São Paulo, domingo, 29 de março de 2009

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entrevista

"Lá fora, nós somos vistos como artistas"

SÉRGIO RANGEL
ENVIADO ESPECIAL A TERESÓPOLIS

O goleiro Júlio César se surpreendeu ao saber dos seus números na seleção.
Titular desde o início da era Dunga, o jogador da Inter de Milão afirmou não ligar para as marcas, mas garante que quer vestir a camisa número 1 na Copa de 2010. Em entrevista à Folha na Granja Comary, o goleiro disse que é visto como artista na Europa, contou que não pretende jogar mais em clubes do Brasil e defendeu o trabalho de Dunga. "Quando chego a um restaurante [na Itália], as pessoas aplaudem", disse Júlio César, que foi revelado no Flamengo.

 

FOLHA - Você já tem excelentes números na seleção. Pensava chegar tão longe?
JÚLIO CÉSAR
- Nunca planejei chegar a essa marca. Nunca pensei em superar o Taffarel e essas coisas que dizem. Na minha vida, deixo as coisas acontecerem. Não fico botando metas. Claro que ter chegado a essa marca é muito legal e me deixa feliz. Mas sempre penso pra frente. O importante agora é jogar contra o Equador. Se não fizer isso benfeito, posso colocar tudo a perder. Não ligo muito para os números. O objetivo é sempre jogar bem.

FOLHA - Você cresceu muito com o Dunga na seleção. Chegou a defender o time e responder ao presidente Lula...
JÚLIO CÉSAR
- Ele realmente me deu muita confiança. Sempre acreditou no meu trabalho, e acho o seu trabalho excelente. Ganhamos uma Copa América diante da Argentina completa e estamos jogando bem. Sobre aquilo [a resposta a Lula], não quero falar. Já passou e está tudo bem. Mas sou assim. Falo o que penso.

FOLHA - Qual é o seu objetivo na seleção brasileira?
JÚLIO CÉSAR
- Vivo dia após dia. A minha meta é disputar a próxima Copa. Depois disso, vamos ver o que acontece.

FOLHA - Existe a máxima de que goleiro é louco. Você acha isso?
JÚLIO CÉSAR
- Não. Sou um cara normal e bem calmo. Na verdade, comecei como ala- -esquerdo no futsal, mas achava que cansava muito jogar na linha e fui para o gol.

FOLHA - Qual foi o goleiro que você mais admirou?
JÚLIO CÉSAR
- Gostava muito do Taffarel [campeão da Copa-94]. Ele era seguro, tinha boa colocação e sobriedade.

FOLHA - Você foi criticado no início na seleção. Muitos achavam que você não estava no nível do Rogério ou do Marcos. Como fez para reverter isso?
JÚLIO CÉSAR
- Passei por isso, mas consegui superar com tranquilidade. Acredito no meu trabalho e tenho uma autoconfiança forte. Sabia que o tempo mostraria o meu valor. As coisas sempre aconteceram com naturalidade na minha vida.

FOLHA - Fora de campo, você tem algum hobby?
JÚLIO CÉSAR
- Gosto mesmo é de ficar com o meu filho. Na Itália, aprendi a jogar golfe e gostei. O problema é que exige muito das minhas costas e não posso abusar para não comprometer a carreira.

FOLHA - Você pensa em voltar ao Brasil?
JÚLIO CÉSAR
- Penso em morar aqui, mas não em jogar. Não posso dizer que nunca, mas não tenho vontade. Eu sempre joguei no Flamengo. Vivi momentos felizes lá, mas passei por coisas chatas. O salário atrasava, a estrutura não era boa. Já na Inter, os dirigentes pagam bem, a estrutura é excelente. A torcida curte os jogadores e tem um grande respeito. Lá fora, somos mais respeitados. Somos vistos como artistas. Eles valorizam as jogadas.

FOLHA - E você? Você se vê como artista?
JÚLIO CÉSAR
- Eu vivo isso. Quando chego ao restaurante, as pessoas aplaudem. É bem legal esse reconhecimento. Tenho contrato até 2012, mas vou renovar agora na minha volta ao clube. Devo ficar até 2014, quando quero encerrar a carreira.


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