São Paulo, domingo, 29 de março de 2009

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PAULO VINICIUS COELHO

O outro lado do êxodo


O Brasil é hoje o paraíso do perna de pau latino, e, a cada convocação de um atleta de seu clube, resta xingar a CBF


HOUVE UM TEMPO em que os garotos chegavam à escola felizes a cada convocação da seleção brasileira. Contavam o número de jogadores de seu clube chamados para representar o país. Se seu time tinha mais selecionados, era o melhor. Miranda foi chamado para a seleção que enfrenta hoje o Equador. Desfalcou o São Paulo contra o Noroeste e o Palmeiras e será ausência também contra o Guaratinguetá. Hoje, a cada convocação, um torcedor em algum lugar do país maldiz a seleção brasileira.
O Brasil é o único país no mundo onde o futebol doméstico não para nas datas reservadas para jogos de seleções nacionais. Problema para quem tem jogadores convocados por Dunga, mas também para quem importa talentos da América do Sul.
Chamado para as partidas da Colômbia contra Bolívia e Venezuela, Armero desfalcou o Palmeiras contra o São Paulo. O gerente de futebol do clube, Toninho Cecílio, não tentou a liberação. Sabe da obrigação de ceder o lateral para competições oficiais. "Quando o contratamos, já sabíamos que ficaríamos sem ele nesta época", diz. "Como é data Fifa, não tem problema", completa.
Ops... Mas, quando o calendário internacional marca amistosos de seleções, também é data Fifa. E, nesse caso, Toninho conta que tenta a liberação, nem sempre com sucesso. "Na época do Valdivia, era difícil negociar com a federação chilena." É claro. A Fifa também manda liberar atletas nas datas reservadas a amistosos. Os clubes brasileiros mal percebem isso, como demonstra a declaração de Toninho. Pensam que o erro é a intransigência das seleções sul-americanas. O pecado mortal é do calendário brasileiro.
Você pode preferir ver São Paulo x Palmeiras, ou Fluminense x Botafogo, a Equador x Brasil. Não importa. A Fifa reserva datas exclusivas para as seleções, exatamente para não desfalcar nenhum dos participantes de campeonatos domésticos. Palmeiras e Santo André são hoje os únicos clubes brasileiros a ceder atletas para as eliminatórias -o Santo André tem o boliviano Escobar. Até 2008, a invasão estrangeira era esperança de que os clubes brigassem pela paralisação dos campeonatos, ao menos nas eliminatórias. Se Dunga só chama Miranda e Kléber, seria preciso que outros técnicos inundassem as seleções sul- -americanas com quem joga por aqui para os clubes peitarem a CBF.
Mas a febre de craques latinos diminuiu. No ano passado, eram convocados Valdivia, do Palmeiras, Reasco, do São Paulo, Gavilán, do Flamengo, Perea, do Grêmio, Castillo, do Botafogo... Volte um pouco mais de tempo, e o Corinthians era obrigado a abrir mão de Tevez e Mascherano, quando a Argentina jogava. Como o Brasil virou o paraíso do perna de pau latino, em vez de escala de sul-americanos antes da Europa, resta ao torcedor continuar xingando a CBF a cada convocação de um jogador de seu clube.

O reserva
Há um mês, discutiu-se aqui a situação de Ronaldinho. Há quatro anos, ele arrebentou no Beira-Rio, contra o Paraguai. Que a viagem a Quito e o jogo em sua Porto Alegre façam renascer o craque, sombra do que já foi. Nem o Milan reclama, quando precisa abrir mão dele.

pvc@uol.com.br


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