UOL


São Paulo, sexta-feira, 28 de novembro de 2003

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

BOXE

Tudo acaba em pizza

EDUARDO OHATA
DA REPORTAGEM LOCAL

Você está frente a frente com o ex-campeão dos pesados Michael Moorer. Decadente? Sim, mas ainda um dos mais brutais pegadores da categoria.
Para piorar, você tem a desvantagem de peso, pois é só um cruzador (cujo limite é de 86,1 kg).
E você ainda não teve a oportunidade de se preparar de maneira adequada para o combate.
Perguntei ao brasileiro Rogério Lobo, 32, o que ele tinha na cabeça para pegar um adversário como esse, dentro desse cenário.
Você acreditaria que a sua resposta foi... uma pizzaria?
Esse combate aconteceu, em agosto passado: vitória do americano logo no primeiro assalto.
Lobo, aliás, perdeu três de suas últimas quatro lutas. Suas derrotas, todas em ringues americanos, foram para, além de Moorer (que acumulava à época 44 vitórias, 3 derrotas e 1 empate), Kelvin Davis (18 vitórias, 1 derrota e 1 empate) e Owen Beck (15 vitórias).
Detalhe: ele foi chamado para os três combates sempre em cima da hora. Para aqueles com Moorer e Beck, teve dez dias de preparação. Contra Davis, o paulista teve o luxo de contar com 20 dias.
"Sabia que a luta com Moorer ia ser embaçada. Com a bolsa dessa e de outras lutas deu para abrir e melhorar minha pizzaria", justificou ele, referindo-se à Nova Zumkeler, que está localizada na zona norte de São Paulo.
Seu negócio prejudica sua preparação. "Fico olhando para as pizzas, elas ficam olhando para mim, e logo estou com 93 kg."
Os efeitos do mau preparo apareceram, principalmente no duelo com Beck. "No primeiro assalto cheguei a derrubá-lo, mas me cansei, e a luta acabou no quarto, quinto assalto", lamentou Lobo, cujo cartel atual registra 31 vitórias, 26 nocautes, e 8 derrotas.
No caso dos confrontos com Moorer e Davis, Lobo alega que o principal prejudicado pelo mau preparo foi o psicológico, o que diminui ainda mais suas chances.
"A gente sobe no ringue preocupado que se a luta se estender vai enfrentar problemas, que depende de um golpe de sorte. E vai para o tudo ou nada mesmo, sem analisar nada", relata o pugilista.
"Você não acha que está virando um Manoel "Clay" de Almeida da vida?", perguntei, em alusão ao brasileiro que perdeu para Maguila, "Quebra-Ossos" Smith, George Foreman, Michael Dokes, entre muitos, muitos outros.
"Peraí, não precisa exagerar. Não estava me dedicando aos treinos, mas isso está mudando. Tenho lutas marcadas no Brasil para sexta [hoje, na Borracharia Itinguçu, na zona leste, em programação cujo destaque é o meio-médio Denis de Barros], dezembro e janeiro", disse, indignado.
"Então quando chamarem você de última hora para pegar uma fera nos EUA, vai pensar com carinho na carreira?", perguntei.
"Não, não vou recusar. Mas com mais lutas [no Brasil] vou estar mais preparado, com ritmo. Olha, é esse meu trabalho nos últimos 17 anos. Isso corresponde a três faculdades", disparou ele.
"Sim, eu fico chateado. Depois de Moorer, pensei: "Perdi minhas três últimas lutas aqui nos EUA, isso queima a imagem..."."
A cura? Uma ou mais pizzas...

Popó 1
O local da próxima luta de Popó, no dia 3 de janeiro, por seu terceiro cinturão, será mesmo Connecticut. O contrato já está pronto, só não foi assinado por causa do feriado do Dia de Ação de Graças nos EUA.

Popó 2
Por falar em Popó, o mexicano Javier Jauregui, aniquilado em 1min23s, em 2000, em São Paulo, tornou-se campeão dos leves pela FIB neste fim de semana. Pelo menos aquela manchete "Popó pega hoje seu melhor adversário" não parece tão ridícula agora...

Popó 3
Outro ex-rival, Daniel Attah, disputa eliminatória pelo segundo lugar no ranking da FIB, em 9 de janeiro, contra Nate Campbell.

E-mail eohata@folhasp.com.br


Texto Anterior: Paraolimpíada: Loterias patrocinam equipe em Atenas-04
Próximo Texto: Futebol - José Roberto Torero: 1º da 2ª ou 2º da 1ª?
Índice


UOL
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.