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fiscalização
Dualib é sonegador, indica Promotoria
Ex-presidente e ex-vice Nesi Curi não declararam cerca de R$ 7,5 milhões, relata investigação do Deic sobre notas frias
Ex-dirigentes e mais três envolvidos são denunciados pelo Ministério Público Estadual por estelionato
e formação de quadrilha
RICARDO PERRONE
DO PAINEL FC
EDUARDO ARRUDA
PAULO GALDIERI
DA REPORTAGEM LOCAL
O Ministério Público de São
Paulo acusa Alberto Dualib, ex-presidente do Corinthians, e
Nesi Curi, ex-vice do clube, de
movimentarem cerca de R$ 9,1
milhões em suas contas entre
2002 e 2005. Desse montante,
cerca de R$ 7,5 milhões não teriam sido declarados à Receita.
Os números fazem parte da
denúncia feita ontem pelo Gaeco, após investigação do Deic
(Departamento de Investigação sobre o Crime Organizado)
da Polícia Civil. E reforçam a
tese de que os valores desviados
são superiores aos já comprovados pela Promotoria.
Dualib e Nesi, além de Juraci
Benedito, Marcos Roberto Fernandes e Daniel Espíndola, foram denunciados por formação
de quadrilha e estelionato.
A suposta sonegação fiscal foi
informada pelo Gaeco à Receita
Federal, que já a investiga. E
não consta da denúncia por ser
crime federal. O grupo que atua
na repressão ao crime organizado pediu à Justiça que abra
inquérito policial para apurar
sonegação fiscal estadual.
Pela acusação da Promotoria, os dirigentes usavam notas
frias para desviar dinheiro do
clube para seus bolsos.
O desvio comprovado foi de
R$ 1,43 milhão, com base em
264 notas apreendidas. Mas
testemunhas estimaram em
cerca de R$ 5 milhões o rombo
durante três anos.
A alegação para esse valor é a
de que, segundo declarações de
Fernandes, eram gastos R$ 150
mil por mês com "remuneração". Multiplicando-se esse valor por 36 meses chega-se à soma de R$ 5,4 milhões.
"Em juízo pode ser apurado o
que as testemunhas afirmam",
disse o promotor do Gaeco José
Reinaldo Carneiro Bastos.
Segundo a investigação, o esquema, que funcionou de janeiro de 2002 a janeiro de 2007,
foi feito por meio de quatro empresas - NBL, CSC, Angulus-Ware e Tecnosys.
Juraci Benedito era dono de
duas das empresas (NBL e
CSC) e geria as outras, pela denúncia. Ainda segundo a Promotoria, ele mandava e-mails
para seus clientes e escrevia
"compra de notas frias" no espaço reservado ao assunto.
Benedito emitia as notas
frias para Marcos Fernandes,
então controlador financeiro
do clube. Ele lançava as despesas e autorizava o pagamento
de serviços jamais executados.
Dualib e Nesi assinavam os
cheques. Espíndola, diretor de
recursos humanos do Corinthians à época, dava o aspecto
de legalidade ao esquema.
Segundo a denúncia, as notas
eram preenchidas pela mesma
pessoa, apesar de serem empresas diferentes.
O dinheiro desviado, segundo a investigação, era repartido
entre os cinco denunciados.
As movimentações financeiras de Dualib (R$ 7,5 milhões e
pouco mais de R$ 1 milhão declarados) e Nesi (R$ 1,6 milhão
e cerca de R$ 100 mil declarados) podem indicar que o esquema desviou mais do que R$
1,4 milhão. Benedito declarou,
entre 2002 e 2005, pouco menos de R$ 2 milhões e movimentou cerca de R$ 15 milhões.
Fernandes informou à Receita rendimentos de R$ 600 mil,
entre 2003 e 2005, mas movimentou o dobro desse valor.
O presidente corintiano, Andres Sanchez, afirmou que o valor desviado é "incalculável"
porque muitos serviços foram
feitos, mas superfaturados.
A denúncia diz ainda que
Dualib, para "supervisionar a
quadrilha", instalou, em vários
departamentos do clube, câmeras embutidas em tomadas elétricas e sensores de presença.
José Luiz Toloza, advogado
de Dualib e Nesi, disse apenas
que seus clientes se recusaram
a falar na polícia. "A delegada
não nos deixou examinar o inquérito. Por isso, eles irão depor só em juízo", falou.
"Havia uma animosidade entre nós e esse promotor. Ele
sempre quis nos denunciar e
não ouvia nossos argumentos.
Num certo sentido é até melhor
que vá para o juiz, pessoa mais
ponderada", declarou Nesi.
A Receita não comenta o caso
em razão do sigilo fiscal. Os denunciados podem ser multados
sobre os valores não declarados
em 27,5% da alíquota do Imposto de Renda, mais juros.
Fernandes, Espíndola e Benedito não foram encontrados.
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