São Paulo, sexta-feira, 28 de dezembro de 2001

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BOXE

Uma noite nas lutas

EDUARDO OHATA
DA REPORTAGEM LOCAL

A s programações do fim de semana correspondem a um microcosmo do boxe brasileiro. Por meio delas é possível detectar o que há de bom (e de ruim) no pugilismo nacional.
Quem foi a pessoa mais corajosa no ginásio da Cespro (São Caetano), onde houve programação na sexta? Nenhum lutador, mas Servílio de Oliveira, o empresário do pena Valdemir Pereira, o Sertão (seis vitórias, cinco nocautes).
Servílio fez jus a essa distinção por ter selecionado Gutemberg Ferreira (dez vitórias, nove nocautes e duas derrotas) como rival de seu pupilo. Para ter idéia da experiência de Ferreira, ele traz no currículo a disputa de um cinturão regional contra Popó.
De maneira nenhuma a contagem unânime de dois jurados de 60 a 54 ilustra o que se passou no ringue (um terceiro deu 60 a 56).
Valente e manhoso, Ferreira, que vinha de longo período de inatividade, não se conformou com o papel de ""perdedor oficial" e complicou, invertendo a guarda, desferindo golpes perigosos e até ensaiando ""manivelas".
É assim que se prepara um lutador para que no futuro tenha chances de ganhar títulos: colocá-lo ante a bons pugilistas, que não vão acabar com ele, mas que apresentem situações novas (velocidade, movimentação, pressão etc.). Não quer dizer que Sertão será automaticamente campeão, mas maximiza seu potencial.
Quando perguntei a Servílio se havia previsto que o combate seria tão disputado como foi, respondeu que sim (mas quem pode realmente acreditar nisso, após assisti-lo agitado, gritando ao lado do ringue por conta do risco de perder o seu investimento?).
Agora, Sertão deve enfrentar oponente mais fracos em sua próxima luta, que deve ocorrer em Assunção (Paraguai). Nada de errado nisso, é bom dar um ""refresco" aos boxeadores para não exauri-los prematuramente.
O que deve ser combatido é a dieta constante de galinhas-mortas aos lutadores, que os prejudica técnica e psicologicamente quando chega o momento de enfrentar adversários de alguma categoria. Essa prática tão conhecida foi a causadora da ""morte" do boxe nas telinhas brasileiras.
O que impressionou de maneira negativa na programação foi o fato de pouquíssimas pessoas terem se animado a acompanhar as lutas. Em sua maior parte, o público era formado por conhecidos ou parentes dos pugilistas.
Divulgação falha? Dificuldade de acesso? Proximidade dos festejos de fim de ano, resultado de mal planejamento? Ou pior, desinteresse geral pela modalidade?
(Por falar em mau planejamento, quem foi o gênio que marcou a programação que teve Daniel Frank como estrela, domingo, para praticamente o mesmo horário da final do Brasileiro? O que redimiu a noitada foi o confronto entre os [até então" invictos Anderson Clayton e Mohamede Said.)
Na programação de sexta, o peso-pesado Marcelino Novaes tirou de seu próprio bolso a bolsa de seu adversário. ""À véspera da luta estava preocupado em saber se ia ou não ter dinheiro para pagar o adversário", lamenta Marcelino. Mas essa não seria uma dor de cabeça para a sua equipe?
Outro pugilista de Servílio, o leve Juliano Ramos (cinco nocautes) exibiu sua característica mais marcante, a frieza, no combate que abriu a programação profissional. Não seria injustiça se, no futuro, fizesse lutas de fundo.

Popó 1
Popó descartou a hipótese de participar da segunda edição do programa "Casa dos Artistas", para o qual recebeu convite. "Sou casado, muito bem casado. Não dividiria meu quarto com artista nenhum, só com ela [a sua mulher, a empresária Eliana Guimarães]. Aliás, no meu quarto só há lugar para dois artistas, eu e ela."

Popó 2
Popó faz amanhã a sua última sessão de sparring para a unificação de títulos com Joel Casamayor. Popó afirma que o peso não será um fator nesse combate. "Estamos a duas semanas da luta e estou apenas três libras [pouco mais de 2,7 quilos] acima do peso", diz.

Popó 3
A Oficina de Idéias, que gerenciava a carreira de Popó, perdeu mais um assalto: sua terceira tentativa de cassar a liminar em favor de Popó, por meio de agravo regimental, foi julgada improcedente.
E-mail: eohata@folhasp.com.br


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