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São Paulo, terça-feira, 28 de outubro de 2003

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FUTEBOL

A batata de Queiroz

MARCOS AUGUSTO GONÇALVES
EDITOR DE OPINIÃO

Para uma gestão que começou agarrando a bandeira da moralização do esporte, empinada no fim do mandato de FHC, o episódio do pagamento da hospedagem do ministro Agnelo Queiroz durante os Jogos Pan-Americanos pelo Comitê Olímpico Brasileiro é um escorregão daqueles difíceis de a vítima levantar e sair assobiando como se nada tivesse acontecido.
Não se trata de discutir se o valor da estadia foi alto ou baixo. Não sei qual é o limite eticamente aceitável para favores a ministros. Certamente ninguém reclamaria se Carlos Arthur Nuzman, o presidente do COB, pagasse um picolé para Queiroz numa esquina de Santo Domingo. Seria apenas uma gentileza.
Foi mais do que isso, no entanto, o que se passou. O caso acabou expondo uma relação entre o ministério e a entidade que parece avançar perigosamente pelo território da promiscuidade. A proximidade entre Queiroz e Nuzman já era suficientemente clara para que fosse preciso o COB enfatizá-la com essa cortesia, tão típica da "diplomacia boca-livre" usada por alguns de nossos dirigentes para agradar à corte.
Mas não é só isso. Queiroz foi um dos artífices da Lei Piva, que o presidente do COB convenientemente passou a designar de Agnelo/Piva. O obséquio tem sua razão de ser, já que o então deputado foi co-autor da lei que destina 2% das verbas das loterias federais para o esporte olímpico -mas ele só veio quando Queiroz se tornou ministro. Antes era só Lei Piva.
Enfim, seja Nuzman um dirigente moderno e civilizado, como de fato é, seja Queiroz um político bem intencionado, o certo é que a história criou um forte desgaste político para ambos.
Fica arranhada a autoridade do titular da pasta, e por tabela, sobram respingos para o governo Lula. Um governo que, supreendentemente pelo intransigente histórico petista, vai se mostrando muito compreensível e benevolente com esses pequenos assassinatos da ética que temos assistido em alguns ministérios.
Segundo notas publicadas ontem pelo "Painel FC", o COB estaria vendo nisso tudo o dedo de um "complô" paulista. Ele envolveria a ex-jogadora Paula, que deixou o ministério e contou a história da hospedagem (da qual também se beneficiou), a secretária municipal Nádia Campeão e o secretário estadual Lars Grael, supostamente insatisfeitos com a derrota de São Paulo na candidatura olímpica. Parece uma boa lorota para ouvidos cariocas.
Queiroz é do mesmo partido de Campeão (PC do B) e a prefeitura paulistana é do PT lulista. Mesmo aceitando que os citados -ou alguns deles- possam nutrir suas insatisfações e, eventualmente, queiram atingir Nuzman e o ministro, há de se convir que a dupla levantou a bola para ser cortada.
O fato é que a batata de Queiroz está quente. Vai ser difícil escapar da reforma ministerial. A própria Nádia Campeão poderia ser uma opção. Seja quem for, só é de esperar que a coisa não vá parar nas mãos de algum ungido pela bancada da bola.

Palmeiras e Botafogo
É de esperar que os jogos entre Botafogo e Palmeiras ocorram no Maracanã e no Morumbi. Haverá público para isso. São estádios mais seguros, além de palcos de grandes espetáculos. Seria uma excelente opção para reforçar a boa notícia que é a Série B estar sendo encarada não como um terrível pesadelo, mas como um torneio alegre e competitivo.

Falha nossa
Um leitor observou, com toda a razão, uma falha da coluna ao sugerir, na última terça, que Botafogo e Palmeiras deveriam fazer a final da Série B. Lambança: não há final nenhuma. A regra do quadrangular, como se sabe, prevê que todos joguem contra todos. Ainda assim, a coisa está boa para a dupla voltar à primeira divisão.

E-mail mag@folhasp.com.br


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