São Paulo, segunda-feira, 28 de agosto de 2006

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Festa tem palavrão e poucas lágrimas

Em pódio sem firulas, Massa atrai amigos de equipes concorrentes para dividir celebração que deveria ser só da Ferrari

Piloto brasileiro só relaxa com champanhe e explica a alegria dos rivais com sua primeira vitória na F-1 por ser "honesto e aberto"


DO ENVIADO A ISTAMBUL

A primeira tarde de Felipe Massa como vencedor na F-1 teve um quê de raiva, algumas lágrimas vertidas, outras tantas contidas, voz embargada e uma surpreendente vibração de membros de times rivais.
Diferentemente de Rubens Barrichello, que se desmanchou em choro quando venceu pela primeira vez, na Alemanha, em 2000, Massa chegou ao pódio com aspecto de ira, xingando. "Caralho", ele gritou, para depois correr, socar o ar e soltar outro palavrão. "Porra!"
Durante os hinos, manteve a expressão fechada e de tempos em tempos apontava o indicador para membros da Ferrari.
Só descontraiu ao celebrar com o champanhe. Aí deu abraços em Michael Schumacher e no inglês Rob Smedley, seu engenheiro, que ontem também celebrou uma vitória no pódio pela primeira vez na carreira.
Logo abaixo, seus pais, Luiz Antônio e Ana, acompanhavam a cena ao lado do francês Jean Todt, diretor geral da escuderia -ele e o filho, Nicolas, são os empresários de Massa.
"Não sei se foi premonição, mas eu não consegui dormir bem nas últimas noites. Só sei que, aqui, estamos lembrando de todo o sofrimento do Felipe até chegar à F-1. De como ele veio sozinho para a Europa [em 2000, para correr na Itália], sem falar outras línguas, sem muito dinheiro... Isso tudo vem à cabeça", disse, emocionado, Luiz Antônio, ex-piloto de turismo que chegou a disputar o Brasileiro de Marcas.
"Felipe foi perfeito hoje [ontem]", limitou-se a dizer Todt.
Atrás da turma que trajava vermelho, grupos vestindo cores as mais variadas aplaudiam a vitória do brasileiro: eram integrantes de outras equipes que saíram de seus boxes para aplaudir um amigo. Dono de um temperamento normalmente relaxado e brincalhão, Massa raramente se envolve em discussões e polêmicas.
Até um piloto, Nico Rosberg, da Williams, estava entre os que aplaudiam o vencedor. Diretor da Honda, o ex-piloto Gil de Ferran classificou a vitória na Turquia como "merecida".
"Sou um cara que nunca teve problema com ninguém. Sou um cara honesto e aberto e tenho certeza de que eles me vêem assim, como um cara honesto e aberto", afirmou Massa, após a festa. "Acho que é por isso que ficaram contentes. Fico feliz quando eles vencem também porque sei que a vitória é o resultado de muito suor."
Depois de vencer a prova e as perguntas dos repórteres, Massa ainda encarou torcedores no paddock até conseguir chegar ao caminhão da Ferrari.
Só às 17h45 locais, mais de uma hora após a bandeira quadriculada, é que pôde abraçar os pais -sua namorada, Rafaela Bassi, não estava na Turquia.
Ainda no caminhão, recebeu a visita de seu antecessor na escuderia e único compatriota no grid, Rubens Barrichello. "Foi muito bom escutar o hino nacional tocando para um amigo como o Felipe", disse o piloto da Honda, que na véspera afirmou que a alegria pela pole position "duraria pouco", crítica ao jogo de equipe da Ferrari.
À noite, os Massa comemorariam a vitória com um jantar em Istambul, para o qual Barrichello foi convidado. Hoje, o ferrarista e os pais deixarão a Turquia com destino à Monza, na Itália, onde o piloto testará de amanhã a quinta-feira.
Antes, uma parada estratégica: o jato alugado pela família pousará em Bad Nauheim, perto de Frankfurt, na Alemanha. Lá, Massa passará por avaliação física numa clínica freqüentada por atletas de ponta. Entre eles, um dos pilotos que o ergueram nos ombros ontem, Michael Schumacher. 0 (FÁBIO SEIXAS)


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