São Paulo, quinta-feira, 28 de outubro de 2004

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AÇÃO

Faça esporte, não faça guerra

CARLOS SARLI
COLUNISTA DA FOLHA

Aconteceu em Aruba, há três anos. O sujeito estava havia mais de três horas em sua prancha de windsurfe, apesar do tempo chuvoso e do swell agressivo, quando suas mãos, cansadas de tanto segurar a vela, começaram a sangrar. Ele desceu da prancha, "enfaixou" as mãos com silvertape e continuou a velejar por horas, para desespero de sua mulher, que o observava da areia.
Aconteceu no Texas, há dez anos. O rapaz, frustrado porque seu pai havia sofrido uma derrota política, decidiu afogar as mágoas treinando para correr uma maratona. Embora tivesse sido orientado a começar devagar, ignorou a dica e decidiu correr todos os dias o máximo que agüentasse e no ritmo mais forte possível. Completou a prova em três horas e 44 minutos, mas não demorou para estourar os joelhos.
As histórias, reveladas pelo jornal "The LA Times", seriam banais não fossem seus protagonistas os candidatos à Presidência dos EUA, John Kerry e George Bush. "Bush e Kerry são ávidos esportistas outdoor", começa a matéria, "e são também parecidos quando se trata de lidar com pressões, sejam elas quais forem".
No começo do mês, enquanto câmeras de TV seguiam Kerry numa caçada pelo interior do Estado de Iowa, a 1.500 km dali mais uma multidão de repórteres registrava Bush pescando em seu rancho no Texas. Leve-se em conta que nos EUA existem cerca de 7 milhões de caçadores e 20 milhões de pescadores e qualquer marqueteiro de primeira viagem saberá avaliar a importância dessas atitudes. Mas com Bush e Kerry não podem apenas ser consideradas demagógicas e eleitoreiras.
A verdade é que Kerry, há muitos anos, dedica-se ao alpinismo, ao mountain bike (ele pilota uma Serotta Ottrott que vale US$ 8.000), ao windsurfe e, mais recentemente, ao kitesurfe. Nervin Sayre, estrela do wind, velejou ao lado do democrata e disse ao "LA Times" que, embora Kerry não seja tecnicamente perfeito, não desiste nunca. "No primeiro dia, o tempo estava caótico, o mar muito mexido e o vento maluco. Pensei que ele fosse desistir, mas fui tirado de casa por seus gritos de "vamos logo, aqui fora está bombando!'", diz Sayre, que também estava ao lado de Kerry em Aruba quando do silvertape.
Já Bush há muitos anos corre, pedala e pesca. Sua bicicleta (uma Trek Fuel de US$ 3.000) e sua técnica parecem ser mais modestas do que as de Kerry. Recentemente, o presidente capotou espetacularmente, ganhando hematomas. Por isso, quando se aventura com sua bike, ele não permite mais a companhia de fotógrafos e repórteres. Já Kerry teve uma malograda aventura registrada pelos marqueteiros de Bush e transformada em anúncio na TV: a cena mostra o democrata sendo nocauteado por uma onda no litoral de Massachusetts.
Entre questões como "Terão os seguranças da Casa Branca que aprender a velejar?" e "Você liga para o fato de o presidente gostar de aventuras?", a matéria conclui em tom de ironia que, como disse Bertrand Russel, se todos os líderes do mundo andassem 25 milhas por dia, não haveria guerras.

Mundial de surfe - WQS
Mais estrangeiros que brasileiros na etapa seis estrelas que começou ontem em Florianópolis. A restrição para apenas os cem melhores do ranking participarem da etapas havaianas, que vêm a seguir, e do "Super Series", a ser criado em 2005, ajudam a explicar a adesão.

Mountain bike - Downhill, Cross Crountry e Four X
Em 2005, ocorre pela primeira vez na América do Sul etapa do Mundial. E será no Brasil, em Balneário Camboriú, SC, em 2 e 3 de julho.

Rali humano
O Ecomotion/Pro, realizado na Bahia, vem se firmando como uma das maiores e mais bem organizadas corridas de aventura do mundo. Foram 9 dias, 196 atletas e 465 km. De 39 equipes, 28 chegaram.

E-mail sarli@trip.com.br


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