São Paulo, domingo, 29 de junho de 2008

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Vítimas, suecos são fãs do Brasil

Vice-campeões mundiais há 50 anos falam com alegria da derrota na decisão e reverenciam o rival

Simonsson, autor do 2º gol sueco na final, e Parling, que se envolveu também no lance mágico de Pelé, dizem que fizeram muito em 58

RODRIGO BUENO
ENVIADO ESPECIAL A GOTEMBURGO, ESTOCOLMO E NORRKÖPING

Se no jogo mais importante de sua vida, você leva um humilhante chapéu e na seqüência sai um gol que praticamente define a derrota de seu time, você lamenta e se envergonha do lance por quanto tempo?
Gustavsson, 50 anos depois, ri e aplaude o famoso chapéu que a vida e Pelé lhe deram.
O defensor sueco, hoje com 80 anos, ainda impressiona pelo físico. Com cerca de 1,90 m e forte, tomou conta de um dos sofás de sua bela casa em Norrköping. Não parou de sorrir na entrevista para a Folha. Quando mais riu? Na hora de contar o mais belo gol da Copa-1958.
""Foi a primeira vez que vi aquilo [chapéu]. Fenomenal", diz ele, fazendo com a cabeça o gesto de acompanhar a bola o encobrindo. ""Fiquei procurando a bola. Pelé é fenômeno."
Gustavsson era um atleta experimentado, atuava no futebol italiano. ""Joguei na Atalanta de 1956 a 1961", diz ele, em bom italiano, como sua mulher, que também ri da ""tragédia" vivida pelo amado na final.
Medalhista de bronze na Olimpíada de 1952, o zagueirão disse que não havia de início uma preocupação especial com Pelé ou Garrincha, jogadores que infernizaram a Suécia.
""Sabíamos que o Brasil era muito forte, mais forte do que o nosso time. Tecnicamente, o Brasil era formidável. Todos os jogadores eram bons, não só Pelé e Garrincha", diz Gustavsson, que não se negou a tirar fotos com um boné na cabeça (não havia chapéu na casa) em alusão ao seu famoso lance.
Vez ou outra, ele ainda mantém contato com os outros jogadores suecos de 1958 que estão vivos -são oito, menos que os 13 brasileiros, até pelo fato de a Suécia ter uma equipe bem rodada em sua Copa. Durante a visita da Folha, ele teve contato telefônico com Parling, que vive na cidade de Forsbacka.
Parling participou do início do golaço de Pelé. Ele perdeu o equilíbrio quando o prodígio brasileiro dominou a bola no peito. Sobrecarregado por ajudar na marcação de Garrincha naquela partida, ele não conseguiu evitar que o ""Rei" desse o chapéu no colega e anotasse.
""Ele não teve tempo", brinca Birgit, a mulher de Gustavsson.
""O Pelé era jovem na Copa, 17 anos. Ele e Garrincha eram duros de marcar, tinham grande técnica. Foi maravilhoso o gol de Pelé encobrindo o Gustavsson", conta Parling, que já tinha 28 anos na Copa e atuava pela esquerda no meio -como Garrincha desequilibrava, foi recuado para ajudar a contê-lo.
""A Suécia tinha grandes jogadores naquela época, mas não imaginávamos que chegaríamos à final. Fizemos um grande jogo na semifinal contra a Alemanha. O Brasil tinha grandes jogadores e era favorito", falou Parling, que não ostenta a mesma saúde de Gustavsson.
Quem ainda está muito bem é Simonsson, um jovem craque em 1958. O autor do segundo gol dos anfitriões quase pôs fogo no jogo. ""Tinha 22 anos na Copa. Era o "Pelé da Suécia". Quando fiz o gol, ficou 4 a 2, e havia algum tempo para reação [faltavam dez minutos]. Tivemos duas chances para fazer 4 a 3. Seria outro jogo", garante ele, que vive em Gotemburgo.
Simonsson marcou quatro gols na Copa-58 e tem currículo invejável. Melhor jogador sueco de 1959, atuou no Real Madrid de Di Stéfano -fez 27 gols pela Suécia em 51 partidas.
Ficou amigo dos adversários da final. Veio até o Brasil no início dos anos 80 e visitou Nilton Santos e Garrincha. ""Foi a melhor Suécia da história, mas o Brasil jogou um grande futebol. Garrincha jogou muito aquela Copa, mas acho o Pelé o maior de todos. O público sueco gostou do jogo, gostou do Brasil."


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