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São Paulo, segunda-feira, 28 de julho de 2003

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Caos estrutural põe Pan na 'mão de Deus'


Apagões diários, sistema de trânsito improvisado e falta de segurança nas ruas atormentam Santo Domingo Caos estrutural põe Pan na "mão de Deus"


EDUARDO OHATA
GUILHERME ROSEGUINI
JOÃO CARLOS ASSUMPÇÃO
ENVIADOS ESPECIAIS A SANTO DOMINGO

As instalações esportivas devem ficar prontas em cima da hora, mas a cidade certamente não. A partir de sexta-feira, quando começa o 14º Pan-Americano, Santo Domingo viverá um caos.
A previsão é do próprio governo do país caribenho, que admite o risco de os sistemas de energia e de transporte entrarem em colapso, e da Organização Desportiva Pan-Americana, que rege o esporte olímpico nas Américas.
""Só nos resta entregar a Deus", desabafou Mario Vazquez Raña, presidente da Odepa, ao ser indagado pela Folha sobre a não-realização de testes em todas as instalações devido ao atraso nas obras.
A quatro dias do início dos Jogos, os organizadores ainda finalizam a construção de ginásios e estádios, o centro de imprensa e a Vila Pan-Americana.
Mas, na correria, deixaram para trás o projeto de testar os equipamentos, o sistema de transporte, o esquema de segurança e até mesmo os geradores de energia. A solução é confiar na sorte e torcer para tudo dar certo.

Desorganização inédita
Raña chegou a classificar esta edição do Pan como aquela que trouxe dores de cabeça pelo período mais prolongado. ""Houve inúmeras alterações. Só a logomarca foi mudada cinco vezes. Por causa de Santo Domingo chegamos a convocar duas assembléias extraordinárias e quatro reuniões do comitê executivo."
O dirigente, que é mexicano, considera que o país da América Central conseguiu a proeza de superar a Venezuela, cujo Pan-Americano, realizado em 1983, também foi marcado por uma série de problemas. Nos Jogos de Caracas, quando os primeiros atletas chegaram à Vila, as portas dos alojamentos ainda estavam sendo colocadas.
Segundo César Cedeño, secretário de Esportes do governo dominicano, um dos grandes riscos do atual Pan é o de ocorrerem apagões durante o evento. ""Mas o problema deve ser fora, não dentro dos ginásios. Em jogos à noite [se faltar luz], a dificuldade será a evasão do público de um local ermo como o parque olímpico."
Na última semana, houve apagões diários na região central de Santo Domingo, com duração média de 30 minutos. O problema forçou o governo federal a anunciar neste mês novos investimentos para tentar contê-los.
Já o trânsito, que lembra o de São Paulo, ficará ainda pior.
A idéia da organização é separar em vias expressas uma pista só para a ""família do Pan" -leia-se atletas, dirigentes, organizadores e imprensa. A população local ficaria com o que restasse.
Se o projeto não der certo, será abandonado já no terceiro dia do Pan-Americano.
""A cidade tem um trânsito complicado, mas a prioridade é para quem está envolvido com o Pan. O jeito é alterar a rota de última hora e colocar à disposição de atletas e dirigentes ônibus acompanhados por batedores", explicou Bienvenido Solano, coordenador-geral do evento.
Outro problema diz respeito à segurança. Os organizadores destacaram cerca de 7.000 oficiais só para tomar conta da Vila e dos locais dos eventos e admitem que novamente a população será penalizada, pois o policiamento das ruas ficará reduzido.
E, para quem não se sentir seguro, a recomendação do governo local: ficar em casa no período dos Jogos Pan-Americanos, que se estenderão por 17 dias.


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