São Paulo, terça-feira, 29 de junho de 2010

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XICO SÁ

Jogo sim, jogo não


Edgar aprecia a Holanda por nunca ter sido campeã mundial e, óbvio, por seus costumes liberais


AMIGO TORCEDOR, amigo secador, nem com o reforço do Mick Jagger, o corvo Edgar -um sucesso contra outras potências- pôde carimbar o casaco medieval by Alexandre Herchcovitch do Dunga.
Nem por milagre conseguiria nada ontem com o seu agouro, tamanha a diferença entre as duas equipes. Nem se fosse 300, 350, nem que fizesse parte do elenco inteiro de "Os Pássaros", a assombrosa película de Alfred Hitchcock. Não havia jeito.
Mas, enquanto o seu estimado cronista ainda se rendia em loas ao eficiente Brasil, a miserável criatura já se apegava a um rosário particularíssimo de crenças: "A seleção joga uma partida boa, outra ruim, acaba de jogar uma ótima, portanto...".
O agourento apela para qualquer arma em suas superstições. A sequência, porém, faz sentido: depois de jogar mal contra a Coreia do Norte, a seleção nacional fez uma grande partida contra a Costa do Marfim, empacou em um 0 a 0 horrível com Portugal e ontem retomou a decência ludopédica.
"Sendo assim...", corveja, "a próxima sexta pode ser a do "never more", caro Dunga". O Chico Bacon, seu parceiro de savana, abre uma brechinha no balcão repleto de garrafas e bate na madeira três vezes.
Além de ser do contra mesmo -herança comuno-cristã de torcer pelos menores times, como explicou outro dia o Marcelo Coelho, nesta Folha-, Edgar aprecia a Holanda por nunca ter sido campeã do mundo e, óbvio, pelos costumes liberais.
"E que seja aquele tipo de derrota com honra, com brios, que rende aplausos no estádio", ironiza o maldito corvo. "A mim pouco importa esse detalhe na história."
Não seria mesmo feio ou algum demérito da equipe dunguista cair diante da laranja. Pior seria perder a final para a Argentina de dom Diego Armando Maradona, creio, tentando entender a mentalidade dos fãs do Brasil -quem apenas seca perde de vez a compreensão do que se passa na cabeça de um torcedor de fato.
Em uma semana emocionante, e com regime parlamentar de apenas três dias de trabalho, mal podemos esperar a próxima sexta-feira. O Dunga, vestido de Herchcovitch ou em trajes mais humildes, terá definido o seu destino. Até lá, como dizia um título de um best-seller do velho J. M. Simmel, "Só o vento sabe a resposta".

xico.folha@uol.com.br


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