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COPA 2006
Euforia com classificação para Mundial, no qual a seleção enfrentará o Brasil, faz procura aumentar e cria febre
Futebol decola e alcança topo na Austrália
CRISTIANO CIPRIANO POMBO
DA REPORTAGEM LOCAL
Após um hiato de 32 anos, a
Austrália volta à Copa do Mundo.
Mas a classificação para o torneio
é só a cereja do bolo de uma conquista maior, a que tornou o futebol o esporte número um do país,
a ponto de fazê-lo acreditar que é
possível bater a seleção brasileira.
"Imagine a praia de Copacabana. Todos os dias ela recebe pessoas, não? É como as escolinhas
de futebol daqui, todos os dias recebendo mais atletas, que confiam num bom resultado contra o
Brasil", diz Rale Rasic, técnico que
comandou a Austrália na Copa de
1974, na Alemanha, na única participação do país no torneio.
O discurso de Rasic reflete a
transformação do futebol australiano, cujo crescimento é atestado
por uma pesquisa feita pelo Centro Australiano de Estatísticas.
Segundo dados da entidade, nenhuma outra modalidade na Austrália arrebata tantos adeptos como o futebol. De uma amostra de
1,6 milhão pessoas de 5 a 14 anos,
o esporte bretão lidera com 301
mil praticantes, contra 213,6 mil
da natação e 184,2 mil do rules
(mistura de futebol com rúgbi). O
índice supera o dobro de práticas
tradicionais, como tênis (128,3
mil) e críquete (124,2 mil).
"Acho que, na Austrália, é difícil
apontar um único esporte como o
número um. Mas é evidente que,
desde que um grande empresário
assumiu a federação, o futebol
passou a ter maior projeção e eficiência", afirma Matias Vilhena,
conselheiro da Embaixada do
Brasil na Austrália.
O empresário de que Vilhena
fala é o bilionário Frank Lowy,
que dirige a Federação de Futebol
da Austrália e é um dos protagonistas do novo status do futebol.
Desde que assumiu a FFA, em
parceria com o chefe-executivo
John O'Neill, ele foi responsável
pela adoção do lema que marcou
a campanha australiana nas eliminatórias: "Primeiro, investimento, depois, performance".
Ao todo, estima-se que Lowy
despejou cerca de US$ 10 milhões
para reestruturar a entidade, promover a A-League (o Nacional da
Austrália) e alavancar a seleção.
A amplitude de suas medidas
foram mais sentidas no último semestre, quando contratou o técnico holandês Guus Hiddink para
liderar o país na reta final das eliminatórias, bancou a preparação
do time na Europa e ainda alugou
um avião para buscar atletas e comissão técnica após o primeiro
duelo da repescagem com o Uruguai, em Montevidéu.
Em campo, viu os resultados
surgirem, tanto que o país teve
uma equipe no Mundial de Clubes, e a seleção saltou da 60ª para a
48ª colocação no ranking da Fifa.
"Creio que conseguimos colocar o futebol no nível das nossas
potências olímpicas", diz O'Neill.
Mas a grande aceitação veio depois. Uma megafesta em Sydney,
com mais de 10 mil pessoas nas
ruas para festejar a vaga na Copa,
deu a primeira mostra. Depois,
veio o reconhecimento de outros
setores. "São dez páginas por dia
nos jornais para o futebol, além de
jogos na TV", afirma David Culbert, diretor de uma agência de
mídia que atua no Rod Laver Arena, palco do Aberto da Austrália.
A febre de bola encabeçada pela
FFA, que registra 400 mil jogadores, sendo 65 mil mulheres (no
Brasil, são cerca de 15 mil), e cerca
de 230 mil escolinhas de futebol e
futsal, traz na esteira a confiança
no sucesso do time na Copa. Especialmente numa vitória sobre o
Brasil no jogo de 18 de junho, em
Munique, na fase inicial da Copa.
Contudo terão contra si o retrospecto, já que, até hoje, em oito
confrontos, o Brasil sofreu somente uma derrota para a Austrália, na decisão do terceiro lugar na
Copa das Confederações de 2001.
"Pelo jeito, Brasil x Austrália
tem tudo para ser um jogo épico.
E será mais ainda se o favorito não
cumprir a escrita", afirma Rasic.
E a expectativa se justifica, já
que o duelo entre os dois países é
um dos quatros jogos que mais
registraram procura por ingresso
até agora, segundo a Fifa.
Agora, à torcida australiana,
resta fazer a contagem regressiva:
são 140 dias até o confronto que
pode dar outra cara ao futebol no
maior país da Oceania.
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