São Paulo, domingo, 29 de fevereiro de 2004

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

FUTEBOL

Estranha saída

TOSTÃO
COLUNISTA DA FOLHA

Qual foi o principal motivo, a gota d'água, da saída do Luxemburgo? Não foram incompatibilidade de idéias, princípios éticos ou outros problemas, como o atraso no pagamento de prêmios. Isso já estava combinado com o técnico e com os jogadores.
Dias atrás, Luxemburgo disse que faltava alegria, sintonia e que o ambiente não era o mesmo do ano passado. Alex confirmou os problemas. Técnico e jogadores não falam essas coisas à imprensa. Será que os dois já sabiam o que iria acontecer?
Se o técnico pediu para sair e voltou atrás, por que a diretoria resolveu demiti-lo? Luxemburgo enfatizou nas entrevistas que queria continuar no clube, resolver as divergências e que mudou de idéia após conversar com familiares e comissão técnica. Será manobra, de ambas as partes, para evitar pagamentos de multas por recisão de contrato?
Além dos problemas recentes, a relação do Luxemburgo com os clubes é sempre tumultuada. Os dirigentes reconhecem a sua competência, mas não toleram as suas condutas. O técnico quer mandar em tudo, até na diretoria.
Mesmo assim, por causa das brilhantes conquistas do ano passado e da disputa da Libertadores, esperava-se que o clube fizesse todos os esforços para manter o treinador. Certamente aconteceram outros fatos mais graves.

Brilho do Zé Roberto
O Bayern de Munique foi superior ao Real Madrid, e Zé Roberto foi o melhor da partida. Por que ele brilha pouco na seleção?
Darei explicações técnicas e táticas, o que não significa que sejam corretas e/ou fundamentais. É apenas a minha opinião. Mas isso posso ver e analisar. As coisas não vistas e não ditas são as mais importantes. Temos de aprender a enxergar melhor o que se pode ver e imaginar, deduzir o que não se pode. A vida se passa mais nas entrelinhas, na subjetividade do que na objetividade.
Zé Roberto é o jogador mais habilidoso do Bayern. Ele assume essa condição e inventa muito mais do que na seleção. Há atletas que só brilham quando são os únicos ou os melhores de suas equipes, principalmente se forem bons dribladores, como Zé Roberto. Ao lado de grandes craques deixam de fazer o que mais sabem. Na seleção, Zé Roberto é coadjuvante, um facilitador, como disse o Parreira. O autêntico craque é o que joga ainda melhor ao lado de outros craques.
O Bayern atua com dois volantes, um meia de cada lado e dois atacantes. Zé Roberto é meia-esquerda. Com freqüência ele está no campo do adversário, onde pode e deve driblar. A atual seleção brasileira atua com três no meio. Zé Roberto é mais volante do que meia. Joga mais no seu campo, onde não se deve driblar e nem conduzir a bola, que são as suas principais virtudes.
Não há na seleção um armador canhoto na reserva do Zé Roberto. Juninho Pernambucano e Renato são as opções, mas ficam tortos do lado esquerdo. O canhoto Edu, que está jogando muito bem no Arsenal, poderá se tornar o substituto procurado.
Mas Edu não tem a a velocidade e a habilidade do Zé Roberto. O Bayern e o Arsenal jogam no mesmo esquema tático, porém os dois atuam em posições diferentes. Edu é volante, reserva do Gilberto Silva e do Vieira, e atua pelo meio. Zé Roberto é meia-esquerda e também avança pela ponta.
O esquema tático preferido pelo Parreira é o tradicional, o mesmo do Bayern e do Arsenal, com dois volantes, um meia de cada lado e dois atacantes. O Brasil atuou assim na Copa-94. A seleção atual joga diferente, com três no meio-campo e três no ataque porque o técnico quer aproveitar os excepcionais meias-atacantes. Ronaldinho, Kaká, Rivaldo e Alex teriam dificuldades em se adaptar à função de meias pelos lados, defendendo e atacando.
Parreira tem ótimas opções para os dois esquemas. Não é fácil ser treinador de uma equipe com tantos craques.

Caminho certo
O São Paulo só tem dois craques (Luis Fabiano e Rogério Ceni), não fez uma partida brilhante contra o Cobreloa, mas já é um time organizado, competitivo e com chances de ganhar a Libertadores. A equipe marca no meio-campo com muitos jogadores (Luis Fabiano é o único atacante fixo) e tem boas jogadas ofensivas pelos dois lados e pelo meio. O segundo gol do Luis Fabiano foi espetacular, tão bonito como os mais belos gols do Ronaldo no Real Madrid.

E-mail: tostao.folha@uol.com.br


Texto Anterior: Olimpíada: COI readmite Iraque, que irá para os Jogos de Atenas
Próximo Texto: Tênis: Chuva adia decisão na Costa do Sauípe
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.