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BOXE
Uma noite nas lutas
EDUARDO OHATA
DA REPORTAGEM LOCAL
A s programações do fim
de semana correspondem a
um microcosmo do boxe brasileiro. Por meio delas é possível detectar o que há de bom (e de
ruim) no pugilismo nacional.
Quem foi a pessoa mais corajosa no ginásio da Cespro (São Caetano), onde houve programação
na sexta? Nenhum lutador, mas
Servílio de Oliveira, o empresário
do pena Valdemir Pereira, o Sertão (seis vitórias, cinco nocautes).
Servílio fez jus a essa distinção
por ter selecionado Gutemberg
Ferreira (dez vitórias, nove nocautes e duas derrotas) como rival de seu pupilo. Para ter idéia
da experiência de Ferreira, ele
traz no currículo a disputa de um
cinturão regional contra Popó.
De maneira nenhuma a contagem unânime de dois jurados de
60 a 54 ilustra o que se passou no
ringue (um terceiro deu 60 a 56).
Valente e manhoso, Ferreira,
que vinha de longo período de
inatividade, não se conformou
com o papel de ""perdedor oficial"
e complicou, invertendo a guarda, desferindo golpes perigosos e
até ensaiando ""manivelas".
É assim que se prepara um lutador para que no futuro tenha
chances de ganhar títulos: colocá-lo ante a bons pugilistas, que não
vão acabar com ele, mas que
apresentem situações novas (velocidade, movimentação, pressão
etc.). Não quer dizer que Sertão
será automaticamente campeão,
mas maximiza seu potencial.
Quando perguntei a Servílio se
havia previsto que o combate seria tão disputado como foi, respondeu que sim (mas quem pode
realmente acreditar nisso, após
assisti-lo agitado, gritando ao lado do ringue por conta do risco de
perder o seu investimento?).
Agora, Sertão deve enfrentar
oponente mais fracos em sua próxima luta, que deve ocorrer em
Assunção (Paraguai). Nada de
errado nisso, é bom dar um ""refresco" aos boxeadores para não
exauri-los prematuramente.
O que deve ser combatido é a
dieta constante de galinhas-mortas aos lutadores, que os prejudica técnica e psicologicamente
quando chega o momento de enfrentar adversários de alguma categoria. Essa prática tão conhecida foi a causadora da ""morte" do
boxe nas telinhas brasileiras.
O que impressionou de maneira
negativa na programação foi o
fato de pouquíssimas pessoas terem se animado a acompanhar
as lutas. Em sua maior parte, o
público era formado por conhecidos ou parentes dos pugilistas.
Divulgação falha? Dificuldade
de acesso? Proximidade dos festejos de fim de ano, resultado de
mal planejamento? Ou pior, desinteresse geral pela modalidade?
(Por falar em mau planejamento, quem foi o gênio que marcou a
programação que teve Daniel
Frank como estrela, domingo, para praticamente o mesmo horário
da final do Brasileiro? O que redimiu a noitada foi o confronto entre os [até então" invictos Anderson Clayton e Mohamede Said.)
Na programação de sexta, o peso-pesado Marcelino Novaes tirou de seu próprio bolso a bolsa
de seu adversário. ""À véspera da
luta estava preocupado em saber
se ia ou não ter dinheiro para pagar o adversário", lamenta Marcelino. Mas essa não seria uma
dor de cabeça para a sua equipe?
Outro pugilista de Servílio, o leve Juliano Ramos (cinco nocautes) exibiu sua característica mais
marcante, a frieza, no combate
que abriu a programação profissional. Não seria injustiça se, no
futuro, fizesse lutas de fundo.
Popó 1
Popó descartou a hipótese de participar da segunda edição do programa "Casa dos Artistas", para o qual recebeu convite. "Sou casado, muito bem casado. Não dividiria meu quarto com artista nenhum, só com ela [a sua mulher, a empresária Eliana Guimarães].
Aliás, no meu quarto só há lugar para dois artistas, eu e ela."
Popó 2
Popó faz amanhã a sua última sessão de sparring para a unificação
de títulos com Joel Casamayor. Popó afirma que o peso não será
um fator nesse combate. "Estamos a duas semanas da luta e estou
apenas três libras [pouco mais de 2,7 quilos] acima do peso", diz.
Popó 3
A Oficina de Idéias, que gerenciava a carreira de Popó, perdeu mais
um assalto: sua terceira tentativa de cassar a liminar em favor de
Popó, por meio de agravo regimental, foi julgada improcedente.
E-mail: eohata@folhasp.com.br
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