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SONINHA
Não são biônicos
Por mais ricos que estejam, jogadores não são infalíveis, onipotentes ou inesgotáveis;
Kaká é um belo exemplo
NAS ÚLTIMAS semanas, Kaká
foi o jogador "estrangeiro"
(brasileiro no exterior) mais
comentado por aqui. Primeiro (2/5)
por ter se saído melhor do que Cristiano Ronaldo, destaque da temporada, na semifinal da Copa dos Campeões. Depois (11/5) porque pediu
dispensa da seleção que disputará a
Copa América, alegando cansaço.
Em seguida (17/5) Kaká foi convocado para os amistosos contra Inglaterra e Turquia. No capítulo mais recente (23/5), o jogador revelado pelo São Paulo foi artilheiro e campeão
daquele que é o principal torneio de
clubes da Europa (e, reconheçamos,
do mundo).
Por partes: Kaká foi decisivo para
que o Milan derrotasse o Manchester de Ronaldo. Mas esse jogo não
pode ser a "prova" de que o jovem
português (de 22 anos!) é uma farsa,
"amarelão", puro marketing ou outras bobagens que as pessoas dizem
quando se decepcionam com alguém -muitas vezes, por excesso de
expectativa...
Cristiano Ronaldo é um grande jogador. Um pouco mascarado, ainda
imaturo? Possivelmente. Mas Kaká
também já foi considerado um "fracasso"... E ainda seria se uma bola
não batesse em Inzaghi e entrasse, e
ele não acertasse a outra no gol. Tivesse o Milan perdido para o Liverpool, não faltaria quem dissesse que
Kaká "não está nem aí para o futebol", que "não é tudo isso", ou que
"afina na hora H". Em várias ocasiões, no São Paulo, o meia foi o melhor do time, talvez até o melhor em
campo, mas não saiu com vitória e
teve de ouvir comentários do tipo
"mais uma vez, sumiu na partida".
Proferidos, às vezes, por quem não
viu o jogo e apenas analisou grosseiramente as estatísticas ou as imagens dos melhores momentos.
Ao se queixar da falta de descanso
nos últimos anos, Kaká foi alvo de
ataques outra vez, junto com Ronaldinho Gaúcho. Mascarado, acomodado, "pensa que está garantido?",
antipatriota. Como se tirar férias todo ano fosse um luxo a mais na vida
de quem já tem tudo. Por mais ricos
que estejam, jogadores de futebol ficam exaustos. Dinheiro não os torna
invulneráveis, biônicos. Não há fortuna que substitua um período de
distância do trabalho (treinos, jogos,
mídia) e de convivência tranqüila
com a família, longe das pressões
que apenas imaginamos. O torcedor
se envolve emocionalmente com
uma partida, sofre, grita, pode até ficar abalado por horas ou dias, mas
logo vai fazer outra coisa da vida.
O jogador fica sendo quem é o
tempo todo. O que errou o chute, o
que não conseguiu acompanhar o
adversário, o que sofreu a falta dura
e sente dor.
Não adianta comparar obrigação e
lazer, por mais que o trabalho seja
legal. Nos meus tempos de MTV, várias vezes me arrastei até um show a
que precisava assistir quando o que
mais queria era ir para casa dormir.
Às vezes música cansava tanto que
eu ficava incomodada com qualquer
som ligado, mesmo que fosse minha
banda favorita. Jogar na várzea é
bom, mas quem gostaria de ser obrigado a (e cobrado por) isso?
Até outro dia, Kaká e Ronaldinho
eram "dispensáveis". Agora querem
contar com eles de qualquer jeito?
Eu só os quero inteiros, tinindo, no
auge do vigor físico e técnico. Que façam boa apresentação contra Turquia e Inglaterra e voltem depois.
soninha.folha@uol.com.br
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