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entrevista
"Lá fora, nós somos vistos como artistas"
SÉRGIO RANGEL
ENVIADO ESPECIAL A TERESÓPOLIS
O goleiro Júlio César se
surpreendeu ao saber dos
seus números na seleção.
Titular desde o início da
era Dunga, o jogador da Inter
de Milão afirmou não ligar
para as marcas, mas garante
que quer vestir a camisa número 1 na Copa de 2010.
Em entrevista à Folha na
Granja Comary, o goleiro
disse que é visto como artista
na Europa, contou que não
pretende jogar mais em clubes do Brasil e defendeu o
trabalho de Dunga. "Quando
chego a um restaurante [na
Itália], as pessoas aplaudem", disse Júlio César, que
foi revelado no Flamengo.
FOLHA - Você já tem excelentes
números na seleção. Pensava
chegar tão longe?
JÚLIO CÉSAR - Nunca planejei
chegar a essa marca. Nunca
pensei em superar o Taffarel
e essas coisas que dizem. Na
minha vida, deixo as coisas
acontecerem. Não fico botando metas. Claro que ter
chegado a essa marca é muito legal e me deixa feliz. Mas
sempre penso pra frente. O
importante agora é jogar
contra o Equador. Se não fizer isso benfeito, posso colocar tudo a perder. Não ligo
muito para os números. O
objetivo é sempre jogar bem.
FOLHA - Você cresceu muito
com o Dunga na seleção. Chegou
a defender o time e responder ao
presidente Lula...
JÚLIO CÉSAR - Ele realmente
me deu muita confiança.
Sempre acreditou no meu
trabalho, e acho o seu trabalho excelente. Ganhamos
uma Copa América diante da
Argentina completa e estamos jogando bem. Sobre
aquilo [a resposta a Lula],
não quero falar. Já passou e
está tudo bem. Mas sou assim. Falo o que penso.
FOLHA - Qual é o seu objetivo na
seleção brasileira?
JÚLIO CÉSAR - Vivo dia após
dia. A minha meta é disputar
a próxima Copa. Depois disso, vamos ver o que acontece.
FOLHA - Existe a máxima de que
goleiro é louco. Você acha isso?
JÚLIO CÉSAR - Não. Sou um cara normal e bem calmo. Na
verdade, comecei como ala-
-esquerdo no futsal, mas
achava que cansava muito jogar na linha e fui para o gol.
FOLHA - Qual foi o goleiro que
você mais admirou?
JÚLIO CÉSAR - Gostava muito
do Taffarel [campeão da Copa-94]. Ele era seguro, tinha
boa colocação e sobriedade.
FOLHA - Você foi criticado no início na seleção. Muitos achavam
que você não estava no nível do
Rogério ou do Marcos. Como fez
para reverter isso?
JÚLIO CÉSAR - Passei por isso,
mas consegui superar com
tranquilidade. Acredito no
meu trabalho e tenho uma
autoconfiança forte. Sabia
que o tempo mostraria o
meu valor. As coisas sempre
aconteceram com naturalidade na minha vida.
FOLHA - Fora de campo, você
tem algum hobby?
JÚLIO CÉSAR - Gosto mesmo é
de ficar com o meu filho. Na
Itália, aprendi a jogar golfe e
gostei. O problema é que exige muito das minhas costas e
não posso abusar para não
comprometer a carreira.
FOLHA - Você pensa em voltar
ao Brasil?
JÚLIO CÉSAR - Penso em morar aqui, mas não em jogar.
Não posso dizer que nunca,
mas não tenho vontade. Eu
sempre joguei no Flamengo.
Vivi momentos felizes lá,
mas passei por coisas chatas.
O salário atrasava, a estrutura não era boa. Já na Inter, os
dirigentes pagam bem, a estrutura é excelente. A torcida
curte os jogadores e tem um
grande respeito. Lá fora, somos mais respeitados. Somos vistos como artistas.
Eles valorizam as jogadas.
FOLHA - E você? Você se vê como artista?
JÚLIO CÉSAR - Eu vivo isso.
Quando chego ao restaurante, as pessoas aplaudem. É
bem legal esse reconhecimento. Tenho contrato até
2012, mas vou renovar agora
na minha volta ao clube. Devo ficar até 2014, quando
quero encerrar a carreira.
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