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FUTEBOL
Encontros e reencontros
TOSTÃO
COLUNISTA DA FOLHA
Q uando vi na Copa do Mundo de 1994, nos EUA, a Nigéria dar um show na Itália -apesar de ter sido derrotada no final- e, depois, em 1996, a mesma equipe africana vencer o Brasil e a Argentina, conquistando a
medalha de ouro na Olimpíada
de Atlanta, imaginei que uma seleção da África seria forte candidata ao título mundial em 2006.
Hoje, seleções que eram muito
piores em 94, como Japão e Estados Unidos, têm mais chances de
fazer boa campanha no Mundial
do que uma seleção da África.
As partidas entre as seleções
africanas que tenho visto pela televisão parecem jogos entre os pequenos clubes da Europa, já que a
maioria dos jogadores atua no
continente europeu.
As equipes africanas são excessivamente disciplinadas taticamente e todas jogam da mesma
maneira durante os 90 minutos,
no tradicional 4-4-2. Os jogadores
driblam pouco e quase não arriscam, são muito altos e fortes, e, às
vezes, violentos.
O lugar-comum de que jogadores africanos são muito habilidosos, irreverentes, imprevisíveis e
jogam no estilo sul-americano
não mais existe. Eto'o, Drogba e
poucos outros são exceções.
A exagerada importância dada
à disciplina tática e a repressão
da habilidade e da fantasia impostas pelo grande número de técnicos europeus que foram para a
África, além da adaptação que os
jogadores africanos fazem para
atuar na Europa, são fatores importantes na descaracterização
do futebol africano.
Se a globalização tivesse chegado ao Brasil antes dos anos 60, poderia ter acontecido o mesmo
com o futebol brasileiro. Felizmente, quando surgiu a globalização, o Brasil já tinha um estilo
definido, uma identidade. Mesmo assim, o fenômeno fez estragos no nosso futebol.
Após ter atuações razoáveis em
vários times da Europa, o craque
Eto'o encontrou nos encantos da
bela e artística cidade de Barcelona, ao lado do mágico Ronaldinho Gaúcho e sob o comando de
um ousado técnico holandês (Rijkaard), a essência do futebol que
praticava na infância, nas peladas na África.
O grande encontro é geralmente
um reencontro com algo perdido.
Volantes e brucutus
Na primeira coluna sobre a evolução do futebol, escrevi que, no
início, os jogadores só queriam
brincar, correr e fazer gols. Aí,
surgiram os técnicos e as regras. O
futebol ficou mais coletivo, e os jogadores passaram a ocupar posições mais definidas.
O primeiro esquema tático foi o
2-3-5, adotado na Inglaterra no
final do século 19, com dois zagueiros, três médios e cinco atacantes (dois pontas, um centroavante e dois atacantes que recuavam até a intermediaria). Os cinco da frente só jogavam no campo
do adversário. Havia um zagueiro mais recuado (back de espera)
e outro mais à frente. Os dois médios pelos lados foram os precursores dos laterais.
O centro-médio era geralmente
o craque da equipe. Jogava com
elegância e com a cabeça em pé.
Esse jogador iniciava as jogadas
ofensivas e tinha um ótimo passe,
curto ou longo.
Do centro-médio resultou o volante de contenção, cabeça de
área, botineiro, limpador de pára-brisa, cão de guarda, perseguidor de canelas, que demora cinco
anos (como diria o Gerson) para
dominar a bola, ajeitar o corpo e
dar um passe curto para o lado.
Felizmente, isso tem mudado.
O primeiro passe, o do volante,
deveria ser, ainda hoje, o mais
importante. O passe precisa ser
rápido para surpreender a marcação, preciso, às vezes longo, de
um lado para o outro ou para a
frente, direto para o centroavante. Poucos fazem isso. No passado,
havia também os pernas-de-pau
nessa posição, mas era em menor
número.
Um dos motivos do aumento
dos brucutus foi a divisão que
houve no meio-campo entre os
armadores ofensivos, que quase
só jogam no campo adversário, e
os armadores defensivos ou volantes, que quase só atuam no
próprio campo e jogam para proteger a defesa.
Diminuiu bastante o número
de jogadores de meio-campo que
fazem bem a dupla função. Nas
categorias de base, os armadores
habilidosos são escalados como
meias ofensivos ou meias-atacantes. Parece que é proibido ter volante talentoso e com bom passe.
Em uma próxima coluna, falarei sobre o esquema WM, que surgiu após o 2-3-5, e as diferenças
entre os meias ofensivos e os
meias armadores.
E-mail - tostao.folha@uol.com.br
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