São Paulo, segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

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JUCA KFOURI

A punição ao Coritiba


Bem ao estilo brasileiro, não são poucos os que, com pena, já acham severa demais a pena ao clube coxa

MESMO QUEM se horrorizou com as cenas de fato horripilantes do estádio Couto Pereira na última rodada do Brasileirão já anda achando que a multa de R$ 610 mil e a perda de 30 mandos de jogos do Coritiba é um exagero. Os argumentos são os mais variados, embora nenhum seja convincente para minimizar a punição.
Chove-se no molhado com exemplos de situações parecidas que não tiveram a mesma punição, o que é absolutamente verdade, mas não suficiente para que se mantenha a impunidade eternamente. Aliás, este é o ponto.
Nem se trata de repetir que um erro não justifica outro ou que o Coritiba só está sendo castigado com tal rigor porque é menor que um Corinthians ou um Flamengo, pois no rol dos impunes do passado há também clubes menores que o Coxa.
Trata-se de examinar o DNA da impunidade no país, que tem muito a ver não só com o velho jeitinho, mas, ainda, com um sentimento até generoso, o da pena.
Não importa se, como decorrência da violência no gramado, a revolta tenha se espalhado pela cidade e uma enfermeira tenha sido atingida por uma bomba que lhe ceifou três dedos da mão para o resto de sua existência. Porque os 30 jogos sem mando é que são muito!
E tome lembranças sobre o que houve no Pacaembu quando torcedores do Corinthians quebraram o alambrado depois da derrota para o River Plate, como se as consequências tivessem sido as mesmas, e não foram. Sem se dizer que o clube ficou proibido de usar o estádio para partidas internacionais por um ano, pena branda, sem dúvida, porque deveria ter sido suspenso da Libertadores por cinco anos, mas, de todo jeito, decisão tomada fora do Brasil, pela Conmebol.
A questão está em que é necessário começar a não transigir com este tipo de episódio no futebol brasileiro. Aí, pouco importa se o primeiro a ser exemplado é A, B ou C. Lembremos que times ingleses ficaram proibidos de disputar torneios internacionais por cinco anos, graças aos hooligans que apavoravam a Europa. A pena pegou até clubes que não tinham episódio de violência.
Decisão autocrática, excessiva, arbitrária ou não, o fato é que a coisas mudaram rapidamente nas terras de Sua Majestade, a rainha. Porque esta é outra discussão recorrente no Brasil.
Há quem queira que os mesmos ritos da Justiça comum sejam os da Justiça esportiva, apesar de ela já ser suficientemente rebuscada e repleta de nuances que levam a infindáveis chicanas. De tergiversação em tergiversação, daqui a pouco o ninguém será culpado outra vez e voltaremos a não ter quem responsabilizar em episódios como o do jogo entre Coritiba e Fluminense.
Porque quando janeiro vier e o pleno do STJD reduzir a pena, os que se indignaram com a violência já estarão menos indignados e os que ficaram com pena agora se indignarão no próximo episódio.

Kirrata
Diferentemente do aqui escrito ontem, o zagueiro Marinho não se formou no Flamengo campeão mundial de 1981. Que, de todo modo, contando com Nunes, tinha oito jogadores feitos na Gávea.

blogdojuca@uol.com.br


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