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FUTEBOL
Viva Grafite!
MÁRIO MAGALHÃES
COLUNISTA DA FOLHA
Chego de viagem e entro
atrasado na conversa, mas se
trata mais de falar do futuro do
que do passado.
O que fez histórica a noite de 13
de abril não foi a prisão de Leandro Desábato, mas a atitude de
Grafite ao denunciá-lo.
São ainda nebulosos os fatos do
Morumbi. Grafite diz que ouviu
manifestações rasteiras de racismo. Desábato assegura que não
as pronunciou. A dita leitura labial não reconheceu os palavrões
descritos pelo são-paulino. O que
não significa que o jogador do
Quilmes não os tenha vomitado
em momento não documentado
pelas câmeras.
O zagueiro amargou duas noites de cana sem culpa comprovada. Muito pior, foi submetido à
ignóbil humilhação das algemas.
Avolumam-se indícios de que
cartolas tenham incentivado o
atacante a apresentar queixa. E
de fato houve espetacularização
(êta palavrinha) do episódio.
A despeito de todos os senões
-o mais grave foi tratar como
culpado quem é apenas suspeito-, se sobressai a decisão de
Grafite. "Negro de merda" e "negrito" não são meras provocações
do futebol, mas expressam preconceito racial inaceitável em sociedades que se pretendem civilizadas.
A questão pontual é saber o que
Desábato disse. Há versões divergentes. No limite, na dúvida, pró-réu. A discussão de fundo é outra:
seria o futebol um espaço de relações tão particulares no qual se
tornariam "naturais" os comportamentos humanos mais abjetos?
Se Pelé, em vez de responder
apenas "dentro de campo" aos
xingamentos racistas dos adversários, tivesse adotado uma única
vez a postura de Grafite, o futebol
seria melhor. E teria, pelo exemplo, feito melhor e menos desigual
o Brasil. Grafite teve a coragem
que faltou a Pelé.
Querer que a punição por racismo se restrinja à Justiça desportiva equivale a considerar socialmente inimputáveis os futebolistas. Assassinato na cancha só custaria o gancho de alguns jogos.
Mesmo que o atacante recue da
queixa, o que passou não se apaga. Seu gesto golpeou a relativização do racismo no futebol. Quando se brinda um oponente com
um "filho da puta", não se diz que
Dona Fulana, a progenitora do
rival, está na vida. Há juízo de valor sobre donzelas, é verdade. Mas
não é pessoal como "negro de
merda". Isso só se fala a quem
não tem a pele alva preferida por
alguns cretinos.
O futebol precisava de um 13 de
abril. Poderia envolver só brasileiros, e não um argentino, pois
não faltam situações semelhantes
com atletas nacionais. Nem torcedor bandido como o que anteontem, no Pacaembu, atirou uma
banana com a inscrição "Grafite
macaco".
É irônico que o protagonista seja um jogador que se orgulhe do
apelido derivado da sua cor. Edinaldo Batista Libânio tem levado
bordoadas desde que disse "chega". Não é à toa. Ele considerou
intolerável o que muitos toleram.
Sua ação fala ao futuro. Bom será
se o futebol e o Brasil aprenderem
com Grafite.
Festa legal
Não sei se a idéia foi da CBF, de
Parreira ou da TV Globo, que
celebrou seus 40 anos com o
amistoso. Mas foi muito, muito
legal homenagear Romário
com uma despedida da seleção.
Seria melhor contra um time de
expressão, e não contra a Guatemala? Evidente. Mesmo assim, foi emocionante assistir a
Romário ao lado de Robinho.
Em um dos estádios mais bacanas do mundo, e com um público mais bacana ainda. O espectro das vaias se transformou
numa aclamação antológica.
Romário retribuiu com um gol
e deu lugar a Grafite, o melhor
da partida. Que país do mundo
conseguiria despedir-se de um
craque como Romário ao mesmo tempo em que testemunha
o nascimento de um gênio como Robinho?
E-mail
mario.magalhaes@uol.com.br
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