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José Geraldo Couto
Nunca está bom
Não surpreende a torcida cobrar a seleção, e sim ficar inerte sobre o país
FOI MEU amigo Mauricio Stycer, editor
da revista "Carta
Capital", quem chamou
minha atenção: "Já reparou como somos exigentes
com a seleção brasileira?
Vencemos as quatro primeiras partidas, e, mesmo
assim, ninguém está satisfeito".
É a pura verdade. Existe
um contraste entre o oba-oba da TV e o sentimento
de insatisfação dos torcedores com a equipe de
Parreira. Isso se vê (ou se
ouve) nas ruas das cidades
brasileiras e também nos
estádios alemães.
Você já viu uma torcida
menos entusiasmada e solidária com seu time do
que a brasileira? As outras
seleções podem estar empatando a duras penas, podem estar ganhando feio,
podem estar até perdendo, e as suas torcidas estão
lá, cantando hinos, entoando gritos de guerra,
apoiando, incentivando. A
do Brasil parece se manifestar só na hora do gol e
quase que por obrigação.
Isso quando não vaia.
Para nós, nada está bom.
Ganhar de pouco é ultrajante, fazer gol feio ofende.
E sempre brandimos a
ameaça: se o próximo rival
jogar um pouco melhor
que o anterior, adeus.
Não me entenda mal.
Sou um dos primeiros a falar mal de nossas atuações, a cobrar um futebol
mais solto e bonito. Estamos aqui para isso.
Mas não deixa de ser interessante pensar nisso: o
brasileiro, que convive
mais ou menos passivamente com a humilhante
concentração de renda,
com a escandalosa corrupção, com a alarmante
violência, com o precário
saneamento básico, com
ônibus lotados, filas em
hospitais, falta de moradia
e uma infindável série de
etc, não tolera uma exibição medíocre da sua seleção de futebol.
Por que acontece isso?
Talvez porque no futebol,
a despeito de nossas grandes realizações (cinco Copas não são pouca coisa),
fique mais claro que em
qualquer outro departamento que poderíamos ir
ainda mais longe.
Esse alto grau de exigência não é estranho. Estranha é a aceitação passiva
de tudo o mais que nos
cerca. Nas outras modalidades da vida, não passaríamos das eliminatórias.
jgcouto@uol.com.br
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