São Paulo, domingo, 28 de dezembro de 2008

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Federação critica antidoping de atletismo do país

Iaaf, entidade que comanda esporte, diz que Brasil deveria intensificar testes fora de provas e ter astros como alvo

Confederação brasileira concentrou, em 2008, 98% dos exames em competição; já órgão internacional fez 56% das coletas em treinos


ADALBERTO LEISTER FILHO
DA REPORTAGEM LOCAL

O atletismo brasileiro erra em sua estratégia de combate ao doping. Essa é a avaliação da Iaaf (Associação Internacional das Federações de Atletismo).
Para Chris Butler, diretor do Departamento Médico e de Antidoping da entidade, é um erro a Anad (Agência Nacional Antidoping), órgão ligado à CBAt (Confederação Brasileira de Atletismo), concentrar seus exames durante competições.
"Os testes fora de competição são os mais importantes porque podem acontecer a qualquer momento e em qualquer lugar", destaca Butler, lembrando que o imponderável ajudou a desmascarar muitos fraudadores no passado.
Tal plano não é seguido no Brasil. Segundo o site da CBAt, em 2008 houve 316 análises em eventos oficiais ou 98% do total -o levantamento será finalizado só após a São Silvestre.
"Talvez você devesse questionar a confederação brasileira [de atletismo] sobre quantas amostras em testes fora de competição foram coletadas. Acho que você vai descobrir que não foram muitas", sugere.
De fato, apenas sete vezes -2% das tentativas de flagrar doping no atletismo nacional neste ano- houve coleta fora do ambiente de competição.
Não bastasse isso, só quatro atletas tiveram que passar pelo teste durante seus treinamentos. Desses, o único nome significativo é o de Marizete Rezende, vencedora da São Silvestre-02, que cumpriu suspensão em 2003 após ser flagrada em teste para EPO (eritropoietina).
No exterior, o plano é diferente. Em 2007, último ano em que a contabilidade está finalizada, a Iaaf realizou 3.277 exames no mundo. Desses, 56% ocorreram fora de competição.
Para Rafael de Souza Trindade, coordenador-médico da Anad, a concentração de exames em provas faz parte da estratégia de combate no país.
"Em competição é possível testar o atleta para mais drogas", explica Trindade, citando como exemplo os estimulantes e as drogas sociais. "Fora de competição, a maconha nem é analisada", completa o médico.
De fato, neste ano, o único exame positivo no atletismo nacional foi o de Lindomar Modesto de Oliveira para uma droga desse tipo, o estimulante efedrina -o fundista recebeu suspensão de quatro meses.
Segundo Thomaz Mattos de Paiva, presidente da Anad, o plano é híbrido: pegar o atleta inesperadamente nas provas.
"Normalmente, testamos os corredores que chegam ao pódio. Mas, às vezes chegamos de surpresa e colhemos amostra também de atletas do bloco mais intermediário", conta ele.
Para Butler, tal plano merece outra crítica por ter como alvo competidores de menor nível. "Há concentração de exames em atletas de nível nacional."
A estratégia da CBAt promoveu a diminuição de casos. Desde que foi implantado o código da Agência Mundial Antidoping, em 2003, houve 15 flagrados no atletismo brasileiro.
Um terço desses competidores foram pegos em 2003, quando os controles da CBAt -principalmente em corredores de rua de menor expressão- passaram a ser mais efetivos. "Os atletas sabem que serão testados e, por isso, passam a evitar o doping", diz Paiva.


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