São Paulo, segunda-feira, 28 de outubro de 2002

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AUTOMOBILISMO

Com propostas polêmicas, reunião pode trazer a maior transformação da categoria nos últimos anos

FIA vota hoje pacote de mudanças na F-1

FÁBIO SEIXAS
DA REPORTAGEM LOCAL

Lastro nos carros, revezamento de pilotos, quatro treinos classificatórios... Ao todo, são nove pontos. Nove propostas que podem mexer profundamente com a F-1. A FIA vota hoje, na Inglaterra, o maior pacote de mudanças técnicas da categoria dos últimos anos.
O encontro entre dirigentes da entidade máxima do automobilismo, chefes e fornecedores de equipes e promotores de GPs será em Heathrow. E o ambiente não deverá ser dos mais tranquilos.
Dois princípios movem a reunião. Primeiro, encontrar alternativas para reduzir os custos da categoria. Segundo, tornar mais difícil um domínio tão acachapante como o da Ferrari em 2002.
"Certamente vai ter pancadaria. Sempre tem um quebra pau", afirmou à Folha Tamas Rohonyi, promotor do GP Brasil e um dos 28 integrantes da comissão de F-1. "Dá para dizer que algumas sugestões técnicas serão aprovadas. Mas outras são bois de piranha."
No primeiro caso, Rohonyi se refere às propostas de limitação do uso de motores, de implantação de quatro treinos classificatórios e da proibição de testes em circuitos que recebem o Mundial.
"São idéias interessantes porque reduzem os custos de operação das equipes e trazem mais interesse para as provas", declarou.
Mas há o segundo caso, aquele das sugestões "bois de piranha".
"Essas pseudo-propostas não foram sugeridas seriamente. Não podemos admitir que o Bernie Ecclestone [dirigente comercial da F-1" e o Max Mosley [presidente da FIA" pensem mesmo em pôr o Schumacher na Minardi. Eles não são idiotas", disse o promotor. "E a história do lastro é só para dar um susto nas equipes grandes. A FIA só lançou essas idéias para entreter o público."
Se foi esse o objetivo, a entidade o atingiu: com a temporada decidida há meses, a polêmica ganhou espaço na mídia. Mais prestigiosa publicação de automobilismo, a inglesa "Autosport" se divertiu imaginando o tal revezamento de pilotos. Foram montagens com Michael Schumacher na Minardi, Alex Yoong em um Williams...
Com base em dados de equipes, a "Autosport" também fez uma simulação do que Schumacher conseguiria neste ano se a regra do lastro estivesse vigorando.
Na experiência, o carro do alemão receberia um quilo para cada ponto conquistado, como sugere a FIA. Isso seria suficiente para que, na penúltima prova do ano, ele fosse superado por Yoong, paradigma de piloto ruim. Um detalhe desmascara a seriedade da proposta: se adotado, o lastro tornaria a F-1 mais cara, efeito oposto do que os dirigentes buscam.
Isso porque as equipes obviamente tentariam compensar a desvantagem em outros campos.
"Em carros de F-1 temos que considerar três componentes: a potência do motor, que determina a velocidade; o peso, que define a aderência do veículo ao solo e o espaço de frenagem e a aceleração máxima nas retomadas; e a relação potência/peso. Quanto mais potente e mais leve for o carro, maior será a aceleração", disse o professor Manfredo Tabacniks, do Instituto de Física da USP.
"Para a mesma potência, carros mais pesados têm menor aceleração final, mas em pistas sinuosas podem compensar isso nas freadas e nas saídas de curva pois são melhores na retomada de velocidade devido à maior aderência."
O resultado da reunião sai hoje. Por hora, a única certeza é que no dia 9 de março a F-1 estará bem diferente da de Suzuka, há 15 dias.


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