São Paulo, quinta-feira, 28 de outubro de 2004

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FUTEBOL

Continuar tentando

SONINHA
COLUNISTA DA FOLHA

Um espectador descontrolado (ou mal intencionado) atira um copo d'água no gramado. É justo punir o time, o clube e os outros milhares de torcedores por causa de um energúmeno? De todo modo, é preciso tomar alguma atitude.
O ideal, claro, é se precaver de modo a diminuir o risco de agressões: proibir a entrada de garrafas, revistar cuidadosamente todos os torcedores, instalar câmeras nas roletas, para impedir fraudes e superlotação, e também diante das arquibancadas, para inibir impulsos indesejáveis e identificar infratores se for o caso.
Sou contra a perda de pontos, porque acho que se deve mexer o mínimo possível no resultado do jogo. A transferência de partidas para 150 km de distância pode não punir de fato o mandante (que às vezes tem torcida maior e mais calorosa longe da sede) e ainda prejudicar o visitante, que tem de se deslocar para mais longe. A inversão de mando acabaria beneficiando um terceiro time, que jogaria em casa uma vez a mais do que o previsto. Para mim, jogar em casa com portões fechados seria o castigo com menos efeitos colaterais indesejáveis.
Os torcedores ficam revoltados com a idéia. Os dirigentes nem sempre. Meses atrás, em reunião no Procon de São Paulo, alguns reagiam a recomendações ou sugestões da Procuradoria com desdém: "Para que vou gastar dinheiro com isso? O estádio corresponde a 9% do faturamento. Prefiro jogar com portões fechados".
O desprezo fica evidente na prática. O Palmeiras colocou menos de 20 mil ingressos à venda para o jogo de sábado passado, contra o líder do torneio, só para fugir do artigo 25 do Estatuto do Torcedor. Aliás, fugir da responsabilidade tinha levado o clube a banir a venda de lanches no estádio...
No dia do jogo, os meios de comunicação (como o Lancenet e a Gazeta Esportiva) passaram adiante a informação de que havia mais de 18.900 pagantes. O borderô divulgado nos sites do clube e da CBF registra 18.755. Mesmo que o erro tenha sido dos jornalistas, o difícil é acreditar em qualquer um desses números -o Parque estava cheinho; onde caberiam mais 10 mil pessoas para completar a lotação do estádio?
O borderô tem outras coisas estranhas, como a remuneração da arbitragem (por lei, obrigação da CBF) e, depois de várias despesas detalhadas, o item "despesas diversas", sem explicações, que é maior do que os outros: R$ 18.795. A prestação de contas do ingresso-família (que o clube acaba de suspender) também é meio estranha. Que história é essa de "meia-entrada do ingresso família"?
Aliás, um sócio do clube tentou comprar meia-entrada e foi informado de que estavam esgotadas. Na seqüência, viu uma pessoa retirar discretamente uma meia-entrada em outro guichê. Em vez de se queixar das carteiras falsificadas, como fazem, por que os dirigentes não investigam esquemas internos de corrupção?
Às vezes é difícil crer que as coisas possam mudar, mas a saída é continuar tentando. Não é o que esperamos dos atletas em campo?

Pesos e medidas
O Atlético-PR demonstrou, no tribunal, ter tomado todas as medidas que podia para evitar agressões. Mesmo sem ter sido punido antes, pegou uma pena de dois jogos. O Botafogo, reincidente, pegou um só e conseguiu efeito suspensivo. O Atlético-MG foi condenado a jogar fora de Minas Gerais. Tudo bem que cada caso é um caso, mas por isso mesmo as regras têm de ter um mínimo de consistência e uniformidade.

Boa tentativa
Legal a iniciativa do São Paulo de vender pacotes de ingressos a preços promocionais para a reta final do torneio. Não sei se vai dar certo já na primeira tentativa, mas vale a pena testar. Falta ainda resolver o problema das filas na bilheteria...

E-mail
soninha.folha@uol.com.br


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