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FUTEBOL
A batata de Queiroz
MARCOS AUGUSTO GONÇALVES
EDITOR DE OPINIÃO
Para uma gestão que começou agarrando a bandeira da
moralização do esporte, empinada no fim do mandato de FHC, o
episódio do pagamento da hospedagem do ministro Agnelo Queiroz durante os Jogos Pan-Americanos pelo Comitê Olímpico Brasileiro é um escorregão daqueles
difíceis de a vítima levantar e sair
assobiando como se nada tivesse
acontecido.
Não se trata de discutir se o valor da estadia foi alto ou baixo.
Não sei qual é o limite eticamente
aceitável para favores a ministros. Certamente ninguém reclamaria se Carlos Arthur Nuzman,
o presidente do COB, pagasse um
picolé para Queiroz numa esquina de Santo Domingo. Seria apenas uma gentileza.
Foi mais do que isso, no entanto, o que se passou. O caso acabou
expondo uma relação entre o ministério e a entidade que parece
avançar perigosamente pelo território da promiscuidade. A proximidade entre Queiroz e Nuzman
já era suficientemente clara para
que fosse preciso o COB enfatizá-la com essa cortesia, tão típica da
"diplomacia boca-livre" usada
por alguns de nossos dirigentes
para agradar à corte.
Mas não é só isso. Queiroz foi
um dos artífices da Lei Piva, que o
presidente do COB convenientemente passou a designar de Agnelo/Piva. O obséquio tem sua razão
de ser, já que o então deputado foi
co-autor da lei que destina 2%
das verbas das loterias federais
para o esporte olímpico -mas ele
só veio quando Queiroz se tornou
ministro. Antes era só Lei Piva.
Enfim, seja Nuzman um dirigente moderno e civilizado, como
de fato é, seja Queiroz um político
bem intencionado, o certo é que a
história criou um forte desgaste
político para ambos.
Fica arranhada a autoridade
do titular da pasta, e por tabela,
sobram respingos para o governo
Lula. Um governo que, supreendentemente pelo intransigente
histórico petista, vai se mostrando muito compreensível e benevolente com esses pequenos assassinatos da ética que temos assistido
em alguns ministérios.
Segundo notas publicadas ontem pelo "Painel FC", o COB estaria vendo nisso tudo o dedo de
um "complô" paulista. Ele envolveria a ex-jogadora Paula, que
deixou o ministério e contou a
história da hospedagem (da qual
também se beneficiou), a secretária municipal Nádia Campeão e o
secretário estadual Lars Grael, supostamente insatisfeitos com a
derrota de São Paulo na candidatura olímpica. Parece uma boa lorota para ouvidos cariocas.
Queiroz é do mesmo partido de
Campeão (PC do B) e a prefeitura
paulistana é do PT lulista. Mesmo
aceitando que os citados -ou alguns deles- possam nutrir suas
insatisfações e, eventualmente,
queiram atingir Nuzman e o ministro, há de se convir que a dupla
levantou a bola para ser cortada.
O fato é que a batata de Queiroz
está quente. Vai ser difícil escapar
da reforma ministerial. A própria
Nádia Campeão poderia ser uma
opção. Seja quem for, só é de esperar que a coisa não vá parar nas
mãos de algum ungido pela bancada da bola.
Palmeiras e Botafogo
É de esperar que os jogos entre
Botafogo e Palmeiras ocorram
no Maracanã e no Morumbi.
Haverá público para isso. São
estádios mais seguros, além de
palcos de grandes espetáculos.
Seria uma excelente opção para
reforçar a boa notícia que é a
Série B estar sendo encarada
não como um terrível pesadelo,
mas como um torneio alegre e
competitivo.
Falha nossa
Um leitor observou, com toda a
razão, uma falha da coluna ao
sugerir, na última terça, que
Botafogo e Palmeiras deveriam
fazer a final da Série B. Lambança: não há final nenhuma. A
regra do quadrangular, como
se sabe, prevê que todos joguem contra todos. Ainda assim, a coisa está boa para a dupla voltar à primeira divisão.
E-mail mag@folhasp.com.br
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