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Festa tem palavrão e poucas lágrimas
Em pódio sem firulas, Massa atrai amigos de equipes concorrentes para dividir celebração que deveria ser só da Ferrari
Piloto brasileiro só relaxa com champanhe e explica a alegria dos rivais com sua primeira vitória na F-1 por ser "honesto e aberto"
DO ENVIADO A ISTAMBUL
A primeira tarde de Felipe
Massa como vencedor na F-1
teve um quê de raiva, algumas
lágrimas vertidas, outras tantas
contidas, voz embargada e uma
surpreendente vibração de
membros de times rivais.
Diferentemente de Rubens
Barrichello, que se desmanchou em choro quando venceu
pela primeira vez, na Alemanha, em 2000, Massa chegou ao
pódio com aspecto de ira, xingando. "Caralho", ele gritou,
para depois correr, socar o ar e
soltar outro palavrão. "Porra!"
Durante os hinos, manteve a
expressão fechada e de tempos
em tempos apontava o indicador para membros da Ferrari.
Só descontraiu ao celebrar
com o champanhe. Aí deu abraços em Michael Schumacher e
no inglês Rob Smedley, seu engenheiro, que ontem também
celebrou uma vitória no pódio
pela primeira vez na carreira.
Logo abaixo, seus pais, Luiz
Antônio e Ana, acompanhavam
a cena ao lado do francês Jean
Todt, diretor geral da escuderia
-ele e o filho, Nicolas, são os
empresários de Massa.
"Não sei se foi premonição,
mas eu não consegui dormir
bem nas últimas noites. Só sei
que, aqui, estamos lembrando
de todo o sofrimento do Felipe
até chegar à F-1. De como ele
veio sozinho para a Europa [em
2000, para correr na Itália],
sem falar outras línguas, sem
muito dinheiro... Isso tudo vem
à cabeça", disse, emocionado,
Luiz Antônio, ex-piloto de turismo que chegou a disputar o
Brasileiro de Marcas.
"Felipe foi perfeito hoje [ontem]", limitou-se a dizer Todt.
Atrás da turma que trajava
vermelho, grupos vestindo cores as mais variadas aplaudiam
a vitória do brasileiro: eram integrantes de outras equipes
que saíram de seus boxes para
aplaudir um amigo. Dono de
um temperamento normalmente relaxado e brincalhão,
Massa raramente se envolve
em discussões e polêmicas.
Até um piloto, Nico Rosberg,
da Williams, estava entre os
que aplaudiam o vencedor. Diretor da Honda, o ex-piloto Gil
de Ferran classificou a vitória
na Turquia como "merecida".
"Sou um cara que nunca teve
problema com ninguém. Sou
um cara honesto e aberto e tenho certeza de que eles me
vêem assim, como um cara honesto e aberto", afirmou Massa,
após a festa. "Acho que é por isso que ficaram contentes. Fico
feliz quando eles vencem também porque sei que a vitória é o
resultado de muito suor."
Depois de vencer a prova e as
perguntas dos repórteres, Massa ainda encarou torcedores no
paddock até conseguir chegar
ao caminhão da Ferrari.
Só às 17h45 locais, mais de
uma hora após a bandeira quadriculada, é que pôde abraçar
os pais -sua namorada, Rafaela Bassi, não estava na Turquia.
Ainda no caminhão, recebeu
a visita de seu antecessor na escuderia e único compatriota no
grid, Rubens Barrichello. "Foi
muito bom escutar o hino nacional tocando para um amigo
como o Felipe", disse o piloto
da Honda, que na véspera afirmou que a alegria pela pole position "duraria pouco", crítica
ao jogo de equipe da Ferrari.
À noite, os Massa comemorariam a vitória com um jantar
em Istambul, para o qual Barrichello foi convidado. Hoje, o
ferrarista e os pais deixarão a
Turquia com destino à Monza,
na Itália, onde o piloto testará
de amanhã a quinta-feira.
Antes, uma parada estratégica: o jato alugado pela família
pousará em Bad Nauheim, perto de Frankfurt, na Alemanha.
Lá, Massa passará por avaliação
física numa clínica freqüentada
por atletas de ponta. Entre eles,
um dos pilotos que o ergueram
nos ombros ontem, Michael
Schumacher. 0
(FÁBIO SEIXAS)
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