São Paulo, quinta-feira, 29 de junho de 2006

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Portugal vai à guerra e acerta o Brasil

Nicolas Asfouri/France Presse
Portugueses dão "surra' no atacante Boa Morte, que chegou atrasado ao treinamento de ontem


Atacante Pauleta reclama de tablóide inglês, que lhe atribuiu crítica ao goleiro Robinson, e assessor limita mídia rival

Jogador também critica comentários de Parreira sobre violência lusa e diz que a seleção brasileira é favorecida pela arbitragem


CLÓVIS ROSSI
ENVIADO ESPECIAL A MARIENFELD

Seja pelo espírito de cruzada com que Luiz Felipe Scolari prepara suas equipes, seja por mero acaso, o fato é que a seleção de Portugal entrou em clima de combate para o jogo de sábado contra a Inglaterra. E sobraram tiros para o Brasil.
O centroavante Pauleta começou reclamando do fato de que "futebol, infelizmente, não se joga só no campo", em alusão a uma suposta (ou real) pressão da mídia inglesa, que teria "fabricado" entrevista em que ele diz que o goleiro inglês Robinson é o "elo fraco" do time.
Mas Pauleta estendeu a pressão (suposta ou real) também ao Brasil. Quando a Folha quis saber a que se referia especificamente, o centroavante criticou o técnico Carlos Alberto Parreira por seus comentários sobre a violência de Portugal x Holanda, ecoando queixas feitas na véspera pelo meia Deco.
"Há equipes que são mais beneficiadas e respeitadas [pelas arbitragens], e o Brasil é uma delas", disparou o atacante, que joga no Paris Saint-Germain.
O modo de combate foi acentuado também pelo porta-voz da seleção, Afonso Melo, que, durante a entrevista coletiva dos jogadores Pauleta e Nuno Valente, fez questão de apresentar a "preocupação" da federação portuguesa com declarações atribuídas ao árbitro Valentin Ivanov (o da partida contra a Holanda, recorde de cartões em Copas), consideradas de "extrema gravidade".
Em entrevista (suposta ou real) a um jornal russo, Ivanov teria dito que já esperava de Portugal um futebol rude e violento. Tanto o porta-voz como os dois jogadores lembraram que nos três anos e meio da gestão Scolari à frente do futebol português, a seleção não recebera um único cartão vermelho (os dois primeiros foram justamente contra a Holanda).
A "preocupação" com a entrevista de Ivanov é uma espécie de habeas corpus preventivo ante o ambiente belicoso que vai cercando Portugal x Inglaterra: deixar consolidar-se a imagem de que o futebol português é violento seria um convite a que o árbitro da próxima partida (ou das próximas, se Portugal vencer) visse em cada falta uma agressão e distribuísse cartões com a generosidade com que o fez o russo.
Nuno Valente chegou a lembrar que Portugal cometera apenas dez faltas no jogo com os holandeses, mas, não obstante, tomou nove cartões (confere com o boletim oficial da Fifa sobre a partida).
Pauleta bateu na mesma tecla: criticou o que chamou de exagero dos árbitros (em geral) nos cartões amarelos, "devido à pressão da Fifa a respeito, ao anunciar que os que errarem voltam para casa".
A palavra pressão foi igualmente usada por Nuno Valente, para dizer que, como conseqüência dela, o juiz "não teve o controle do jogo".
Mas pressão mesmo é a da mídia inglesa, segundo a queixa dos portugueses. O jornal "The Sun" publicou entrevista de Pauleta em que ele critica o goleiro Robinson, entrevista essa que o assessor de imprensa classificou, em português, de "fabricada" e, na tradução para o inglês, de "fake" (falsa).
"É injusto, insuportável e absurdo", disparou Melo, falando em inglês e avisando que, "se esse é o respeito que dão a Portugal, daremos à mídia inglesa o mesmo tratamento".
E limitou a três as perguntas a que teriam direito os jornalistas ingleses, maioria entre os estrangeiros presentes.
Para os jogadores da Inglaterra, no entanto, os portugueses reservaram respeito até exagerado em relação ao futebol que o time vem jogando.
Pauleta: "É uma das melhores equipes deste Mundial".
Nuno Valente: "É uma seleção perigosa e muito experiente. Pode não jogar um futebol bonito, mas é eficaz".
Respeito à parte, o ambiente de cruzada voltou quando um jornalista húngaro quis saber se Portugal temia a Inglaterra.
"Não temos medo de ninguém. Se você soubesse um pouco mais da história de Portugal, saberia que Portugal não tem medo", disparou Pauleta.


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