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São Paulo, sexta-feira, 28 de novembro de 2003

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FUTEBOL

1º da 2ª ou 2º da 1ª?

JOSÉ ROBERTO TORERO
COLUNISTA DA FOLHA

Estava sossegado em casa, lavando a louça da semana, quando meu amigo Pimenta tocou a campainha.
Mal abri a porta e já o escutei desafinar: "Quando surge o alviverde imponente, no gramado em que a luta o aguarda...". Sim, Pimenta é um palmeirense fanático. Se ainda tivesse cabelos, estariam pintados de verde.
- ...sabe bem o que vem pela frente, que a dureza do prélio não tarda!
- Tudo bem, Pimenta, não precisa cantar o hino inteiro.
- Viu só?! Campeão! Campeão antecipado!
Dei um risinho condescendente, fiz ar de enfado e respondi:
- Pois o meu time já é vice-campeão antecipado. E da Série A. A primeira divisão, lembra?
- Grande coisa... Ser primeiro da segunda é mais importante que ser o segundo da primeira!
- O seu time vai para a Libertadores?, eu retruquei.
- E o seu ganhou algum troféu neste ano?, ele treplicou.
Como não sabíamos o que vem depois da tréplica (talvez uma tetréplica?), decidimos ir ao único lugar onde poderíamos resolver essa filosófica questão: o bar da Preta.
Ela nos recebeu com mil dentes e uma porção de amendoins. Então lhe expusemos os termos da discórdia, e ela ficou um tempo a olhar para o ventilador de teto. Depois disse:
- Sabem, quando fui faxineira em Frankfurt, ocorreu uma coisa parecida. O doutor Benjamim estava triste porque não tinha tirado a nota máxima em sua tese. Então ele veio até mim enquanto eu encerava o chão e disse:
- Puxa, Preta, não tirei nota 10 no doutorado...
- Cuidado com as lágrimas no assoalho, doutor Benjamim.
- No mestrado, eu tinha tirado nota 10. E com louvor!
- Doutor, lembre-se daquela frase do Sêneca: "Não invejemos as posições elevadas. O que achamos ser o cume, não é mais que a beira do abismo"."
Eu e Pimenta balançamos as cabeças. Preta continuou:
- Pois bem, naquele instante chegou o garoto do café, o Franz. Ele vinha dando pulos de alegria. E sabem por quê? Porque finalmente tinha conseguido passar de ano na escola. E com nota cinco. Então, perceberam a moral da história?
Passaram-se alguns minutos.
E mais alguns.
- Tudo bem, eu explico. É que o gosto faz o desgosto, e o desgosto faz o gosto. Entenderam agora?
Eu e Pimenta balançamos as cabeças. Preta seguiu no seu raciocínio:
- Por isso, neste caso o título do Palmeiras é mais importante.
- Rá, comemorou o Pimenta, o meu título é maior que o seu vice-título!
Ainda tentei argumentar, dizendo que o Paysandu poderia vencer o Cruzeiro no domingo, e aí tudo seria diferente. Mas já era tarde demais. Pimenta já estava do lado de trás do balcão, dançando com a barda preta e cantando: "Quando surge o alviverde imponente, no gramado em que a luta o aguarda...".

Roubalheira
Neste domingo, no estádio Urbano Caldeira, no jogo entre Santos e Fluminense, certamente o público e a renda foram bem maiores do que o anunciado. Vi, na Vila Belmiro, com estes olhos que a terra há de comer, ou melhor, que um alguém há de receber, o funcionamento de um velho esquema de fraude. Em pelo menos uma das entradas, o portão 3, o "fiscal" passava as pessoas por fora da catraca eletrônica, sem colocar seus bilhetes na máquina que registra o número de ingressos. E isso com a conivência de outro funcionário, que assistia a tudo impassivelmente. Dessa forma, com certeza foram vendidos muito mais ingressos do que os anunciados. E, obviamente, a diferença vai parar em algum bolso. Mas qual? Ou quais? Eis a questão.

E-mail torero@uol.com.br


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