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astro rei
Cauê vira alvo de protestos anti-Pan
Ofensiva liderada por entidade de camelôs usa mascote em faixas que aludem a gasto excessivo e repressão à classe
Solzinho é representado ao lado de armas, favelas e fardado; "Queremos usá-lo para mostrar o outro lado da história", diz coordenadora
SÉRGIO RANGEL
DA SUCURSAL DO RIO
Mascote dos Jogos, Cauê virou também símbolo anti-Pan.
O boneco é o principal alvo dos
críticos da competição que começa no dia 13, no Maracanã.
Vários desenhos da mascote
estão espalhados pelo centro da
cidade para protestar contra o
alto custo do evento e as ações
da prefeitura. Os protestos com
o símbolo do Pan unem de entidade filiadas a centrais sindicais até grafiteiros anônimos.
O Muca (Movimento de
União dos Camelôs) é o principal articulador da ofensiva para
""arranhar a imagem do símbolo dos Jogos". ""Queremos destruir esta versão do Cauê bonzinho e utilizá-lo para mostrar
o outro lado da história", disse a
coordenadora do Muca, Maria
de Lourdes do Carmo.
A entidade pendurou longas
bandeiras com Cauê estilizado
na fachada de um prédio ocupado na rua Primeiro de Março,
uma das mais movimentadas
do centro do Rio.
Em uma delas, a mascote
aparece de guarda municipal e
a frase estampada: ""Cauê espanca e prende camelôs".
Na outra, o boneco é desenhado próximo a uma favela.
Nesta, está escrito: ""Essa é a vila olímpica do povo".
Mais três faixas anti-Cauê foram penduradas no antigo prédio do Instituto Brasileiro do
Café, que foi ocupado por 90 famílias há duas semanas.
""Estamos usando as armas
deles. O nosso objetivo é mostrar para o povo que por trás do
Cauê tem muita repressão e dinheiro perdido. Por causa do
Pan, centenas de camelôs que
têm licença estão sem trabalhar. A prefeitura já isolou uma
série de áreas. Já fomos expulsos da rodoviária, do largo da
Carioca, da feira de São Cristóvão. A cidade não pode gastar
tanto dinheiro assim", disse
Maria, que criou o Muca após
ser espancada há quatro anos
por guardas municipais 15 dias
depois de ter o seu filho, que
também tem o nome de Cauê.
"Essa é mais uma ironia da
vida, mas o meu Cauê é um anjo", acrescentou a coordenadora do movimento.
A ação tem o apoio de outras
entidades. ""Somos sempre favoráveis a manifestações que
mostrem o outro lado do Pan,
como os gastos. O que não
aprovamos é quando os atos
descambam para a violência",
disse Bruno Lopes, coordenador do Comitê Social do Pan.
A entidade reúne membros
do Fórum Popular do Orçamento do Rio, do Fórum Popular de Acompanhamento do
Plano Diretor do Rio, pesquisadores do Instituto Virtual dos
Esportes e representantes de
associações de moradores.
O Pan custará ao menos R$
3,7 bilhões aos cofres municipal, estadual e federal -800%
mais que a previsão de 2002.
Grafiteiros também entraram na onda de criticar o Pan
satirizando Cauê. Vários grafites da mascote segurando uma
metralhadora foram pintados
em cima de muros e anúncios,
no centro do Rio.
""Claro que é um protesto
contra o Pan. Este deve ser o
"Pan-Demônio" ou o Caô [gíria
para mentira usada no Rio]",
disse o contador Miro Delgado,
31, um dos que observavam um
dos grafites do Cauê armado.
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