São Paulo, sexta-feira, 29 de junho de 2007

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astro rei

Cauê vira alvo de protestos anti-Pan

Ofensiva liderada por entidade de camelôs usa mascote em faixas que aludem a gasto excessivo e repressão à classe

Solzinho é representado ao lado de armas, favelas e fardado; "Queremos usá-lo para mostrar o outro lado da história", diz coordenadora


SÉRGIO RANGEL
DA SUCURSAL DO RIO

Mascote dos Jogos, Cauê virou também símbolo anti-Pan. O boneco é o principal alvo dos críticos da competição que começa no dia 13, no Maracanã.
Vários desenhos da mascote estão espalhados pelo centro da cidade para protestar contra o alto custo do evento e as ações da prefeitura. Os protestos com o símbolo do Pan unem de entidade filiadas a centrais sindicais até grafiteiros anônimos.
O Muca (Movimento de União dos Camelôs) é o principal articulador da ofensiva para ""arranhar a imagem do símbolo dos Jogos". ""Queremos destruir esta versão do Cauê bonzinho e utilizá-lo para mostrar o outro lado da história", disse a coordenadora do Muca, Maria de Lourdes do Carmo.
A entidade pendurou longas bandeiras com Cauê estilizado na fachada de um prédio ocupado na rua Primeiro de Março, uma das mais movimentadas do centro do Rio.
Em uma delas, a mascote aparece de guarda municipal e a frase estampada: ""Cauê espanca e prende camelôs".
Na outra, o boneco é desenhado próximo a uma favela. Nesta, está escrito: ""Essa é a vila olímpica do povo".
Mais três faixas anti-Cauê foram penduradas no antigo prédio do Instituto Brasileiro do Café, que foi ocupado por 90 famílias há duas semanas.
""Estamos usando as armas deles. O nosso objetivo é mostrar para o povo que por trás do Cauê tem muita repressão e dinheiro perdido. Por causa do Pan, centenas de camelôs que têm licença estão sem trabalhar. A prefeitura já isolou uma série de áreas. Já fomos expulsos da rodoviária, do largo da Carioca, da feira de São Cristóvão. A cidade não pode gastar tanto dinheiro assim", disse Maria, que criou o Muca após ser espancada há quatro anos por guardas municipais 15 dias depois de ter o seu filho, que também tem o nome de Cauê.
"Essa é mais uma ironia da vida, mas o meu Cauê é um anjo", acrescentou a coordenadora do movimento.
A ação tem o apoio de outras entidades. ""Somos sempre favoráveis a manifestações que mostrem o outro lado do Pan, como os gastos. O que não aprovamos é quando os atos descambam para a violência", disse Bruno Lopes, coordenador do Comitê Social do Pan.
A entidade reúne membros do Fórum Popular do Orçamento do Rio, do Fórum Popular de Acompanhamento do Plano Diretor do Rio, pesquisadores do Instituto Virtual dos Esportes e representantes de associações de moradores.
O Pan custará ao menos R$ 3,7 bilhões aos cofres municipal, estadual e federal -800% mais que a previsão de 2002.
Grafiteiros também entraram na onda de criticar o Pan satirizando Cauê. Vários grafites da mascote segurando uma metralhadora foram pintados em cima de muros e anúncios, no centro do Rio.
""Claro que é um protesto contra o Pan. Este deve ser o "Pan-Demônio" ou o Caô [gíria para mentira usada no Rio]", disse o contador Miro Delgado, 31, um dos que observavam um dos grafites do Cauê armado.


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