São Paulo, domingo, 29 de fevereiro de 2004

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FUTEBOL

Gols de churrasco

RODRIGO BUENO
DA REPORTAGEM LOCAL

Kahn é o nome do momento.
Nenhum outro jogador foi tão comentado nos últimos dias quanto o goleiro alemão. O motivo todos sabem: o bisonho gol sofrido no chute de Roberto Carlos.
A falha foi mostrada ao vivo para quase todo o planeta (até na TV aberta brasileira passou, aleluia!) porque aconteceu no melhor jogo da estréia do mata-mata do melhor interclubes do mundo. O suposto melhor goleiro da atualidade, em um dos piores chutes do mais potente finalizador de hoje, fez o pior e protagonizou a melhor imagem da semana.
Foi um "gol de churrasco", comum no futebol que nós, mortais, jogamos nas segundas à noite.
Mas façamos uma análise do que de melhor aconteceu no meio de semana, quando os principais interclubes, Copa dos Campeões e Libertadores, roubaram a cena.
O Chelsea, turbinada sensação da Europa, venceu o Stuttgart com um gol contra (Fernando Meira). O bom Lyon bateu a Real Sociedad com um gol contra (Schurrer). No esperado duelo entre São Paulo e Cobreloa, dois gols antológicos: um contra de Fuentes e outro contra de Cicinho.
O que o eficiente Thuram fez no gol que deu a vitória do La Coruña contra a Juventus? Tentou cortar de cabeça um cruzamento, deu meio uma escorregada e serviu Luque de bandeja. Pastelão!
E o primeiro gol de Edu nos 3 a 2 no Celta? O brasileiro tentou tirar a bola do goleiro, chutou mais para trás do que para a frente, e o zagueiro chegou para atrapalhar ainda mais Cavallero, arqueiro da seleção argentina que toscamente quebrou o nariz no lance. Uma cena digna dos Trapalhões.
Foram muitos jogos bacanas e muitos lances de churrasco. Kahn mereceu o destaque negativo que teve, mas muita gente se beneficiou da pisada na bola (melhor seria barrigada na bola) do alemão, tendo sua falha suavizada, ofuscada ou mesmo esquecida.
O futebol de alto nível e o futebol do churrasco sempre estiveram misturados, pois não é de hoje que vemos lances pífios na elite da bola -e vez ou outra há uma jogada brilhante em uma pelada. Mas poucas vezes isso ficou tão evidente como nos últimos dias.
Os saudositas nessas horas devem se lembrar das maravilhas que viram e condenar o futebol atual (como se Pelé não tivesse chutado, por exemplo, uma bola na lua na final da Copa de 70).
O que eles dirão da eleição que a Uefa está fazendo em seu 50º aniversário com os 50 melhores jogadores europeus da história?
Kahn é o 30º melhor atleta do velho continente em todos os tempos, com 58.151 votos. O 29º melhor, com 62.375 votos, foi Sepp Maier, o goleiro alemão campeão mundial de 1974. Antes do "frango" de terça-feira, parecia haver um abismo entre os dois. Curiosamente, na semana que passou, eles ficaram oficialmente quase no mesmo patamar pela Uefa.
A eleição foi mais bem feita do que a organizada pela Fifa que apontou na internet Maradona como melhor do século, mas colocou entre os Top 50 nomes que os mais antigos, como Zagallo, terão alguma dificuldade para engolir (como um churrasco ruim): Camacho, Costacurta, Schuster...

O gol de Ronaldinho
Ele finalizou duas vezes muito bem, mas a zaga aliviou a bola de forma ridícula e dava para o goleirão Zaza ter espalmado.

O gol de Luis Fabiano
Ele chutou magistralmente, mas deu sorte na luta com os defensores.

O gol de Paredes
Ele abriu o placar para a sensação LDU, mas pegando o rebote de um pênalti que o veterano Aguinaga não conseguiu converter.

O gol de Coudet
Ele sim fez o gol mais bonito dos últimos dias, encobrindo com estilo o goleiro do Libertad, do Paraguai, nos 4 a 1 do River Plate.

E-mail: rbueno@folhasp.com.br


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