos direitos das mulheres, me orgulho da Dilma. Ela é uma força a mais que nós, mulheres, estamos recebendo. Com o exemplo da Dilma, mais um obstáculo foi quebrado.

Pouca gente no Brasil fala sobre o Mundial da Alemanha. Sente-se frustrada por isso?
Frustrada não. É normal, pois nos Estados Unidos e em outros países o futebol feminino é profissional. Aqui, ainda não é. Mas isso não nos abala. Em época de competições, nunca há aquela atenção que deveria ter. Mas a gente sabe do que é capaz.

O Brasil tem chegado nas finais, mas não vence. Sente pressão para ser campeã?
Não. A gente não encara como algo que temos que provar. Já provamos e estamos provando. O Brasil, mesmo com falta de apoio, sempre chega às finais! A gente não tem mais o que provar, apenas trabalhar. Podemos ser campeãs do mundo, vencer uma Olimpíada.

Sente-se mais prestigiada nos EUA do que no Brasil?
Não. Por parte da população, não. As pessoas têm um carinho enorme por mim. Hoje, nós temos um público bem maior do que tínhamos há anos. Uma pena que não há competições no Brasil todo. Não me sinto menos privilegiada aqui.

Você chega nesta Copa na melhor fase da sua carreira?
Difícil dizer. Posso dizer que estou bem. Mas tive bons momentos, principalmente em 2007 e 2008.


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