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BOXE
Tudo acaba em pizza
EDUARDO OHATA
DA REPORTAGEM LOCAL
Você está frente a frente com
o ex-campeão dos pesados
Michael Moorer. Decadente? Sim,
mas ainda um dos mais brutais
pegadores da categoria.
Para piorar, você tem a desvantagem de peso, pois é só um cruzador (cujo limite é de 86,1 kg).
E você ainda não teve a oportunidade de se preparar de maneira
adequada para o combate.
Perguntei ao brasileiro Rogério
Lobo, 32, o que ele tinha na cabeça para pegar um adversário como esse, dentro desse cenário.
Você acreditaria que a sua resposta foi... uma pizzaria?
Esse combate aconteceu, em
agosto passado: vitória do americano logo no primeiro assalto.
Lobo, aliás, perdeu três de suas
últimas quatro lutas. Suas derrotas, todas em ringues americanos,
foram para, além de Moorer (que
acumulava à época 44 vitórias, 3
derrotas e 1 empate), Kelvin Davis (18 vitórias, 1 derrota e 1 empate) e Owen Beck (15 vitórias).
Detalhe: ele foi chamado para
os três combates sempre em cima
da hora. Para aqueles com Moorer e Beck, teve dez dias de preparação. Contra Davis, o paulista
teve o luxo de contar com 20 dias.
"Sabia que a luta com Moorer
ia ser embaçada. Com a bolsa
dessa e de outras lutas deu para
abrir e melhorar minha pizzaria", justificou ele, referindo-se à
Nova Zumkeler, que está localizada na zona norte de São Paulo.
Seu negócio prejudica sua preparação. "Fico olhando para as
pizzas, elas ficam olhando para
mim, e logo estou com 93 kg."
Os efeitos do mau preparo apareceram, principalmente no duelo
com Beck. "No primeiro assalto
cheguei a derrubá-lo, mas me
cansei, e a luta acabou no quarto,
quinto assalto", lamentou Lobo,
cujo cartel atual registra 31 vitórias, 26 nocautes, e 8 derrotas.
No caso dos confrontos com
Moorer e Davis, Lobo alega que o
principal prejudicado pelo mau
preparo foi o psicológico, o que diminui ainda mais suas chances.
"A gente sobe no ringue preocupado que se a luta se estender vai
enfrentar problemas, que depende de um golpe de sorte. E vai para o tudo ou nada mesmo, sem
analisar nada", relata o pugilista.
"Você não acha que está virando um Manoel "Clay" de Almeida da vida?", perguntei, em alusão ao brasileiro que perdeu para
Maguila, "Quebra-Ossos" Smith,
George Foreman, Michael Dokes,
entre muitos, muitos outros.
"Peraí, não precisa exagerar.
Não estava me dedicando aos
treinos, mas isso está mudando.
Tenho lutas marcadas no Brasil
para sexta [hoje, na Borracharia
Itinguçu, na zona leste, em programação cujo destaque é o meio-médio Denis de Barros], dezembro e janeiro", disse, indignado.
"Então quando chamarem você
de última hora para pegar uma
fera nos EUA, vai pensar com carinho na carreira?", perguntei.
"Não, não vou recusar. Mas
com mais lutas [no Brasil] vou estar mais preparado, com ritmo.
Olha, é esse meu trabalho nos últimos 17 anos. Isso corresponde a
três faculdades", disparou ele.
"Sim, eu fico chateado. Depois
de Moorer, pensei: "Perdi minhas
três últimas lutas aqui nos EUA,
isso queima a imagem..."."
A cura? Uma ou mais pizzas...
Popó 1
O local da próxima luta de Popó, no dia 3 de janeiro, por seu terceiro
cinturão, será mesmo Connecticut. O contrato já está pronto, só não
foi assinado por causa do feriado do Dia de Ação de Graças nos EUA.
Popó 2
Por falar em Popó, o mexicano Javier Jauregui, aniquilado em
1min23s, em 2000, em São Paulo, tornou-se campeão dos leves pela
FIB neste fim de semana. Pelo menos aquela manchete "Popó pega
hoje seu melhor adversário" não parece tão ridícula agora...
Popó 3
Outro ex-rival, Daniel Attah, disputa eliminatória pelo segundo lugar no ranking da FIB, em 9 de janeiro, contra Nate Campbell.
E-mail eohata@folhasp.com.br
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