São Paulo, sexta-feira, 28 de outubro de 2011

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros

XICO SÁ

O país da rasteira


Ninguém, ainda, e infelizmente, derruba ninguém por civismo ou passeata no Brasil

Amigo torcedor, amigo secador, Graciliano Ramos, o maior escritor brasileiro -depois eu converso com vocês, queridos machadianos!-, dizia que o grande e autêntico esporte nacional era a rasteira, não o ludopédio. Isso tudo em 1921, quando o futebol, invenção dos gringos, começava a germinar em nossas várzeas. E não é que tinha razão o autor de "Vidas Secas"!
Passar a perna no outro é a mais genuína das nossas modalidades. O velho Graça, creio, referia-se à brincadeira de rua e de terreiro que consiste em tentar derrubar o próximo com um inusitado golpe na perna do adversário, como se fora um lance mais rudimentar da capoeira.
Hoje em dia, a rasteira da qual falava o russo-alagoano, nosso Dostoievski, está quase em extinção, o futebol vingou, e derrubar gente, seja ministro ou barnabé da última repartição do Crato, nunca esteve tão em voga. O próprio Aldo Rebelo, novo ministro do Esporte, cuja origem é o mesmo Estado do gênio Graciliano, sabe disso, ninguém no Brasil tem garantia até a próxima Copa.
É, velho Graça, a pernada, seja à vera ou simbólica, é o que vale em nosso país. Orlando Silva Jr., o ex, não foi vítima de sérias investigações republicanas, estas ainda nem começaram. Caiu por causa da rasteira de um parceiro de negócios, que, por sua vez, teria sido passado para trás e abriu o bico do pato supostamente ético.
Tem também aquela coisa. Só existem duas categorias que resistem ao mix de altos orçamentos e deslumbre no passeio público: as putas profissionais e as vedetes vocacionadas. O resto cai no conto.
A autoridade, por mais safa que seja, não resiste à festa, ao foguetório da vaidade e da enganosa glória. Aí, digamos, facilita o trabalho do protagonista da rasteira. Como este Calabar ludopédico que abriu o bico para a imprensa aos 47min do segundo tempo. É a história. Ninguém, ainda, e infelizmente, derruba ninguém por civismo ou passeata no Brasil. É tudo rasteira. Gente que pediu mais e não foi atendido. Profético autor de "Angústia" e "São Bernardo", comunista de carteirinha, ainda do tempo em que o original PCB, o Partidão, era acusado de receber apenas o inocente ouro de Moscou, não o ouro olímpico de agora.
Além da rasteira clássica, velho Graça, tem também a trairagem, um subgênero da modalidade. É disso que é feito o futebol brasileiro, que o senhor achava que nem vingaria por estas plagas. Bem, depois seguimos a prosa.

xico.folha@uol.com.br

@xicosa



Texto Anterior: Rogério não desiste de enfrentar o Vasco
Próximo Texto: Palmeiras: Valdivia fala sobre nova polêmica e se desculpa
Índice | Comunicar Erros



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.