São Paulo, sábado, 28 de agosto de 2010

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RITA SIZA

Brasileiros disfarçados


Eu gosto de os ter a jogar no meu clube. Se isso incomoda tanto os espanhóis, problema deles


DIZIA O DIÁRIO espanhol "La Marca" na passada quarta-feira, lamentando a derrota do Sevilla por 4 a 3 contra o Sporting de Braga e posterior afastamento da Copa dos Campeões, que é muito diferente engolir quatro golos se estes forem marcados pelo "Super Barça" ou então por uns "brasileiros disfarçados de portugueses", que ensinaram aos sevilhanos -"um por um"- os fundamentos deste esporte chamado futebol. "É coisa séria", decretava o jornal espanhol.
A imprensa portuguesa chamava "coisa séria" a algo completamente diferente: que o clube de Braga, a quinta maior cidade portuguesa em população, tenha conseguido qualificar-se para aquela importante competição pela primeira vez na sua história de 90 anos. "Um feito extraordinário", comentou o editor de esportes do meu jornal.
Aqui, ninguém se deu ao trabalho de salientar que, no plantel de 30 jogadores do clube minhoto, prevalece a nacionalidade brasileira: 17 jogadores nasceram no Brasil, seis em Portugal e um em cada um destes países: Espanha, Argentina, Uruguai, Peru, Senegal, Camarões e Nigéria.
O que os jornalistas portugueses elogiaram foi como o Braga acertou nas contratações desta época, com sotaque brasileiro.
O avançado Lima, que fez o "hat trick" em Sevilha, e que o time chamado dos arsenalistas foi buscar a outro histórico português, o Belenenses, por 400 mil. Felipe, que era goleiro do Corinthians -de onde saiu em litígio-, foi um negócio excelente, em termos desportivos e financeiros -o passe dele pertence a um grupo de investidores e o Braga só suporta 30% dos salários.
E também o Elton, avançado que no Vasco da Gama foi responsável por 17 golos.
O extremo Alan, nascido em Salvador e vindo do Ipatinga, é um herói em Braga -como é também Matheus, que foi quem abriu o marcador nos dois jogos da eliminatória contra o Sevilla.
O caso do Braga não é único em Portugal, onde a maior parte das equipas contam com jogadores brasileiros para inspiração. Aliás, é curioso especular se muitos destes futebolistas permaneceriam desconhecidos dentro do Brasil se não tivessem imigrado para Portugal.
Por exemplo, o zagueiro David Luiz, agora chamado por Mano Menezes para a seleção canarinha, e um dos mais queridos da torcida do Benfica, fez uma carreira discreta na sua pátria: ele alinhava no Vitória quando o clube lutava para escapar da terceira divisão nacional.
Eu cá gosto de o ter a jogar no meu clube. Se isso incomoda tanto os espanhóis, problema deles.


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