São Paulo, sexta-feira, 28 de novembro de 2008

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XICO SÁ

O calo da vitória


Mas secador que é secador tem a obrigação de avisar: muito cuidado com o compadre Washington!

AMIGO TORCEDOR , amigo secador, agora falando sério, é hora de listar as coisas que não apreciamos, porém somos obrigados a tolerar no mundo do futebol.
Meu bondoso e santo Jó, dai-nos saco e paciência para aguentar mais uma vez a empáfia tricolor paulista.
Minha Nossa Senhora Ludopédica, orai por nós que recorremos a vós. Que fazer, como indagaria o velho comuna das antigas, salve Lênin, Lenine, se os caras têm um honrado professor no banco que aplica, na régua e no compasso, a lição dos tempos dos nossos avôs? Sim, aquela mesma do ditado: "Em tempo de Muricy, cada qual cuida de si".
Como é competente esse mestre zangado. Pense em um cara que sabe pôr um time para jogar a decência possível! Tirou ouro de uma Serra Pelada onde nem o mais fanático dos garimpeiros se arriscaria.
Agora os meus amigos tricolores, que não são poucos, reconhecem. Os mesmos que sempre caíram na tentação demoníaca da desconfiança precoce no homem. Que pecado! E não adianta, mais uma vez, a mística historinha de que um tal de Planejamento, ainda bem que não conheço esse nada confiável rapaz, ganhou o campeonato. É uma maneira muito pobre de tirar o brilho do professor Ramalho e de seus arrojados Hernanes.
A escalada tricolor tem nomes e sobrenomes, não é apenas uma planilha de Excel dos cartolas. Triste fetiche do capitalismo essa crença cega em um mundo planejado.
Desculpe, fiel leitor desta bodega crônica, acabei num samba-exaltação danado ao velho Muriça, mas é raro ver um cara que a gente confia de graça nas suas palavras, mesmo a gente secando o tempo inteiro.
Agora falando sério, repito, o São Paulo criou, para usar uma imagem do poeta pernambucano João Cabral de Melo Neto, o calo da vitória.
De novo, de novo, de novo. O América do mesmo poeta, não o América do Trajano, o América da Estrada do Encanamento, Recife, Casa Amarela, tinha o desábito de tais coisas, não vencia quase nunca, daí o poema em que o tio João trata do endurecimento localizado da pele.
Um João Cabral que sabia das coisas da poesia e também dos desatinos da bola, o mesmo que jogou na zaga do América e, por empréstimo, conquistou um título juvenil pelo Santa Cruz.
Mas cadê a lista, amigo, como prometi na cumeeira desse texto? Talvez, quem sabe, a vontade inteira era tão somente falar da falta de paciência para mais uma glória são-paulina.
Os caras ganharam outra vez, meu querido. Pô, agora falando sério seriamente, queria que desse Grêmio, pois o Santos Futebol Clube já é octa, vide sítio da Fifa, entonces ficaria bonito com os hermanos sulistas.
Sim, poderia ser o Flamengo, tomaria uma com Plínio, o velho, no Baixo Gávea, e nos sentiríamos docemente canalhas como o gênio Domingos Oliveira.
O Cruzeiro, na boa, bateria palmas, ainda mais depois do fôlego que deram à traquéia do Náutico, levando cinco de um time que não faz os dedos de uma mão nem no Pernambucano.
Enfim, parabéns São Paulo, mas, secador que é secador, avisa sempre: tome muito cuidado com o compadre Washington!

xico.folha@uol.com.br



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