São Paulo, domingo, 29 de junho de 2008

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"Dei paciência ao nosso futebol"

Campeão do mundo, técnico Vicente Feola diz que seu maior mérito foi mudar a cabeça dos jogadores

Treinador da seleção elege Pelé como homem-chave da conquista e lamenta a ausência do são-paulino Gino Orlando no escrete

DA REPORTAGEM LOCAL

Técnico que conduziu a seleção a seu primeiro título mundial, Vicente Feola disse, ainda na Suécia, que seu maior mérito à frente da equipe foi "dar paciência" ao jogador brasileiro para trabalhar a bola e buscar os gols com naturalidade. Após a goleada sobre os suecos, ele -muito contestado no ato de sua nomeação pela CBD- isolou-se nos vestiários e entregou-se a um festejo particular.

PERGUNTA - Qual o sentimento agora, com a taça nas mãos? De vingança após tantas críticas no Brasil?
VICENTE FEOLA
- De forma alguma, o sentimento é de dever cumprido. Quantas críticas injustas já foram feitas em nosso país? Quem trabalha bem não teme bordoadas. Vencemos. E vencemos merecidamente, fomos os melhores. Um por 11 e 11 por um, eles jogaram como verdadeiros campeões.

PERGUNTA - Muito se falou sobre as restrições aos jogadores na concentração, do espírito ditatorial...
FEOLA
- Que restrições? Pergunte a eles e veja que simplesmente elaboramos um manual de conduta sem imposições esdrúxulas. Desde meu primeiro dia na seleção, disse que, comigo, isso não seria a casa da sogra. Pedimos apenas disciplina.

PERGUNTA - E o elenco correspondeu à expectativa nesse quesito?
FEOLA
- Estou 100% satisfeito com o grupo. Houve colaboração, disciplina, respeito e vontade de ganhar. Tecnicamente, é verdade, tivemos altos e baixos. Mas nossos jogadores são cavalheiros e, ao mesmo tempo, grandes atletas. Nunca duvidei do nosso triunfo.

PERGUNTA - Qual foi o momento mais difícil da campanha do título?
FEOLA
- A estréia, contra a Áustria. Precisávamos começar com uma vitória e, apesar de dominados territorialmente, o fizemos com sobras [3 a 0]. Os austríacos tinham vários elementos estreantes que sentiram a condição de novatos.

PERGUNTA - Quem foi o jogador mais importante para o escrete na Copa do Mundo?
FEOLA
- Todo o quadro saiu do Brasil jogando uma enormidade. Aquela partida contra o Corinthians [a última antes do embarque para a Europa e que terminou com vitória do Brasil por 5 a 0, no Pacaembu] foi notável. Mas não posso deixar de citar Pelé, ele foi nosso homem-chave. É pena que Dida, não sei exatamente o porquê, não apresentou o mesmo rendimento dos treinos e jogos na fase de preparação no Brasil.

PERGUNTA - Qual o maior mérito de seu trabalho com a seleção no campeonato do mundo?
FEOLA
- O jogador brasileiro está acostumado a fazer gols rapidamente, não tem paciência para ir trabalhando o tento sem pressa. Essa foi a base do trabalho, dar essa paciência, essa condição de, bons passadores que somos, fazer a bola circular e chegar ao gol adversário.

PERGUNTA - O individualismo de alguns jogadores também o preocupava no começo da campanha...
FEOLA
- Muito. Tínhamos decidido pelo fim dos dribles improdutivos, queríamos objetividade. Só Garrincha, por sua característica única, teve liberdades que outros não tiveram.

PERGUNTA - O que foi mais difícil: dar paciência ao ataque para trabalhar os gols ou acertar a defesa?
FEOLA
- Foi a defesa que maiores preocupações causou, por causa dos buracos apresentados. Depois, quando iniciada a Copa, surpreendentemente tudo funcionou às mil maravilhas e chegamos às semifinais sem sofrer tentos. No final das contas, os rapazes fizeram um brilhante trabalho defensivo.

PERGUNTA - Você usou 33 jogadores durante a preparação e trouxe 22 para o Mundial. Sentiu falta de algum jogador que ficou no Brasil?
FEOLA
- Gino Orlando [do São Paulo] fez muita falta, seria de utilidade tremenda. Mas a prova de que ele não se recuperaria a tempo [estava contundido] é que até hoje está sem jogar.

PERGUNTA - Quais seus planos, o senhor pretende voltar a dirigir o São Paulo ou ficará na seleção?
FEOLA
- Pergunte ao presidente da CBD, João Havelange.


Respostas de Feola sobre a campanha de 1958, colhidas em pesquisa






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