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Candidatas usam maquiagem verde
Pleiteantes à Copa de 2014 do Norte e do Centro-Oeste exaltam valores ambientais em campanhas e ocultam problemas
Belém e Cuiabá são capitais dos Estados que, juntos, foram responsáveis por 70% do devastação da Amazônia brasileira no ano passado
DA AGÊNCIA FOLHA, EM MANAUS, EM
BELÉM E EM CUIABÁ
Desde a confirmação do Brasil como sede da Copa de 2014,
em outubro de 2007, algumas
cidades do Norte e do Centro-
-Oeste tentam associar suas
candidaturas a aspectos relacionados ao ambiente. Em alguns casos, entretanto, a propaganda verde não corresponde à realidade ambiental.
Capitais dos Estados líderes
em desmatamento da Amazônia brasileira, Belém (PA) e
Cuiabá (MT) são as que apresentam realidades mais distantes da alardeada "Copa Verde".
A capital paraense, que disputa com Manaus e Rio Branco
a sede amazônica do Mundial,
tenta fazer com que a devastação já perpetrada na região seja
esquecida. Em material publicitário do governo do Estado
para a Copa, cita-se que "Belém
é cidade verde" e que "verde é o
que não falta no Pará".
Mas, na região metropolitana de Belém, a quantidade de
metro quadrado de floresta per
capita caiu de 211 para 176 de
2001 a 2006, diz estudo do
Imazon (Instituto do Homem e
Meio Ambiente da Amazônia).
Além disso, o Estado liderou
o ranking de desmatamento da
Amazônia em 2008 por ter devastado uma área superior a
três vezes o tamanho do município de São Paulo.
Para o governo paraense, o
importante são as tentativas de
brecar a destruição da mata.
"Temos mapeadas diversas
ações que estão em andamento,
como as criações de unidades
de conservação, as ações de
controle ambiental e a gestão
integrada de resíduos sólidos",
enumera Lucia Penedo, coordenadora do comitê de candidatura da Copa em Belém.
"Queremos mostrar que somos
o portal da Amazônia."
Já Manaus argumenta que
tem mais de 90% de sua cobertura vegetal preservada. Nos últimos seis anos, a taxa de desmatamento na região caiu
69,2%, de acordo com o Ibama
(Instituto Brasileiro do Meio
Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis).
"Tem muito mais floresta em
Manaus do que em Belém e em
Cuiabá. Agora, tudo depende
da BR-319 [rodovia que liga
Manaus a Porto Velho]. É totalmente inconsistente essa postura [de se vender ecologicamente] com a abertura dessa
estrada", afirma Philip Fearnside, do Inpa (Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia).
No trajeto da BR-319, cuja
pavimentação será bancada pelo governo federal, está uma
das maiores concentrações de
biodiversidade da Amazônia.
Pesquisas demonstram que rodovias amazônicas tendem a
desmatar faixas de até 30 km
em ambas as margens.
O governador do Amazonas,
Eduardo Braga (PMDB), já defendeu que se construa ali uma
ferrovia, menos nociva.
Entre as cidades candidatas à
Copa na Amazônia, Rio Branco
(AC) é a capital do Estado com
menor índice de desmatamento da floresta. A capital acriana
se remete à imagem do ícone da
luta ambiental Chico Mendes,
assassinado há 20 anos, para
celebrar sua campanha.
Usando também slogans ambientais, Mato Grosso e Mato
Grosso do Sul têm o Pantanal
como esperança para convencer a Fifa a escolher Cuiabá ou
Campo Grande como sede.
Nas campanhas publicitárias, o mote da "Copa no Pantanal" cobriu as duas cidades com
fotografias de tuiuius, araras e
peixes da região.
Para entidades ambientalistas dos dois Estados, como a
Ecoa (Ecologia e Ação) e a
Remtea (Rede Mato-grossense
de Educação Ambiental), no
entanto, a realidade das políticas públicas para o bioma não
se encaixa na imagem descrita
pelos materiais de divulgação
das candidaturas.
O prefeito de Campo Grande,
Nelson Trad (PMDB), diz que o
Estado é "exemplo de desenvolvimento sustentável".
No caso de Mato Grosso, a
campanha de sua capital Cuiabá, que é baseada no slogan "A
Copa do Pantanal", ainda oculta o fato de que o Estado é o segundo maior desmatador da
Amazônia segundo dados do
Inpe (Instituto Nacional de
Pesquisas Espaciais) de 2008.
O governo do Estado, no entanto, diz que tem conseguido
reverter as taxas de desmatamento. Desde 2004, a devastação vem caindo em Mato Grosso, mas, em 2008, ainda se
manteve alta, o correspondente a dois municípios de São
Paulo.0
(JOÃO CARLOS MAGALHÃES, KÁTIA BRASIL E RODRIGO VARGAS)
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