UOL


São Paulo, terça-feira, 28 de outubro de 2003

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

BASQUETE

O playground de Jordan

MELCHIADES FILHO
EDITOR DE ESPORTE

Há muitos anos a indústria do basquete procura um sucessor para Michael Jordan. Empilhadas na prateleira, as revistas americanas anunciam na capa os candidatos -antes mesmo de o "original" ter pensado em parar.
O criativo Penny Hardaway, que cativou o torcedor de imediato, virou até brinquedo e programa na MTV. Mas não conteve o ego até que perdeu a simpatia dos colegas. De joelhos amolecidos pela idade, hoje o armador entra e sai discretamente, coadjuvante no time do Phoenix, ameaçado de perder minutos até para o novato brasileiro Leandrinho.
Grant Hill, versado em todos os fundamentos, a quem faltaram uma pitada de ambição (personalidade?) e tornozelos resistentes para cumprir o prognóstico. O ala se recupera da terceira cirurgia no pé. Frustrado com os dividendos da contratação de US$ 93 milhões, o Orlando fala que ele só voltará às quadras em 2004/05.
Jerry Stackhouse não teve papas na língua. Prometeu revolucionar o esporte tão logo aterrissou na NBA com currículo semelhante ao do ídolo. Mas, humilhado pelos veteranos nas primeiras rodadas, refugiou-se em uma redoma psicológica. Ficou ainda mais fominha. Hoje o armador implora reconhecimento no Washington.
A festa para Vince Carter foi a mais barulhenta, tanto quanto as enterradas dele. Talvez seja a que termina de forma mais silenciosa. Não houve crises de relacionamento. Nenhuma contusão gravíssima. Nem problemas de adaptação. O armador do Toronto simplesmente murchou aos poucos, incapaz de adicionar dimensões ao fantástico "jogo aéreo".
Vistoso dentro e discreto fora dos ginásios, Kobe Bryant caminhava para corresponder às expectativas. Aos 25 anos, ostenta três títulos e estatísticas tão ou mais impressionantes que as de Jordan (este só ganhou o primeiro de seis campeonatos aos 28).
O armador do Los Angeles Lakers reeditava o ex-astro do Chicago com o mesmo estilo acrobático, a obsessão pelo exercício de fundamentos, o prazer em defender (e não só em atacar). A mesma fixação com o visual, a preocupação com a imprensa, a voz de barítono, a mania de pendurar a língua nos lances difíceis.
Um incidente, porém, deve comprometer a trajetória de emulações e glórias. Acusado de estupro por uma recepcionista de hotel nas montanhas do Colorado, Kobe irá a julgamento ao longo do torneio que começa nesta noite. A defesa diz ter evidências suficientes para absolvê-lo. Mas como abstrair em quadra a possibilidade de prisão perpétua? Ou conciliar a rotina de treinos e partidas com as audiências? A próxima, por exemplo, no dia 10, coincide com um jogo em Memphis.
Aos poucos, os Lakers manifestam desconforto. Para o neófito Gary Payton, Kobe está fora de forma e deve ter paciência até se reencontrar. Já Shaquille O'Neal sem diplomacia anunciou que a "equipe agora é só minha".
Penso no drama de Kobe quando recebo outra revista, desta vez indicando para o altar o calouro LeBron James, sensação do Cleveland. Vai amarelar na minha estante também, aposto.

Enterrada 1
A NBA abre o campeonato com 80 "estrangeiros" inscritos, recorde.

Enterrada 2
Com a renúncia do engomado Pat Riley (Miami), sobe para 11 o número de times que trocaram de técnico, outra marca significativa.

Enterrada 3
Como em 2002/03, o jovem jornalista Rodrigo Alves promete fazer atualizações diárias desta temporada no www.rebote.blogspot.com, mais inteligente (e bonito) site em português sobre a NBA. Confira.

Enterro
A coluna passada esqueceu que Ray Allen há meses defende o Seattle.

E-mail melk@uol.com.br


Texto Anterior: Brasileiro faz São Paulo viajar sem 2 titulares
Próximo Texto: Futebol - Marcos Augusto Gonçalves: A batata de Queiroz
Índice


UOL
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.