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FUTEBOL
1º da 2ª ou 2º da 1ª?
JOSÉ ROBERTO TORERO
COLUNISTA DA FOLHA
Estava sossegado em casa,
lavando a louça da semana,
quando meu amigo Pimenta tocou a campainha.
Mal abri a porta e já o escutei
desafinar: "Quando surge o alviverde imponente, no gramado em
que a luta o aguarda...". Sim, Pimenta é um palmeirense fanático. Se ainda tivesse cabelos, estariam pintados de verde.
- ...sabe bem o que vem pela
frente, que a dureza do prélio não
tarda!
- Tudo bem, Pimenta, não
precisa cantar o hino inteiro.
- Viu só?! Campeão! Campeão
antecipado!
Dei um risinho condescendente,
fiz ar de enfado e respondi:
- Pois o meu time já é vice-campeão antecipado. E da Série
A. A primeira divisão, lembra?
- Grande coisa... Ser primeiro
da segunda é mais importante
que ser o segundo da primeira!
- O seu time vai para a Libertadores?, eu retruquei.
- E o seu ganhou algum troféu
neste ano?, ele treplicou.
Como não sabíamos o que vem
depois da tréplica (talvez uma tetréplica?), decidimos ir ao único
lugar onde poderíamos resolver
essa filosófica questão: o bar da
Preta.
Ela nos recebeu com mil dentes
e uma porção de amendoins. Então lhe expusemos os termos da
discórdia, e ela ficou um tempo a
olhar para o ventilador de teto.
Depois disse:
- Sabem, quando fui faxineira
em Frankfurt, ocorreu uma coisa
parecida. O doutor Benjamim estava triste porque não tinha tirado a nota máxima em sua tese.
Então ele veio até mim enquanto
eu encerava o chão e disse:
- Puxa, Preta, não tirei nota 10
no doutorado...
- Cuidado com as lágrimas no
assoalho, doutor Benjamim.
- No mestrado, eu tinha tirado
nota 10. E com louvor!
- Doutor, lembre-se daquela
frase do Sêneca: "Não invejemos
as posições elevadas. O que achamos ser o cume, não é mais que a
beira do abismo"."
Eu e Pimenta balançamos as
cabeças. Preta continuou:
- Pois bem, naquele instante
chegou o garoto do café, o Franz.
Ele vinha dando pulos de alegria.
E sabem por quê? Porque finalmente tinha conseguido passar de
ano na escola. E com nota cinco.
Então, perceberam a moral da
história?
Passaram-se alguns minutos.
E mais alguns.
- Tudo bem, eu explico. É que
o gosto faz o desgosto, e o desgosto
faz o gosto. Entenderam agora?
Eu e Pimenta balançamos as
cabeças. Preta seguiu no seu raciocínio:
- Por isso, neste caso o título
do Palmeiras é mais importante.
- Rá, comemorou o Pimenta, o
meu título é maior que o seu vice-título!
Ainda tentei argumentar, dizendo que o Paysandu poderia
vencer o Cruzeiro no domingo, e
aí tudo seria diferente. Mas já era
tarde demais. Pimenta já estava
do lado de trás do balcão, dançando com a barda preta e cantando: "Quando surge o alviverde
imponente, no gramado em que a
luta o aguarda...".
Roubalheira
Neste domingo, no estádio Urbano Caldeira, no jogo entre
Santos e Fluminense, certamente o público e a renda foram bem maiores do que o
anunciado. Vi, na Vila Belmiro,
com estes olhos que a terra há
de comer, ou melhor, que um
alguém há de receber, o funcionamento de um velho esquema
de fraude. Em pelo menos uma
das entradas, o portão 3, o "fiscal" passava as pessoas por fora
da catraca eletrônica, sem colocar seus bilhetes na máquina
que registra o número de ingressos. E isso com a conivência de outro funcionário, que
assistia a tudo impassivelmente. Dessa forma, com certeza foram vendidos muito mais ingressos do que os anunciados.
E, obviamente, a diferença vai
parar em algum bolso. Mas
qual? Ou quais? Eis a questão.
E-mail torero@uol.com.br
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