São Paulo, domingo, 28 de outubro de 2007

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No Brasil, anfitriões viveram extremos

DA REPORTAGEM LOCAL

Levar a Copa do Mundo para sua cidade ou Estado. Investir em arenas e estrutura. Há mais de 50 anos, como vai acontecer para 2014, políticos brasileiros fizeram isso, e o resultado nas urnas após a competição não foi uniforme. Longe disso.
Alguns fizeram do Mundial de 1950 no Brasil um trunfo para se tornarem imbatíveis nas eleições. Outros perderam popularidade nos pleitos seguintes ao evento. Poucos partiram para o ostracismo.
Quem melhor ilustra o primeiro caso é Ildo Meneghetti.
Ele era prefeito nomeado de Porto Alegre quando o país sediou o Mundial pela primeira vez. Antes disso, como cartola do Internacional, já havia sido o principal articulador da construção do estádio dos Eucaliptos, que foi palco da Copa. Para a competição, seu governo também investiu pesado.
Depois do Mundial ele ganhou seguidas eleições contra ícones da política gaúcha. Leonel Brizola, por exemplo, foi derrotado por ele na eleição à Prefeitura de Porto Alegre. Foi ainda duas vezes governador do Rio Grande do Sul.
Mas algumas lendas da política nacional não conseguiram fazer da Copa um trunfo em eleições realizadas nos anos seguintes ao Mundial brasileiro, num intervalo com democracia entre o Estado Novo de Getúlio Vargas e a ditadura militar.
Fazem parte dessa lista Adhemar de Barros, Milton Campos e Barbosa Lima Sobrinho, respectivamente governadores de São Paulo, Minas Gerais e Pernambuco à época.
Os três acumularam fracassos nas urnas na década de 50. Adhemar foi apenas o terceiro colocado na eleição presidencial de 1955. Um ano antes havia sido batido por Jânio Quadros na luta pelo governo paulista. Sua ligação com o futebol era grande. Esteve na linha de frente da construção dos dois maiores estádios paulistanos -o Pacaembu e o Morumbi- e era são-paulino fanático.
Elo com o futebol também não faltava a Barbosa Lima Sobrinho, que na sua vida centenária aliou a política com o jornalismo e a literatura.
Quando jovem, ele foi jogador do Náutico. Como governador pernambucano, indicou um cartola do clube, Manoel Cesar de Moraes Rego, para a Prefeitura do Recife, que com a Ilha do Retiro foi palco do Mundial. Os pernambucanos não acharam grande coisa.
Na eleição para o Senado, em 1954, o ex-acadêmico foi apenas o quarto mais votado e não conseguiu vaga.
O mineiro Milton Campos tentou ser eleito vice-presidente (na época havia pleito específico) em 1955 e 1960 e não teve sucesso nas duas ocasiões.
Mas quem melhor sentiu o apogeu e a decepção com a Copa foi Ângelo Mendes de Moraes, o prefeito carioca que construiu o Maracanã.
Ele entrou para a lista dos "responsáveis" pela derrota para o Uruguai na final ao fazer um discurso que muitos dizem ter servido como incentivo para os rivais dos brasileiros. Moraes não demorou para sair da cena política. Hoje, seu nome batiza uma rua do sofisticado bairro de São Conrado, mas não aparece com destaque no estádio edificado na sua gestão.

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